Sua trajetória marcou a pesquisa científica sobre a biodiversidade brasileira, ajudando a formar gerações de pesquisadores e impulsionar o estudo de produtos naturais.
(Vanderlan da S. Bolzani)
Na primeira parte desse texto, a professora Vanderlan Bolzani destaca a importância da pesquisa científica sobre a biodiversidade brasileira, impulsionada pelas universidades públicas. Ela destaca que o professor Raimundo Braz Filho, referência mundial em produtos naturais, exemplifica a dedicação dos pesquisadores que enfrentaram desafios para avançar nessa área essencial. Leia agora a parte inédita do artigo.
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O cearense de Pacatuba, filho de agricultor, que nos anos 1950 foi jogador profissional de futebol, percebeu que o esporte não ia lhe assegurar uma vida estável e decidiu ingressar no ensino superior. Formou-se engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Ceará, UFC, onde, nos anos seguintes, sedimentou seu trabalho na área de produtos naturais.
O currículo do professor Raimundo Braz Filho mostra uma intensa atividade no período em que se inclui, em 1963, o curso de fitoquímica básica no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA. A pesquisa com as plantas da Amazônia, então uma atividade incipiente, iria crescer muito no futuro.
Seu histórico profissional é surpreendente pela abrangência nacional que alcança. A começar pelas instituições em que atuou nos anos iniciais, sempre em conexão com Otto Richard Gottlieb: a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ, onde assume como professor titular em 1975, a Universidade de Brasília, UnB, e a Universidade de São Paulo, USP, neste caso, para a criação do Laboratório de Produtos Naturais do Instituto de Química, no final dos anos 1960.
O fato de um número tão expressivo de instituições demandarem sua contribuição para formação de docentes revela como o conteúdo que tinha a transmitir era muito necessário e também mostra seu compromisso com a missão de ensinar. A relação das instituições federais com as quais manteve vínculos registrados em seu currículo inclui as universidades dos estados de Alagoas, Bahia (Vale do São Francisco, UNIFASV), Ceará, Goiás, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro (Federal Fluminense) Rio Grande do Sul, São Paulo (UFSCAR) e Santa Catarina. Somem-se a essas as universidades estaduais do Rio de Janeiro (Norte Fluminense Darcy Ribeiro, UFNF, da qual foi reitor) e do Paraná (UEL, Londrina).
Os alunos do cientista estão presentes em todo o país e, por sua vez, disseminam o que aprenderam no círculo virtuoso do ensino.
Braz Filho registrou quatro pedidos de patentes de substâncias com propriedades medicinais, conquista significativa em uma área onde o país sempre exibiu um frágil desempenho. A lista de mais de uma centena de homenagens e premiações com que foi agraciado até 2023, entre elas títulos de professor Honoris Causa, é mais uma medida do reconhecimento que obteve.
Tem sido um militante destacado das entidades científicas, entre elas a Sociedade Brasileira de Química (SBQ), Academia Brasileira de Ciências (ABC) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) ocupando cargos diretivos ou editoriais
Em entrevista concedida à Coordenadoria de Comunicação Social da UFRRJ, em maio de 2021, Braz Filho fala de sua produção acadêmica citando a publicação de 548 artigos, dos quais 234 em periódicos nacionais e 300 em periódicos estrangeiros (14 em anais). A linha que dá continuidade a essa produção sempre foi o trabalho de isolamento e elucidação estrutural de substâncias orgânicas produzidas pelo metabolismo secundário de organismos vivos, explica. Ele lembra que parte desses resultados inicialmente foi obtida em laboratórios dotados de infraestrutura mínima com recursos financeiros modestos.
Hoje, nos laboratórios das universidades, centenas de jovens pesquisadores que trabalham com produtos naturais nos diversos pontos do país dão sequência a esse processo que aprofunda o conhecimento tão necessário sobre a biodiversidade do país.
Vanderlan da S. Bolzani é professora-titular do Instituto de Química da Unesp/Araraquara
Texto publicado originalmente no JC Notícias em 03/02/2025
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