Investimento em pesquisa e extensão fortalece novos campi e fixa servidores no interior
(Helinando Oliveira)
O Brasil viveu uma realidade desigual até 2004, quando se falava em acesso ao ensino superior para quem morava longe das grandes capitais. A partir de então, novas instituições e expansões daquelas já existentes começaram a contemplar o interior. Felizmente, esse processo teve retomada a partir de 2022, e agora novas fronteiras do que se entende por interior estão sendo desbravadas.
No entanto, é preciso colocar uma preocupação à mesa: quando uma universidade federal chega a uma cidade, ela vem para promover ensino, pesquisa e extensão. Porém, o orçamento que acompanha essa chegada é o mínimo necessário para que as aulas tenham início. Com isso, pesquisa e extensão ficam para depois. São elas, no entanto, que fixam o pessoal no interior, mesmo em condições adversas e, muitas vezes, longe de sua terra natal.
Sem esperanças quanto à evolução de sua vida científica, tem início o ciclo de remoções de servidores entre campi diferentes, nos quais o maior prejudicado é sempre o campus mais novo, que não consegue estabelecer um histórico de fixação de servidores, parecendo-se com uma casa de passagem.
A solução para esse problema passa pela criação de programas de pesquisa e extensão nos novos campi, e o governo deve financiá-los por meio da universidade. O primeiro deles é um programa específico para cada novo campus de iniciação científica, além de outro de bolsas de extensão. Explico por que essa exclusividade para os campi novos é necessária:
Não faz sentido estabelecer livre concorrência entre campi consolidados — com décadas de trabalho — e novos centros, onde atuam jovens professores sem nenhuma infraestrutura.
Com isso, os professores terão prazos para executar projetos na instituição e passarão a interagir com a comunidade, criando raízes. Dos projetos de iniciação científica e de extensão, surgem propostas maiores, como programas de pós-graduação e projetos de infraestrutura. Com o tempo e um trabalho bem feito, as conquistas seguem se consolidando.
Cabe destacar, porém, que o primeiro ano em uma instituição nova no interior é muito crítico. Esse é o momento em que muitos desejam as propostas de remoção e transferência, e a falta de vínculo facilita a mobilidade.
O investimento imediato (e de baixo custo) em bolsas de extensão e pesquisa pode acelerar a consolidação das vocações locais de uma instituição recém-instalada no interior. Apesar de as universidades existirem em outra escala de tempo — elas continuarão a existir daqui a mil anos, se o clima permitir —, elas são feitas de pessoas. E tratar uma universidade nova como uma universidade de verdade (e não como uma grande escola nova) é o primeiro passo para fazê-la crescer o mais rápido possível. Já dizia Alan MacDiarmid: “Science is people”. E a universidade é feita de gente que sonha, que se encanta e que trabalha. Fixá-los e fazê-los felizes em novos centros é fundamental para o sucesso de toda uma nação que investe em educação.
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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência
A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras
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