Os principais entraves na formação de engenheiros no Brasil e o papel das escolas, universidades e indústria.
(Helinando Oliveira)
Uma visita rápida a qualquer curso de Engenharia no país é suficiente para perceber que algo não vai bem. A evasão de estudantes é alta, e o interesse dos jovens pela Engenharia vem se mostrando cada vez menor.
A Confederação Nacional da Indústria estima um déficit de 75 mil profissionais na área, o que se soma à queda nas matrículas em cursos presenciais de Engenharia, tanto em universidades públicas quanto privadas. Ao se considerar o histórico de baixa taxa de sucesso desses cursos (com poucos egressos por turma), pode-se concluir que todo o processo — desde o ensino médio até a indústria — precisa ser analisado minuciosamente.
Você percebeu que o Nossa Ciência não tem fontes de recursos? Considere contribuir com esse projeto, mandando pix para contato@nossaciencia.com
Para começar, é importante introduzir as ciências exatas aos nossos jovens de forma mais lúdica e apropriada. Isso se faz com a formação de excelentes professores de Química, Física e Matemática. Um investimento consistente nas licenciaturas e na formação de professores que já atuam na rede pública e privada deve suprir lacunas na preparação dos futuros estudantes de Engenharia. Mais importante que isso é evitar a fuga de cérebros para outras áreas, causada pelo bloqueio em disciplinas como Matemática e Física.
Por sua vez, a universidade precisa entender que a Engenharia não pode ser a mesma que foi ensinada no século passado. O corpo docente dos ciclos básico e profissional precisa dialogar e encontrar uma forma de superar esse conceito engessado e retrógrado de “disciplina e grade curricular”. Se estamos constatando que algo não vai bem, é sinal de que mudanças são necessárias.
E não há problema em utilizarmos o exemplo dos centros de Engenharia que deram certo. Dar foco em projetos desde o primeiro período é uma ótima tentativa. Para isso, mais atenção deve ser dada aos laboratórios sucateados de ensino por parte dos financiadores, pois, se faltam insumos, não há como realizar nenhum tipo de experimentação em Engenharia.
Por fim, a indústria precisa compreender que a universidade é mais do que uma fornecedora de estagiários. Desenvolver projetos em parceria e integrar jovens estudantes em atividades de iniciação científica é uma forma de treinar futuros profissionais, qualificá-los e garantir uma luz no fim do túnel deste grave e duradouro problema que temos enfrentado.
Como podemos perceber, o problema da formação de engenheiros não tem solução imediata, até porque já se arrasta há muito tempo. O primeiro passo vem da integração de diferentes atores e áreas, com o mesmo simbolismo que se atribui à interdisciplinaridade, tão necessária para formar engenheiros antenados com os tempos atuais.
Se você chegou até aqui, considere contribuir para a manutenção desse projeto. Faça um pix de qualquer valor para contato@nossaciencia.com
Leia outros textos da coluna Ciência Nordestina
Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência
A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras
Deixe um comentário