A autoria na era das Inteligências Artificiais Linguaruda

segunda-feira, 9 dezembro 2024
Os inúmeros usos de softwares, plataformas, aplicativos, streamings e redes sociais atravessam o dia a dia de cada vez mais pessoas.

Qual é o impacto das IAs e das Tecnologias Digitais na autoria e criatividade?

(Cellina Muniz)

Não há como negar e talvez o rumo seja mesmo incontornável: cada vez mais, as práticas digitais avançam e tomam conta da nossa vida, sobretudo nas grandes cidades. Do armazenamento de dados em nuvem a múltiplos consumos em comércio eletrônico, da automação residencial à localização geográfica, o desenvolvimento da Web, das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação e da Inteligência Artificial afetaram e afetam totalmente nossas formas de ser/estar no mundo.

Os inúmeros usos de softwares, plataformas, aplicativos, streamings e redes sociais atravessam o dia a dia de cada vez mais pessoas, que têm em seus notebooks, tablets e, sobretudo, smartphones, uma verdadeira extensão do próprio corpo, o que sugere novas possibilidades para produzir, entreter-se e interagir, incluindo aí as práticas de escrita e leitura.

Para continuar entregando conteúdo de qualidade, Nossa Ciência precisa do apoio de seus leitores. Faça um pix para contato@nossaciencia.com

Recursos para a alfabetização e multiletramentos

Nessa esteira, inúmeras possibilidades e problemas vão surgindo nesse cenário, despertando várias indagações, por exemplo: como fazer uso desses recursos digitais no ensino, aprimorando práticas de alfabetização e de multiletramentos? Como fazer uso desses recursos para ampliar canais de informação e conhecimento, ao tempo em que se combatem mentiras e fake news? Como fazer uso desses recursos para evitar fraudes e plágios?

Assim, a autoria nesse contexto digital é uma questão que impacta profissionais de diversos setores, cuja maior angústia talvez seja: como garantir a autenticidade de autores e criadores – humanos! – nas áreas da literatura, música e audiovisual, principalmente com o advento das chamadas Inteligências Artificiais Generativas (tais como o ChatGPT).

Editoras como a Librinova, da França, por exemplo, criaram uma estratégia peculiar, um selo de garantia impresso em seus produtos editoriais, o qual atesta: “este livro foi realmente escrito por um ser humano”. Quem diria que teríamos que afirmar o que há pouco tempo atrás era o óbvio ululante… Tal estratégia acaba sendo uma medida diferencial num mercado cada vez mais saturado de obras escritas com ajuda das IA´s, principalmente em casos de autopublicação.

Coautoria duvidosa

Editora francesa criou um selo de garantia de autoria humana impresso em seus produtos editoriais.

Em matéria publicada pela Revista Carta Capital, são mencionados casos de livros autopublicados pela plataforma Kindle Direct Publishing, da Amazon, cuja “coautoria” com essas inteligências generativas é marcada por erros graves de linguagem e por inverdades temáticas e históricas.

Casos assim sugerem ampliarmos os ângulos por meio dos quais podemos observar a questão da autoria, já tão discutida por eminentes estudiosos, como Umberto Eco ou Márcia Abreu, por exemplo. Mais do que um nome atrelado a uma obra, com deveres e direitos, mais do que um sujeito que exerce um conjunto de atividades e rotinas num campo social e discursivo, mais do que uma imagem construída por terceiros, agora há que se considerar também, dentre os amplos fatores que constituem um autor – escritor, compositor, diretor – as relações com as IA´s em suas práticas criativas. O que exige não só deslumbramento diante de tais usos, mas, sobretudo, cautela.

Leia também: Escrevendo textos, publicando livros: autores-editores em Natal

Leia outros textos da coluna Linguaruda

Cellina Muniz é escritora e professora do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Cellina Muniz

4 respostas para “A autoria na era das Inteligências Artificiais”

  1. Josimey Costa disse:

    Ótimo tema e excelente reflexão!

  2. Excelente celeuma levantada, Profa. Cellina!

    Sobre o selo: “este livro foi realmente escrito por um ser humano”, a questão passa para outro patamar: quem vai certificar quem certifica?

    Em tempos de IA, vivemos num momento de “ovo e galinha” digital. Dá o que pensar!

    Parabéns.

  3. Cellina Muniz disse:

    Obrigada, Josimey! 🌺É o tema da vez, precisamos tod@s refletir.🤓

  4. Cellina Muniz disse:

    Obrigada, Gláucio! Pois é, daqui a pouco teremos que discutir o que há de humano em meio a todas as práticas. Um abraço!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Site desenvolvido pela Interativa Digital