A ciência e a malária Ciência Nordestina

terça-feira, 14 maio 2019
A malária é transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles.

Após trinta anos de trabalho, será realizado em cidades do continente africano o primeiro ensaio clínico em larga escala da vacina contra a malária

E eis que em meio a tantas más notícias para a ciência, surge uma grande notícia para as pesquisas que caminham no sentido das grandes conquistas populares: após trinta anos de trabalho, passará a ser realizado em Gana, Quênia e Maláui o primeiro ensaio clínico em larga escala da vacina contra a malária (chamada de RTS,S).

Transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles, que ataca tipicamente ao amanhecer e entardecer, a malária mata uma criança no mundo a cada dois minutos. Apenas em 2017, morreram 435 mil pessoas em todo o mundo (dados da OMS) – sendo 93% destas na África Subsaariana. Um dado que merece atenção é o de que o número de casos diagnosticados da malária no mundo provou uma inversão a partir de 2015: do comportamento de queda, passou-se a observar um crescimento a partir de então. As metas para controle de infecção passaram então a ser revistas e o alerta mundial passou a ser ligado. Vale ressaltar que que embora a maioria dos casos estejam concentrados na África, o Brasil contabilizou em 2017 mais de 217 mil casos da doença.

O complicador maior deste processo é o poder aquisitivo do público alvo da doença: não havendo retorno financeiro, a tendência seria de termos mais uma doença a encher a lista das negligenciadas pelo poder monetário mundial.

No entanto, a importante ação da Organização Mundial da Saúde junto a empresas e governos viabilizou a continuidade de uma pesquisa na escala de 30 anos, que chegou a um produto com eficiência de 40% e que deve ser administrado às crianças africanas em 4 doses. Em um primeiro momento espera-se atingir 360 mil pessoas por ano, o que, junto a ações como proteção contra o mosquito prometem reduzir o número de mortes pela malária.

Certamente a vacina contra a malária não trará lucros às empresas que a produzirem. E isso não deve significar nada relevante. As pessoas precisam figurar como prioridades sobre quaisquer tipos de lucros.

O planeta não pode fechar os olhos para uma doença que leva um ser vivo a cada dois minutos. Toda e cada vida importa. E a ação coordenada de governos (em larga escala) para a melhoria das condições de vida de seu povo é essencial. O investimento não pode simplesmente ser desligado, pois problemas complexos não são resolvidos da noite para o dia. Eles precisam de pesquisadores motivados e recursos para as pesquisas. Se não fossem 30 anos de trabalho e persistência, não estaríamos a comemorar esta grande vitória da humanidade. E a pesquisa não para por aí. A eficiência da vacina precisa ser melhorada, os efeitos colaterais minimizados. A ciência é um processo contínuo, persistente. E ela prevalece mais uma vez: seja contra a malária ou contra todos os outros males.

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Leia o texto anterior: Balbúrdia, terra plana e achismos

Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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