É inegável a crescente importância da Internet e das redes sociais para a comunicação política, mas o quanto é possível a mensuração de sua influência na decisão do voto?
Uma pesquisa do Ibope divulgada no início de junho de 2017 sobre a influência das diversas mídias na formação da decisão de voto para as eleições de 2018 mostrou que a internet e as redes sociais se tornariam meios privilegiados de convencimento do eleitor. Pelos dados da pesquisa superariam, pela primeira vez, a chamada mídia convencional. O que se constatou em relação às redes sociais não é um fenômeno especifico do Brasil. A particularidade é que o país se distingue por conta do oligopólio da imprensa tradicional.
Fernando Brito, num artigo publicado no site Tijolaço no dia 12 de junho de 2017 ao analisar os dados da pesquisa afirma que no Brasil “a esquerda ‘apanha’ feio nas redes diante dos sites de direita ou extrema direita. Não apenas porque, não raro, estes contam com financiamento quanto, sobretudo, porque a concisão que a mensagem moralista e destrutiva permite é amplamente vantajosa diante da argumentação racional com que se tenta combatê-la”. Para ele ”quem pensa comunicação política tem de deixar de ter como prioridade o roliudiano dos marqueteiros e refletir sobre o que a internet pede: produção de conteúdo – tarefa dos blogs -, sua disseminação (Facebook e outras redes) e fixação de conceitos. Longos textos e longos vídeos estão longe de bastar. Idem os “sites de campanha”.
Diversos estudos acadêmicos, e não apenas no Brasil, baseados em pesquisas têm mostrado que para a decisão do voto há um conjunto de fatores que vão desde a que atrela a decisão do voto ao grupo ou classe social dos eleitores, e outros componentes relevantes como religião, escolaridade, nível de renda (modelo sociológico); como o que estuda o comportamento eleitoral privilegiando a formação de identidades subjetivas do indivíduo (modelo psicológico), e também a teoria da escolha racional, que visa explicar e predizer o comportamento dos atores políticos como produto da ação racional individual orientada por cálculos de interesse pessoal tendo em vista a maximização de ganhos.
Em relação à influência das redes sociais na decisão do voto, tem sido relativamente pouco estudado no Brasil, particularmente, uma das mais influentes: O Facebook, que reúne milhões de usuários e os dados indicam que no país são mais de 100 milhões de cadastrados. Assim, não há como desconsiderar o seu papel. No entanto, apesar do consenso a respeito de sua importância nas campanhas eleitorais, não há consenso quanto o seu real impacto na decisão de voto, entre outros aspectos em função da dificuldade de mensuração.
Para uma resposta mais consistente é necessária uma metodologia adequada, pesquisas empíricas tanto qualitativa como quantitativa, etc. Uma pesquisa realizada em Portugal sobre o impacto do Facebook nas eleições “A Influência da Rede Social Facebook na Decisão de Voto” para a dissertação de mestrado no Departamento de Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, defendida em 2012 por Claudia Isabel Silvério Gonçalves, com uma amostra de 1214 usuários, revelou que o Facebook “não constitui um fator determinante para alterar a decisão de voto e surte um impacto limitado no que se refere ao número de eleitores e força da influência”.
No entanto ela afirma que o Facebook reforça as convicções dos já apoiantes e nesse sentido pode influenciar as opções eleitorais. A pesquisa revelou ainda que “quanto maior a freqüência de utilização do Facebook como fonte de informação eleitoral, a importância atribuída à rede social como fonte de informação eleitoral e a atividade cívico-política dos inquiridos, por esta ordem de relevância, maior a probabilidade dessa rede social influenciar o voto.
A pesquisa também revelou que idade e escolaridade não são fatores decisivos na tomada de decisão e que os eleitores dedicam maior atenção às mensagens transmitidas pelos integrantes da sua rede de contatos do que das atividades realizadas pelos candidatos: “Neste contexto, sugere-se que o Facebook, pela sua disseminação pela população portuguesa e funcionalidades de interação, poderá vir a ser utilizado para proporcionar a mobilização dos eleitores entre si, promovendo estratégias eleitorais de ‘campanhas de cidadão’, como a que Barack Obama realizou nas eleições presidenciais norte-americanas de 2008”.
O mesmo vale para o Brasil e às eleições de outubro de 2018 em particular? É provável que sim. Mas há de se considerar, entre outros aspectos, a legislação eleitoral. No Brasil, uma das novidades para as eleições é que o Tribunal Superior Eleitoral autorizou, pela primeira vez em campanhas eleitorais, o uso de mensagens virtuais no Facebook e no Google. Por lei, a propaganda paga de internet está vetada, com exceção do patrocínio de postagens em rede social e a priorização de conteúdo em sites de busca, como o Google.
A questão em relação às redes sociais nas eleições é: qual o seu real impacto? É a mesma coisa nas eleições para presidente da República e na eleição para o Congresso Nacional e governadores? Qual o impacto que a publicidade de Internet pode ter nas campanhas eleitorais?
Uma matéria publicada no jornal El País no dia 18 de julho de 2018 assinada por Rodolfo Borges intitulada “Propaganda virtual na eleição ainda deixa mais perguntas que respostas”, diz que” Apesar do amplo debate do papel das redes sociais e das notícias falsas na vitória de Donald Trump, as pesquisas mais recentes sobre o assunto nos Estados Unidos sugerem um efeito pequeno nas urnas — levantamento feito em 2013 por pesquisadores das universidades Columbia e da Califórnia indica que apenas 8% dos usuários de Facebook lembram de ter visto o anúncio político”.
É fato que as redes sociais são importantes, é um ambiente no qual as pessoas se informam e ficam cada vez mais tempo imersas e não é por acaso que as campanhas eleitorais têm usado as redes sociais da Internet como canal para veiculação de informações políticas, ou seja, não se pode negar a crescente importância da Internet e das redes sociais para a comunicação política. Podem influenciar na decisão do voto e nesta eleição em particular, com a limitação de gastos de campanha. Mas a questão é: quanto? Como medir de fato sua influência?
A relação entre as redes sociais da web e os processos de decisão de voto é bem mais complexa. Não há evidências empíricas a respeito da extensão dessa influência e nem uma resposta única. Campanhas eleitorais e decisão do voto não se restringem a redes sociais e nem tampouco ao horário eleitoral de rádio e televisão, ou seja, o cenário da disputa pelo voto é mais amplo.
Leia outro artigo do mesmo autor: Pesquisas de intenção de voto
Leia outros artigos
Homero de Oliveira Costa é Professor Titular (Ciência Política) do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Homero de Oliveira Costa
Deixe um comentário