Como a ciência explica dois fenômenos acontecidos nos céus dos EUA nos séculos XVIII e XIX
No dia 19 de maio de 1780 aconteceu um fenômeno que assustou os moradores da Nova Inglaterra, uma região que abrange seis estados norte-americanos, Connecticut, Maine, Massachusetts, New Hampshire, Rhode Island e Vermont, todos ao norte do país.
As pessoas relataram uma “Grande Escuridão”. O Sol sumiu quase de repente e o meio-dia transformou-se em meia-noite. Tudo ficou escuro e tenebroso. Naquele dia não houve eclipse.
Passados pouco mais de cinqüenta anos, outro fenômeno nos céus dos Estados Unidos deixou muita gente boquiaberta. Era madrugada de 13 de novembro de 1833. Durante horas, literalmente milhares de “estrelas cadentes” caíram a cada minuto. Era como se todo o céu estrelado estivesse desabando. As testemunhas estavam principalmente da costa leste do país até o sul da Flórida.
O que houve nesses lugares? Os habitantes da Nova Inglaterra do século XVIII eram muito religiosos e perpetuaram a idéia de um castigo divino. Já em novembro de 1833, embora a ciência astronômica já conhecesse o fenômeno, muitos ainda continuaram acreditando que o fato era inexplicável.
Clima ruim
Em maio de 1780 o Sol não sumiu em todos os lugares, somente na Nova Inglaterra. Foi um fenômeno local e, na verdade, nem envolveu diretamente o Sol. Até hoje essa região costuma ser palco de fenômenos climáticos inesperados – e foi exatamente isso o que aconteceu.
A famosa escuridão daquele dia foi resultado de uma densa nuvem de fumaça de incêndios florestais a oeste da Nova Inglaterra, tornando o céu diurno opaco à luz do Sol, mudando o comportamento dos animais e fazendo muitas pessoas crerem em ira divina.
O clima no noroeste da América do Norte permanece instável e surpreendente até hoje. Particularmente no mês de maio ocorrem incêndios florestais espontâneos e existe 60% de chances de um dia com céu limpo mudar repentinamente, podendo ocorrer desde neve até um tornado (sendo que esta não é uma região com ocorrência típica de tornados).
Em maio começam os primeiros dias quentes após o rigoroso inverno da região. O solo começa a aquecer rapidamente, bem mais depressa que as regiões costeiras, ainda sujeitas aos ventos gelados do norte, que acabam trazendo brisas frias para o continente. Esse choque térmico costuma provocar densas neblinas – ou coisa bem pior.
Meteoros
Já com relação à chuva de “estrelas cadentes” de 1833, mais uma vez temos a ocorrência de um fenômeno natural, só que desta vez bem mais raro. Na Astronomia ficou conhecido como “A Grande Chuva de Meteoros Leônidas de 1833”. Por que meteoros?
O termo “estrelas cadentes” é equivocado. As estrelas são astros distantes e não correm risco de “cair”. A Terra gira em torno de uma delas, o Sol, que é mais de um milhão de vezes maior que o nosso planeta. Se alguém tivesse de “cair” decididamente não seria o Sol…
Meteoros é o termo correto. Eles são pequenos pedaços de rocha, a maioria menor que uma ervilha, e que se tornam incandescentes ao penetrar velozmente na atmosfera. Sua origem está associada aos asteróides e, principalmente, a passagens recentes de cometas.
Chuvas de meteoros ocorrem novamente na mesma data a cada ano. E isso é, sem dúvida, notável. Tanto é que recebem nomes relacionados às constelações as quais os meteoros parecem surgir (um mero efeito de perspectiva). Leônidas é uma chuva cujos meteoros são vistos todo o mês de novembro como se partissem da constelação do Leão.
Uma mesma chuva, porém, não tem sempre a mesma intensidade. Em novembro de 1833 a Leônidas foi particularmente espetacular – e provocou medo em muita gente. Hoje, astrônomos e entusiastas esperam ansiosos novembro chegar para ver se o “Leão vai rugir de novo”.
Algumas chuvas de meteoros famosas |
Nome | Constelação associada | Época em que ocorrem |
Quadrântidas | Boieiro | Início de janeiro |
Aquáridas | Aquário | Início de maio |
Perseidas | Perseu | Meados de agosto |
Leônidas | Leão | Meados de novembro |
Geminidas* | Gêmeos | Início de dezembro |
*Normalmente, essa é a melhor chuva de meteoros para observadores no Brasil.
Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #HojeeDiadeCiencia.
Leia o texto anterior: A inflamação da Lua
Leia também: Astronomia Zênite
José Roberto de Vasconcelos Costa
Deixe um comentário