Pesquisas de intenção de voto Artigos

terça-feira, 28 agosto 2018

Pesquisas são importantes porque ajudam no planejamento das campanhas, podem influenciar os partidos e os eleitores, mas não determinam os resultados de uma eleição

A cobertura noticiosa das campanhas eleitorais mostra que os resultados de pesquisas de intenção de voto são um dos temas mais abordados especialmente em ano eleitoral e mais especificamente quanto à presidência da República.

Que pesquisas são importantes é inegável: estão na base de maior parte das informações de que dispomos, não apenas sobre intenção de voto, mas do próprio país, como dados relativos a crescimento econômico, índice de inflação, popularidade de governantes etc. é, portanto um elemento útil de informação.

As de intenção de voto em particular servem de agenda para os meios de comunicação, partidos e candidatos, que, como também os eleitores tomam-se decisões com base nelas. E pode influenciar nos processos eleitorais, mobilizando, estimulando e aumentando o interesse pelas campanhas eleitorais etc. inclusive quanto ao chamado voto útil, ou seja, a percepção da tendência de muitos eleitores em votarem em quem lidera as pesquisas para “não perder o voto”.

Hoje as entidades e empresas que realizarem pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou a candidatos, devem fazer o devido registro na Justiça Eleitoral.  Como elas são feitas? No caso das de intenção de voto, utiliza-se uma amostra e fazem-se as devidas inferências utilizando uma parte da realidade, que não se consegue observar (a amostra), para generalizar sobre o que não se observa (a totalidade dos eleitores) e assim usa-se uma parte para dizer coisas sobre o todo e para fazer isso, são utilizados procedimentos rigorosos. Diferente de palpites, que pode ser dado por qualquer um, sem qualquer base empírica e científica, nas pesquisas há uma ciência por trás, ou seja, um conjunto de procedimentos técnicos e metodológicos.

Sua importância, portanto é inegável, com suas possibilidades de leituras e interpretações, embora a comunidade acadêmica especializada seja escassa, como também é entre partidos e candidatos (e eleitores).

Mas é preciso evitar duas coisas em relação às pesquisas: a aceitação acrítica, ou seja, a ilusão de que é a verdade absoluta, como se não fossem sujeitas a erros ou por lado, sua desqualificação, como se servissem apenas para manipulações (também possíveis de serem feitas). Como afirmou Marcus Figueiredo “estatisticamente, é muito raro as estimativas dos institutos de pesquisas coincidirem, pontualmente, com os resultados oficiais. Há várias razões que concorrem para isso, razão pela qual todos os institutos a cada pesquisa trabalham com uma margem de erro de estimação.

Teoricamente o que se espera das estimativas de intenção de voto é que, simultaneamente, os valores dos votos estimados e a conseqüente posição dos concorrentes na disputa fiquem o mais próximo possível do resultado final. Esse objetivo o mais próximo possível é regido pela teoria da margem de erro de estimativa, que cada desenho amostral estipula a priori, informação fundamental para se avaliar o desempenho da pesquisa.

Esse padrão de avaliação vale tanto para as estimativas pontuais, candidato a candidato, quanto para a avaliação global, que consiste em estimar-se a média das diferenças das estimativas pontuais de uma chapa completa dos candidatos” (Erros e acertos nas pesquisas eleitorais, Folha de S. Paulo, 9/11/2002).

Assim, se são inegáveis seus acertos, há também erros, como muitos resultados revelaram, e também aspectos que não detectáveis como, por exemplo, as abstenções, cujo número tem crescido a cada eleição, mas que são pouco percebidos, diferente dos dados sobre os que decidiram os indecisos e os votos em brancos e nulos. A abstenção declarada é muito inferior aos resultados das eleições. Outro aspecto em relação à pesquisa é a possibilidade do eleitor mentir e dar uma resposta “socialmente aceita” (quem apóia, por exemplo, um candidato que defende a tortura, deve concordar com ele, mas dificilmente dará uma resposta dizendo que apóia a tortura, o mesmo pode ocorrer em relação a racismo, homofobia, misoginia, comportamento sexual etc., ou seja, quem recolhe informações depende da adesão voluntária e dos “filtros” de quem responde.

Em relação às pesquisas eleitorais de 2018, uma matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo por Augusto Decker e Thais Matos, no dia 2 de julho de 2018, informa que a pré-campanha está sendo feita com menos dados disponíveis sobre a intenção de voto do eleitor. Segundo os autores, com base nos dados do TSE, os registros de pesquisas públicas relacionadas à eleição presidencial tiveram queda de 37% em relação a 2014 “de 1º de janeiro a 26 de junho, foram registradas 88 pesquisas eleitorais em 2018 sobre a eleição presidencial. Há quatro anos, eram 139 neste mesmo período”. Constata-se que também diminuiu o número de pesquisas nos estados (Os dados não incluem pesquisas realizadas apenas para uso dos partidos e candidatos, que não são divulgadas em meios de comunicação “embora alguns dos levantamentos registrados no TSE tenham sido feitos a pedido de partidos políticos”).

Quais as explicações para a diminuição do número de pesquisas? Os autores se referem a basicamente duas: a proibição de financiamento de empresas a candidatos e partidos e a crise econômica. As eleições de 2018 serão as primeiras eleições presidenciais sem financiamento de empresas. Em 2014, ficou evidenciado que o dinheiro de empresas fluía de um candidato para outro conforme as pesquisas eleitorais, ou seja, os recursos do financiamento eleitoral tinham uma relação estreita com as pesquisas de intenção de voto. Quanto maiores as chances, maiores os recursos e as empresas, conforme mostram os dados disponibilizados no TSE, financiaram vários partidos e candidatos, de acordo com as suas chances de êxito, independente de programas e/ou ideologias.

Pesquisas de fato custam caro e nem todos os partidos e candidatos têm recursos suficientes para fazer isso. E com menos pesquisas, maiores dificuldades para as coordenações de campanhas “capturarem tendências entre os eleitores e planejarem suas estratégias”.

Na impossibilidade de se fazer uma pesquisa ampla, alguns partidos recorrem a uma alternativa inegavelmente mais simples e barata: captar as intenções de voto nas redes sociais. Mas será que é uma boa fonte para substituir pesquisas?  A meu ver não, porque não são feitas com rigor científico, com métodos e técnicas adequadas, e nem sempre o número de seguidores nas redes sociais se transformam em votos e também não se consegue aferir tendências uma vez que a amostra não é representativa da população.

E há dois aspectos importantes sobre pesquisas eleitorais: primeiro, são caras: Em 2014, por exemplo, os dois partidos que foram para o segundo turno nas eleições presidenciais, o PT e o PSDB declararam ter gasto, respectivamente, R$ 11,3 milhões e em torno de R$ 9 milhões em pesquisas eleitorais e segundo, refletem o momento em que são realizadas e, portanto seus resultados podem mudar no decorrer do processo eleitoral (um acontecimento inesperado, o uso do horário eleitoral no rádio e televisão, etc.).

Mas um aspecto fundamental em relação aos resultados de pesquisas de intenção de voto é que a decisão do voto é muito mais complexa, com motivações que vão além das pesquisas, ou seja, se há motivações políticas, há também econômicas, psicológicas etc., enfim, pesquisas são importantes porque ajudam no planejamento das campanhas, podem influenciar os partidos, eleitores etc., mas não determinam os resultados de uma eleição.

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Homero de Oliveira Costa é Professor Titular (Ciência Política) do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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