Embora sejamos um grande produtor agrícola, quase metade de nossa produção de frutas vai para o lixo. E a nanotecnologia tem importante colaboração para diminuir o desperdício de alimentos
Fazer nanotecnologia requer investimento altíssimo. Para termos uma ideia, um laboratório básico de preparação e caracterização de nanopartículas requer equipamentos como: balança, destilador, deionizador, agitador, centrífuga, sonicador, reagentes… Espectrofotômetro, difratômetro, microscópio eletrônico. Desta estrutura (enxuta) já teríamos um orçamento da ordem de dois milhões de reais. E o investimento para equipar estas estruturas laboratoriais vem, normalmente, de agências de fomento do governo, ou seja, este investimento vem do imposto pago pelo povo.
Embora a nanotecnologia tenda a abordar temas de fronteira com alto grau de especificidade, uma premissa fundamental não pode ser omitida: o retorno do investimento público precisa ser voltado para o seu financiador – o povo. Se considerarmos a recente volta do país ao mapa da pobreza, percebemos que a nanotecnologia brasileira deve estar voltada prioritariamente ao combate à fome.
Esta é, provavelmente, a forma mais rápida de retornar o resultado do investimento em um problema imediato – quem tem fome não pode esperar. E aqui não estamos falando de ração humana. Nanotecnologia a favor das grandes corporações resulta em produtos que visam o lucro e não a dignidade de um povo. É importante evitar que a fome seja tratada pela nanotecnologia da mesma forma que a saúde é tratada pela indústria farmacêutica. Sim, a doença de Chagas deveria ter a mesma atenção que a AIDS.
Embora sejamos um grande produtor agrícola, quase metade de nossa produção de frutas vai para o lixo. E a nanotecnologia tem importante colaboração a fazer no prolongamento do tempo de prateleira das frutas assim como nas condições de embalagem e transporte das mesmas. Da mesma forma, a logística para produção e consumo precisa ser facilitada. A evolução tecnológica da hidroponia tem permitido a produção de vegetais em perímetro urbano, facilitando com que cada habitante tenha sua própria horta. A psicultura é outra importante vertente que vem a permitir com que nanoestruturas incorporadas aos bioflocos possam ser aplicadas em culturas de camarão e peixe com desempenho superior na produção de alimentos. Isso fará com que o cultivo controlado urbano aproxime a produção de alimentos da população e estabeleça democratização neste processo.
Da mesma forma que a energia elétrica agora é produzida nos tetos das residências (energia fotovoltaica) a agricultura precisa acontecer tanto no campo quanto na cidade. Em meio aos espigões de concreto precisam surgir hortas comunitárias melhoradas pela nanotecnologia.
E uma quebra de paradigma fundamental precisa ser estabelecida: os produtos da nanotecnologia não precisam necessariamente agregar valor para os grandes empresários.
Há de existir diálogo entre a academia e os pequenos produtores, a agricultura familiar… Os resultados precisam estar à disposição do povo, como retorno imediato de um investimento que precisa gerar conhecimento e produção agrícola distribuída com toda a população.
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Helinando Oliveira
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