De acordo com as respostas dos assessores, há diferença de percepção nas regiões brasileiras quanto ao relacionamento entre universidade e mídia
Por Inara Regina Costa
No levantamento (survey) realizado com as 63 universidades a taxa de resposta obtida foi de 89%. Das 56 assessorias de comunicação que responderam 54 questionários foram considerados válidos. Os dados foram coletados (Julho a Outubro/2018) por meio de formulário online enviado aos e-mails institucionais. A pesquisa foi realizada com amostragem não probabilística por acessibilidade com objetivos exploratória e descritiva.
Para construir o questionário, os elementos das premissas fundamentais da Lógica Dominada por Serviço (LDS) foram interpretados e vinculados aos valores pessoais identificados a partir da entrevista qualitativa laddering (leia a parte 1 deste artigo para compreender essa técnica). Neste recorte foram contemplados quatro valores pessoais, quatro premissas da LDS e seis assertivas conforme os tópicos a seguir:
Para cada assertiva, o respondente assinalava o seu grau de concordância/discordância: 0 – não sei informar, 1 – discordo totalmente (DT), 2 – discordo em parte (DP), 3 – concordo em parte (CP) e 4 – concordo totalmente (CT).
O valor senso de realização está presente quando as pesquisas científicas, resultados e implicações práticas para a sociedade podem ser conhecidos, bem como a efetividade do processo de divulgação científica e os atores envolvidos podem ser avaliados. Este valor pessoal está relacionado com as premissas da troca de serviço e dos recursos operantes que geram benefícios estratégicos (PF1 e PF4), pois os conhecimentos e as habilidades dos atores envolvidos contribuem para a efetividade do processo de divulgação científica.
O valor pertencimento está presente quando assessores, pesquisadores e jornalistas se vêem como cocriadores no serviço de divulgação científica. A responsabilidade aumenta em relação aos resultados da pesquisa, divulgação e a relevância do estudo manifestada pela comunidade externa. Este valor pessoal é pertinente com as premissas de que o valor é cocriado por múltiplos atores incluindo o beneficiário (PF2).
O valor prestígio social está presente quando os resultados de pesquisas com interesse público legitimam a atividade da pesquisa e sua divulgação científica, aumentando a percepção de valor dos atores envolvidos nessas atividades. Este valor é pertinente com a premissa de que todos os atores sociais e econômicos são integradores de recursos (PF3), tais como pesquisadores, divulgadores, universidades, agências de fomento, CNPq, entre outros.
O valor ser bem respeitado está presente quando os pesquisadores buscam reconhecimento social, credibilidade e confiança prioritariamente de seus pares e secundariamente dos demais públicos externos. Este valor pessoal está relacionado com a premissa de que o valor é sempre único e determinado pelo beneficiário (PF4), pois pesquisadores podem considerar importante obter o reconhecimento de suas atividades científicas, também, junto à sociedade.
Principais Resultados
O perfil dos gestores de comunicação, em sua maioria, é jornalista (55%), técnico-administrativo (72%), ocupa o cargo há no máximo cinco anos (50%) e a área em que atua é denominada Assessoria de Comunicação (45%) a qual está vinculada diretamente à reitoria (93%). Na maioria das universidades (70%) não há um subsetor/núcleo de divulgação científica dentro da Comunicação, e tampouco um setor exclusivo na instituição (86%) para esta finalidade.
Ao analisar a assertiva A1 “os jornalistas tem fácil acesso aos pesquisadores” o resultado mostra que 80% tendem mais a concordar. Destes destacam-se as universidades federais da região Centro-Oeste com 100% de concordância. Por outro lado, a região Sul com 40% é a que mais discorda sobre essa facilidade de acesso.
Quanto à assertiva A2, destacam-se as IFES localizadas na região Nordeste, pois 82% concordam que os jornalistas costumam demonstrar grande interesse pela produção científica das universidades. Por outro lado, 70% dos respondentes da região Sul discordam da assertiva, gerando oportunidade para rever a oferta de proposição de valor neste relacionamento.
A região Norte destoou das demais regiões na assertiva A3 em virtude de que 78% dos respondentes concordaram que a mídia externa aborda de forma adequada os resultados de pesquisas. Enquanto que a região Centro-Oeste com 66,7% foi a que mais discordou desta assertiva.
Quanto à análise da assertiva A4 verificou-se que a maioria (81,5%) dos respondentes das IFES concorda sobre o envio de press releases pelas assessorias para despertar o interesse de jornalistas em divulgar as pesquisas. Destacam-se as universidades federais da região Sul com 90% concordando com esta assertiva.
Ao analisar a assertiva A5 constata-se que 87% dos respondentes concordam que a imprensa costumeiramente procura os pesquisadores para obter informações e opiniões especializadas. Destacam-se as universidades do Sudeste com 93% e as do Centro-Oeste com 100% de concordância. Por outro lado, a região Nordeste é a que mais discorda com 23% cujos respondentes percebem que há pouca procura pelos jornalistas.
A última assertiva (A6) em análise mostrou que para 83% dos respondentes um dos motivos do pouco interesse da mídia em divulgar a produção científica é devido à redução do quadro efetivo de jornalistas nas redações. Destaque para as regiões Norte e Centro-Oeste com 100% de concordância. Por outro lado, as universidades sulinas foram a que mais discordaram (40%), o que demonstra realidade distinta em relação ao quantitativo de jornalistas em redações.
Portanto, a perspectiva da Lógica Dominada por Serviço contribui na compreensão de que os conhecimentos e as habilidades de assessores, jornalistas e pesquisadores facilitam a construção de um relacionamento e a efetividade do processo de divulgação científica. Os resultados oferecem elementos que sugerem incrementar o serviço de divulgação científica de modo à cocriar valor tanto para a comunidade interna quanto para a comunidade externa.
Inara Regina Batista Costa – Professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas.
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Inara Regina Batista Costa
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