Artigo da jornalista Geneceuda Monteiro aborda o trabalho de pesquisadores da Paraíba para obtenção de energias renováveis
De fato Campina Grande faz juz ao título de cidade da inovação, do conhecimento, da tecnologia. Basta dar uma passada nos laboratórios de suas universidades para que descubramos um lastro de projetos inovadores e com larga escala de aplicação em quaisquer outras regiões do país.
Nesse artigo, em especial, chamo atenção para um projeto que está sendo desenvolvido na Universidade Estadual da Paraíba, no Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, coordenado pela professora Weruska Brasileiro que promove o saneamento através da produção de biocombustível a partir de microalgas.
Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) o projeto pretende gerar três fontes de biocombustíveis (Biodiesel, Biogás e Bioetanol) a partir do cultivo de microalgas utilizando águas residuárias oriundas de esgoto doméstico. A iniciativa, além de permitir a produção de energia limpa é uma alternativa sustentável para o tratamento do esgoto doméstico. Além de possibilitar a diminuição de contaminações dos rios, lagos e reservatórios de águas superficiais contribuindo, sobremaneira, com a redução do déficit de saneamento e do superaquecimento global, bem como, atuando na preservação dos recursos hídricos e na geração de energia renovável e sustentável.
Para o desenvolvimento do projeto, foi possível cultivar as microalgas Chlorella sp sem meio de cultivo sintético utilizando apenas águas de esgoto doméstico, favorecendo uma redução da carga poluidora deste tipo de esgoto superior a 70%, bem como o aumento da produção de lipídios, sendo estes últimos os responsáveis pela produção de biocombustível.
Logo, como o biocombustível se destaca no cenário mundial e é representado em sua maioria pelos derivados de agricultura convencional, tais como: soja, milho, cana-de-açúcar. E considerando que seja pelos efeitos negativos causados ao meio ambiente ou esgotamento das reservas de combustíveis fósseis, é imprescindível e urgente a procura de fontes energéticas alternativas que sejam de custo competitivo com as atuais fontes de energia existentes e que por sua vez sejam renováveis, biodegradáveis, de produção limpa e não tóxicas.
Dentro desse prisma, destacam-se os biocombustíveis que constituem recursos biodegradáveis, renováveis e estão associados com várias vantagens ambientais, uma vez que permitem a redução das emissões de poluentes, principalmente os gases de efeito estufa responsáveis pelo superaquecimento global. E para se ter uma ideia, o Brasil é o país que se destaca na produção de energia limpa e renovável com uma matriz energética de aproximadamente 45% de energia renovável, enquanto no mundo este valor não ultrapassa a 14% . Porém, esta energia renovável apresenta uma forte dependência da energia hidráulica para a produção de energia elétrica que atualmente vem sofrendo em manter a produção em especial na região Sudeste e Nordeste devido ao baixo nível dos reservatórios. Em função disso, para impedir o colapso de energia foram implantadas usinas termelétricas que por usarem combustíveis fósseis contribuem ainda mais com as emissões de gases de efeitos estufas.
Entretanto, o Brasil possui outras fontes potenciais para produção de energia renováveis que precisam ser exploradas e estudadas com mais atenção. É nesse contexto que as microalgas se apresentam com grande potencialidade de se aliar às fontes de energias renováveis produzidas no Brasil, pois tais microrganismos – devido a espetacular riqueza presente na sua biomassa – podem produzir, simultaneamente, o Biodisel, Bioetanol, Biogás e o gás hidrogênio.
Finalmente, as microalgas possuem algumas vantagens em relação às outras fontes alternativas de energias renováveis a exemplo de maior taxa de sequestro de CO₂ (se comparado com as plantas superiores, por minimizar o superaquecimento global), a não competição por terras aráveis (sendo o espaço para o cultivo das microalgas destinado apenas para suporte, podendo assim utilizar terras improdutivas ou degradadas) e por último não necessitam de grandes quantidades de águas (podendo utilizar para o seu cultivos até águas impróprias para consumo humano como: águas salobras, vinhaça, esgotos domésticos, dentre outras águas residuárias).
Como se pode constatar, bons projetos e boas iniciativas são o forte das nossas universidades. No entanto, ainda falta construir e fortalecer pontes que possam aproximar – de maneira mais efetiva – a academia, mercado e governos para que tais soluções possam ser aplicadas e replicadas em nosso Estado. #Ficadica
Geneceuda Monteiro é jornalista e escritora, especialista em Língua Portuguesa e produção de textos. Assessora de Comunicação da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB) e editora-chefe da revista Construção e Cia.
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