Como atividades artísticas ajudam nas descobertas científicas
Para iniciar a matéria desta semana sugiro um pequeno exercício mental: imagine um(a) cientista. Aposto que você imaginou alguém de jaleco branco, segurando tubos de ensaios em meio a frasco fumegantes, caso eu não tenha acertado minha suposição por completo, aposto que acertei pelo menos a parte do jaleco. Mas será essa uma imagem fiel de um cientista? Muitos também veem cientista como pessoas reclusas e extremamente obcecadas por suas áreas de pesquisa, mas um estudo da universidade de Michigan nos EUA diz o contrário.
O estudo analisou documentos, biografias, autobiografias e todo tipo de registro oficial sobre cientista ganhadores do prêmio Nobel, da Royal Society e da Academia Nacional de Ciências dos EUA e da sociedade científica Sigma Xi, para investigar as aptidões artísticas de cientistas “bem sucedidos” academicamente.
O resultado contraria o senso comum, indicando que diversos cientistas reconhecidos, muitos laureados com o prêmio Nobel, possuem as artes, como “hobby”. A tabela abaixo foi retirada do estudo citado [1] e contêm o nome de cientistas que já publicaram e/ou expuseram trabalhos relacionados às artes visuais/escultura, obras de ficção e apresentações musicais respectivamente. As legendas abreviadas indicam procedência do cientista em questão, “NP” para ganhadores(as) do Nobel, “RS” para membros da Royal Society e “NAS” para membros da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
Figura 1
Dentre os citados, vemos figuras científicas conhecidas como, Carl Sagan, Richard Feyman, Alexander Fleming entre outros.
O estudo contêm declarações de cientistas reafirmando a importância do seu “hobby artístico” em suas descobertas científicas, Robert R. Wilson, inventor do acelerador de partículas circular (ciclotron) disse:
“No design de um acelerador eu procedia como quando faço esculturas. Eu sentia que a teoria científica era bonita, assim como o instrumento científico. As linhas devem ser graciosas, os volumes balanceados. Eu gostaria que os aceleradores, os experimentos e as utilidades fossem forte e simplesmente expressos com objetos de beleza intrínseca.” (Wilson, 1992)
Albert Einstein também atribuiu à música o sucesso na elaboração da teoria da relatividade:
“A teoria da relatividade me ocorreu por intuição, e a música é a força motriz por trás desta intuição…. Minha nova descoberta é resultado de percepção musical.” (Curtin, 1982 p. 84).
Após tais exemplos a conclusão do estudo parece óbvia. Uma formação interdisciplinar e a mente aberta ao novo contribuem imensamente para o sucesso nos trabalhos científicos, reforçando também a necessidade da reformulação dos currículos dos cursos de ciências, já que atividades puramente científicas não bastam para se criar a ciência.
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