O articulista propõe como pergunta se o ensino, a pesquisa e a extensão continuam sendo uma pauta importante para a universidade brasileira
(Por Carlos Alberto da Silva)
No contexto político politizado e na conjuntura econômica pelos quais convivemos nos dias atuais no Brasil, talvez seja oportuno introduzir a seguinte pergunta: qual a pauta corrente da universidade brasileira? Certamente, a resposta partirá da tríade: ensino, pesquisa e extensão.
A autonomia da universidade com responsabilidade social é a condição básica para se atingir ensino de qualidade e inclusivo, cobrar mais ambição dos pesquisadores, atender as demandas públicas e privadas, desenvolver pesquisa integrada ou pesquisa interdisciplinar. Além de criar as condições para promover e estimular a extensão tecnológica para a inclusão produtiva e social.
Já existe o instrumento para isso: o novo marco de ciência, tecnologia e inovação, promulgado em janeiro de 2016 que desburocratiza a mobilidade do pesquisador – da academia para a sociedade e vice versa.
Tudo isso passa a ser realidade, caso a universidade construa, permanentemente, espaços de liberdade pluralista com ampla liberdade de expressão das mais diversas concepções de pensamento. Assim, contribuindo para sua criatividade e qualidade. Nesse ambiente, possivelmente, não se identificará o grupo – ou o individuo -, dono da verdade; mas, sim, uma construção coletiva de alternativas inteligentes. Creio que temos utilizado muito mal a liberdade que conquistamos.
Recentemente, o atual governo brasileiro tem criado desconforto para a comunidade acadêmica. Agravado ainda mais, por essa mania ultrapassada de cunhar os membros da comunidade universitária – direita versus esquerda. Esses dois aspectos têm caminhado juntos deteriorando e minando a qualidade do debate no interior das universidades públicas. Necessário entender que a universidade não deve ser centro de formação de militantes de direita ou esquerda no Brasil.
Neste contexto, a universidade pública está envolvida em um debate político-partidário como se a sua sobrevivência dependesse disso e o debate fica empobrecido, emergindo neste clima uma falsa questão: se Bolsonaro é o diabo ou se Lula é o salvador.
Como não está colocada na ordem do dia a ruptura do modo de produção capitalista, as mudanças, provavelmente, ocorrerão num ambiente dinâmico e de grandes incertezas caracterizado pela economia livre de mercado, da ocorrência de transformações céleres nas forças produtivas associadas a novas relações de trabalho e do pleno reconhecimento da instituição democracia como capital social. Há uma tendência de crescimento de uma massa crítica universitária formada por humanistas, democratas e de ideias reformistas.
Por este motivo, a pauta deve ser pensada como decorrência de três perguntas básicas. Primeiramente, qual a métrica mais importante para se avaliar as atividades de ensino? Do meu ponto de vista, seria análise e acompanhamento do custo-benefício dos egressos. Estatística essa fundamental para se replanejar conteúdos e ementas do curso; assim, reorientado ao mercado de trabalho.
A segunda pergunta refere-se à natureza da pesquisa universitária. Grande parte dessa tem como objetivo sua aplicação. Ganhos de escala percorrendo o desenvolvimento tecnológico na escala laboratorial passando pela prototipagem e chegando ao mercado. Isso ocorre dentro de uma visão sistêmica da inovação tecnológica. Acabou aquela ideia de tecnologia de prateleira que se iniciava com o desenvolvimento da pesquisa básica e linearmente chegava ao mercado.
Tudo agora depende de arranjos inovativos, envolvendo as mais diversas parcerias com empresas, governos e outros agentes. Mudou a lógica, impondo que grande parte da pesquisa universitária atenda a demanda publica e privada via edital.
Por último, qual o escopo da extensão universitária que queremos? Nos últimos anos, ela esteve presa às demandas sociais – o que é muito justo – deixando de fora as empresas industriais, agroindustriais e de serviços.
Na atual conjuntura, apesar de certas dificuldades, vem crescendo na universidade brasileira a extensão relacionada com a economia criativa, com grande potencial de geração de renda e de emprego.
Assim, ao longo desse texto discutimos questões cruciais para sair desse modelo de universidade ultrapassada, de ciência de gaveta, de professores em suas torres de marfim, de costas para a sociedade que a financia.
Carlos Alberto da Silva é professor associado IV da Unidade Acadêmica e Economia da Universidade Federal de Campina Grande
Carlos Alberto da Silva