Natal Cidade Inteligente Artigos

terça-feira, 15 novembro 2016
Ponte Newton Navarro, em Natal, fez parte do estudo.

Artigo de Julio Francisco Dantas de Rezende para o Nossa Ciência

Durante pesquisa de pós-doutorado nos Estados Unidos pude observar o funcionamento de diversas cidades americanas: Nova York, Washington, Orlando, Los Angeles, São Francisco, entre outras. Uma constatação que se pode afirmar é que todas elas funcionam muito bem quanto ao provimento de serviços públicos: coleta de lixo, abastecimento de água, sistema de esgoto, limpeza urbana, bom funcionamento do transporte público, excelente infraestrutura, diga-se nesse último quesito a ausência de buracos em calçadas e vias. Essas cidades podem ser tidas como uma referência para se pensar a cidade de Natal.

Pensar uma cidade não é uma tarefa simples. Para discutir o tema da cidade inteligente gostaria de evocar a teoria da sustentabilidade humana. Conforme essa teoria, assim como as empresas, o ser humano necessita desenvolver mecanismos que garantam a sua sobrevivência. Isso implica em manter boas condições psicológicas, financeiras e de saúde física. Assim, pensando-se em uma cidade como um indivíduo – e tendo Natal nessa perspectiva – questiona-se: Natal é uma cidade inteligente?

Percebe-se que um importante ativo da cidade é uma bela e excelente condição geográfica. Percebem-se lindas praias e a boa manutenção de dois parques urbanos: Parque das Dunas e Parque da Cidade. As belezas naturais impulsionam o turismo com destaque à economia dos hotéis e restaurantes. Contudo, reclamação existe referente a ativos de entretenimento não serem disseminados em várias regiões da cidade.

No exame da gestão pública, o final de 2016 registra dificuldade de pagamento da folha de funcionários públicos municipais e estaduais, o que tem efeitos diretos e indiretos na economia prejudicando o comércio, gerando demissões e um efeito cíclico negativo. O governo estadual com sede em Natal e a prefeitura perdem receitas e a capacidade de investimentos em melhoria da infraestrutura urbana.

Uma das áreas que sofrem maiores críticas em Natal é o transporte público que apresenta baixa qualidade/manutenção dos ônibus com assaltos regulares dificultando que esse meio de transporte se universalize encorajando que as pessoas deixem de usar o veículo particular. É imperativo a construção de ciclovias de modo a se criar a infraestrutura do uso de bicicletas.

No exame do contexto social e cultural em Natal, vê-se que a concentração de elevada quantidade de servidores públicos federais, estaduais e municipais influencia na geração de uma cultura de funcionalismo público.

Um aspecto positivo do contexto social natalense é a elevada quantidade de instituições universitárias, enquanto existem críticas quanto à qualidade das instituições públicas do ensino fundamental e médio.

A partir de tudo o que foi exposto, é possível propor um conjunto de orientações que se coadunam com o que se compreende quanto ao que seja uma cidade inteligente.

Útil à proposição de uma cidade inteligente é a teoria da Hélice Tripla que defende como fundamental ao desenvolvimento de um território a atuação de instituições governamentais, acadêmicas e empresariais. Nesse sentido, quanto à gestão pública nota-se a necessidade de maior controle e eficiência dos gastos públicos; combate a desvios e corrupção; revisão de processos organizacionais e maior eficiência do serviço público, o que se compreende como um Estado Inteligente. Nota-se a necessidade de uma universidade empreendedora que esteja preparada para desenvolver novas tecnologias e colaborar na criação de novos negócios.

Os estudiosos do tema das cidades inteligentes consideram fundamental o uso da tecnologia para construir o desenvolvimento dos referidos arranjos. As tecnologias têm o poder de integrar pessoas; facilitar trocas; participar da definição de políticas públicas. Observa-se que isso está ocorrendo em Natal, embora de modo informal e sem um centro de controle.

É imperativo que se dissemine o empreendedorismo na sociedade. Hoje existe uma chance única da sociedade se organizar de modo colaborativo e autoadaptativo para encontrar oportunidades de negócio e construir uma condição de melhor qualidade de vida. Por exemplo, Uber e Waze facilitam a locomoção e o aplicativo desenvolvido no Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS-UFRN) ajuda a catalogar pontos na cidade que possuem foco de Aedes Aegypti. Sugere-se que o Whatsapp  e Facebook sejam utilizados como ferramentas para se pensar em novos negócios e se pensar a geração de oportunidades de trabalho, renda, ocupação e formação. Outro exemplo é o Mercado Livre e OLX que integram pessoas na venda e compra de produtos em uma cidade.

Sugere-se movimentos que façam o natalense integrar-se mais à praia, à natureza, a bons hábitos de saúde e melhoria da expectativa de vida. Isso colaboraria para a evolução da consciência de modo a se construir uma cidade mais pacífica e sustentável.

O conceito de cidade digital é uma construção. Uma cidade como Natal apresenta grandes desafios e a academia tem importante papel nesse debate. Cada local tem a possibilidade de criar o seu modo de desenvolver uma estratégia de cidade inteligente.

Sobre o interesse da academia em pensar e guiar os debates sobre as cidades inteligentes, novembro de 2016 registra dois eventos que abordam o tema de cidades inteligentes na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN): III Workshop sobre Cidades Inteligentes – WCID 2016 nos dias 17 e 18 no Instituto Metrópole Digital e o #NatalCleanTech / II Seminário de Tecnologias Ambientais nos dias 16 e 17. No caso desse último evento, se discutirá como as tecnologias ambientais podem colaborar para: diminuição da produção de carbono; ter cidades mais limpas; gerar oportunidades de negócios; colaborar na operacionalização do conceito de cidade inteligente; e gerar a melhoria da qualidade de vida proporcionando-se o desenvolvimento das cidades sustentáveis.

Julio Francisco Dantas de Rezende é diretor de Inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Norte (Fapern) e professor de Engenharia da Produção na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

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