Somos todos um doce de pessoa? Artigos

sexta-feira, 23 maio 2025
O tipo de diabetes mais comum na nossa sociedade atual é o chamado diabetes tipo 2.

Como a doçura faz parte da nossa biologia — do DNA à glicose no sangue

(Tatienne Neder Figueira da Costa e John Fontenele Araujo)

Se eu te perguntasse “Você se considera um doce de pessoa?”, acredito que haveria diferentes respostas, com algumas pessoas afirmando não se considerarem uma doçura de pessoa. Outras talvez estariam mais para o sabor amargo, quem sabe.

Porém, do ponto de vista biológico, todos carregamos o sabor doce da vida. O nosso material genético, o famoso DNA, é doce por natureza. Em sua estrutura, há a presença de um tipo de açúcar de cinco carbonos, chamado desoxirribose. Portanto, quer você queira ou não, quer você goste ou não, você, assim como eu e os demais seres humanos deste planeta, tem a doçura registrada em nosso material genético.

Combustível energético

Temos outro docinho em nosso sangue, a glicose, nosso principal combustível energético, que circula no sangue e entra nas células para gerar energia. Nesse caso, seu “nível de doçura” varia conforme a concentração de glicose no sangue.

Como saber o quão “doce” o seu sangue está? Uma das maneiras é avaliando a glicemia de jejum, um exame frequentemente realizado para diagnosticar uma doença denominada diabetes. O tipo de diabetes mais comum na nossa sociedade atual é o chamado diabetes tipo 2.

Pessoas com diabetes tipo 2 têm níveis elevados de glicose no sangue mesmo em jejum (igual ou acima de 126 mg/dL). Isso ocorre por dois problemas relacionados à insulina, o hormônio que age como um “transportador”, levando o excesso de açúcar do sangue para dentro das células.

Então o que acontece é que o pâncreas de pessoas com diabetes tipo 2 vai perdendo sua capacidade de produzir insulina ao longo do tempo.

Mas como esse equilíbrio pode ser perdido? Vamos entender com uma analogia…

Imagine um trabalhador que no início de sua carreira trabalha excessivamente para ter alta produtividade. Naquela época funcionava bem e ele conseguia entregar uma grande quantidade de resultados. Porém, com o passar do tempo, devido à sobrecarga de demandas, ele foi cansando e sua produtividade foi diminuindo. Logo, chegou um dado momento que ele começou a entregar menos produtos do que o necessário. Ele literalmente cansou. Por outro lado, a quantidade de trabalho começou a se acumular.

Analogia

Essa analogia demonstra o que acontece em relação ao pâncreas de indivíduos com diabetes tipo 2. Inicialmente, o pâncreas destas pessoas consegue manter a concentração de glicose no sangue dentro de valores normais, mas às custas de uma produção excessiva de insulina. O pâncreas faz isso para tentar manter a casa vermelha (sangue) em ordem. Porém, passado um tempo, que é variável entre as pessoas e que pode levar anos a fio, o pâncreas, de tanto trabalhar, começa a “cansar” e, então sua capacidade de produzir insulina diminui. Isso se dá porque as células pancreáticas responsáveis por essa produção começam a morrer.

Neste “momento”, o indivíduo com diabetes não consegue mais manter seu nível de doçura no sangue dentro da normalidade.

Haverá um excesso de “docinhos” no seu sangue.

E como sabemos, excesso de doces não faz bem à saúde…

É por isso que o tratamento envolvendo uma equipe multiprofissional é essencial para esses indivíduos, para evitar que outras complicações decorrentes do diabetes possam aparecer, como doença nos rins, cegueira e outras.

Então, ser ou não um “doce de pessoa” pode ser uma questão de perspectiva, mas, biologicamente, a doçura está em nosso sangue e em nossos genes!

John Fontenele Araújo é professor titular do Departamento de Fisiologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Tatienne Neder Figueira da Costa é professora Curso de Nutrição da Universidade Federal de Tocantins

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