Quanto mais nos isolamos nas virtualidades das redes sociais e suas vertentes, mais deixamos de entender a vida em sociedade
Os jogos eletrônicos trouxeram um grau de imersão que levou as telas para o ambiente 3D. Uma decorrência desta nova realidade foi a mistura de elementos virtuais ao mundo real (introduzidas pela realidade aumentada), o que foi ainda mais aprimorado pela realidade mista, que mistura os elementos da realidade virtual com a realidade aumentada. É inegável que este avanço leve a vantagens para além do mundo dos games, com a possibilidade de aprendizagem em cirurgias virtuais e em operação de sistemas complexos.
No entanto, há uma outra realidade (a real) que vem sendo negligenciada e pode afetar todas as outras. Quanto mais nos isolamos nas virtualidades das redes sociais e suas vertentes, mais deixamos de entender a vida em sociedade e os impactos da indústria alimentando um modo de vida consumista que limita nossa própria existência.
A reversão dos danos da ação antrópica no ambiente vem se tornando cada vez mais improvável à medida em que nos isolamos em realidades confortavelmente virtuais. A pandemia pode ter sido o primeiro aviso do pior que nos aguarda. O uso abusivo de antibióticos na agricultura e na pecuária fortalece as formas mais resistentes de bactérias e a escassez de tratamentos convencionais põe em risco todo o nosso futuro. E mesmo mergulhados em um mar de miséria e fome, as pessoas continuam a pagar para dar passeios fora do planeta. Projetos levam rios de dinheiro para a inviável colonização de Marte e a vida humana na terra passa a valer tanto quanto as telas mostram em round six.
Entendo que é chegada a hora de direcionar todas a ferramentas tecnológicas para manter a possibilidade de vida das próximas gerações. O nível de “abestalhamento” e isolamento que chegamos é tão intenso que as pessoas esquecem o quão interligados estamos ou o quanto de veneno vem em cada coisa “agro pop” que se consome.
A hora é de se desconectar dos elogios e likes das redes sociais para construir uma rede de realidade real que pense o futuro do planeta com as ferramentas que a ciência e tecnologia nos oferece. Isso precisa acontecer agora, antes que as pessoas passem a acreditar que vacinas tragam o vírus da aids como efeito colateral ou qualquer outro absurdo jogado ao ar.
O relógio continua seus tic tacs rumo a um fim apocalíptico. E tudo isso construído como a reação de um planeta contra a espécie que conseguiu agredi-lo como nenhuma outra ousara fazer. E esta mesma espécie agora resolve se esconder atrás das telas iluminadas de seus joguinhos eletrônicos para fingir que tudo está normal, estranhamente normal.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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