Segundo texto da série que pretende mostrar e analisar os principais desafios do setor
Dando continuidade à nossa investigação com respeito a pesquisa pública centrada na indústria de alimentos, destacaremos três Estados do Nordeste: Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas. Avaliaremos as especificidades de cada estado, no tocante a oferta de conhecimentos técnico-científico produzidos por instituições universitárias e o grau de maturidade dos Grupos de Pesquisa localizados nas universidades públicas e institutos federais, que carregam em seus nomes a palavra-chave “alimentos”, observando as características de seus recursos humanos, da capacidade desses grupos de interagir com diversas instituições e, acima de tudo, com as empresas do setor de alimentos. Acreditamos que essa avaliação poderá ser bastante útil para a competitividade das micro e pequenas empresas do setor de alimentos. Para dar conta destes objetivos, utilizaremos as informações coletadas na Base de Dados Corrente do DGP-CNPq, em 26 de outubro de 2020.
Rio Grande do Norte
Conta com 8 Grupos de Pesquisa os quais desenvolveram competências especificas em ciência e tecnologia de alimentos, nutrição e medicina veterinária. Abrigam 32 Linhas de Pesquisa com aplicações nestas áreas de conhecimento e direcionadas à indústria de alimentos:
Uma constatação é que não há registro qualquer de interação destes grupos em redes de pesquisa. Exclusivamente três deles apresentam a realização de parcerias com instituições públicas: Universidades, Institutos Federais, Centro Nacional de Pesquisa de Agropecuária Tropical e Fundação de Apoio à Pesquisa. Essa constatação leva a um aspecto negativo, as interações entre esses grupos e empresas e com outros agentes do conhecimento são fracas e, consequentemente, dificulta a construção de um arranjo inovativo que daria suporte e apoio às micro e pequenas empresas do segmento de alimentos no Estado.
Quanto aos recursos humanos, os Grupos de Pesquisa mobilizam 70 doutores e 9 mestres. Entre eles, 5 Grupos de Pesquisa declaram a presença de técnicos no apoio as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), um total de 19 técnicos com qualificações diversas: ensino profissional de nível técnico, graduação, especialização, mestrado (acadêmico e profissional) e doutor. Não há registro de nenhum colaborador estrangeiro.
Outro aspecto que merece destaque é o número de colaboradores estudantes, em média, por grupo de pesquisa: aproximadamente 13 estudantes, com formação acadêmica distribuída entre a graduação, especialização, mestrado e doutorado. As informações coletadas, realça que um único grupo tem em seus quadros tão-somente estudantes da graduação, enquanto os 7 grupos restantes abrigam estudantes da graduação-mestrado-doutorado. Isto mostra uma capacidade razoável na condução da pesquisa por esses grupos no Estado do Rio Grande do Norte.
Paraíba
Agrega 11 Grupos de Pesquisa, entre estes, 10 grupos são especializados na área ciência e tecnologia de alimentos e, um único grupo é voltado para nutrição. Além disso, envolvem 50 linhas de pesquisa orientadas para indústria de alimentos:
Similar ao Estado do Rio Grande Norte, não se observa na Paraíba um capital social relativo à participação dos grupos em redes de pesquisa, não há nenhum registro dessa prática. Além disso, entre os 11 Grupos de Pesquisa levantados, menos da metade, em torno de 4 grupos, informaram que estabeleceram parcerias com universidades, institutos federais e com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Neste ponto, é importante acentuar que não foi observado nenhuma parceria com as empresas do setor produtivo, sobretudo as empresas de alimentos.
Com referência aos recursos humanos, estes 11 grupos localizados na Paraíba movimentam 93 doutores e 24 mestres em seus quadros de pesquisadores. A presença de técnicos nos grupos é significativa, 7 grupos utilizam este tipo de colaboração; em relação a colaboração dos estudantes, 8 grupos reúnem graduandos, mestrandos e doutorandos em suas atividades de pesquisa e extensão, em média, cada grupo aglutina 17 estudantes em suas atividades de pesquisa e desenvolvimento.
Alagoas
Computa 6 Grupos de Pesquisa cujas competências estão dispersas envolvendo as seguintes áreas de conhecimento: ciência e tecnologia de alimentos, nutrição, bioquímica, farmácia e zootecnia. Além do mais, acolhem 26 Linhas de Pesquisa direcionadas para a indústria de alimentos:
Assim como os Estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba, o ponto fraco desta base técnico-científica é a quase inexistência de interação destes grupos de pesquisa com o ecossistema da inovação. Além da ausência completa em redes de pesquisa, só a metade declarou ações conjuntas submergindo parcerias com outros atores público e privado.
No que toca aos colaboradores dos grupos, os dados mostram que a metade dos Grupos de Pesquisa declarou a presença de técnicos no apoio as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Nesta direção, somente dois grupos reuniu estudantes de mestrado e doutorado em suas atividades de pesquisa e extensão.
Podemos concluir que a base técnica-cientifica construída nos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas tem dificuldade de se consolidar como um arranjo inovativo que dê suporte e apoie as micro e pequenas empresas do segmento de alimentos. Fica evidente a ausência de um ambiente colaborativo que estimule o diálogo entre os Grupos de Pesquisa e os demais agentes econômicos e entidades do sistema de inovação regional. Que é importante emparelhar as demandas das empresas com as soluções propostas pelos pesquisadores, ou seja, estreitar as relações entre os Grupos de Pesquisa e o mercado.
Outros fatores são determinantes para a dinâmica e capacidade dos grupos de pesquisa interagirem com a indústria de alimentos. Com este perfil, requerem-se dos grupos de pesquisa um envolvimento efetivo com os programas de pós-graduação, tenham em seus quadros técnicos qualificados e colaboradores estrangeiros (constatou-se uma ausência total de pesquisadores com este contorno), e pesquisadores com visão empreendedora e abertos a colaborar com empresas da cadeia produtiva de alimentos.
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Leia outros textos dos mesmos autores: A pesquisa pública no Nordeste com foco na Indústria de Alimentos (parte 1)
Vaneide Ferreira Lopes é pesquisadora e Líder do Grupo Inovação, Tecnologia e Projetos na Paraiba (GiTecPB) e Carlos Alberto da Silva é professor titular da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Líder do Laboratório de Pesquisas em Economia Aplicada e Engenharia de Produção (Lapea).
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