Em todas as situações epidêmicas, as populações costumam ficar ansiosas e inseguras, muitas vezes nutrindo-se de falsas esperanças, ao invés de adotarem as condutas indicadas pelos responsáveis pela saúde pública.
No dia 19 de março, foi amplamente divulgado pela grande mídia e pelas redes sociais a descoberta de que uma droga, a cloroquina, se mostrou eficaz no tratamento de casos da Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Embora haja algumas evidências, em experimentos de laboratório, de que a hidroxicloroquina tem efeito antiviral, inclusive contra o SARS-CoV-2 (o tipo de coronavírus que causa a Covid-19), cumpre alertar à população que os estudos científicos disponíveis para uso em humanos ainda são muito insuficientes para indicar o uso deste medicamento aos pacientes acometidos pela Covid-19.
Este é o momento de todos contribuírem para reduzir a disseminação da doença, adotando as medidas de proteção indicadas, especialmente o distanciamento físico de outras pessoas e aglomerações, permanecendo, portanto, em casa e circulando o mínimo possível. Não podemos dispersar esforços, atenção e recursos em condutas equivocadas, em detrimento da valorização do básico: evitar novas infecções. No que se refere aos serviços de saúde, a luta de todos os envolvidos é para manter a qualidade assistencial na extensão necessária em cada momento do processo epidêmico.
Em que pese o presidente dos EUA ter anunciado que liberaria a cloroquina para uso nos pacientes do seu país, o dirigente máximo da agência reguladora de medicamentos do país informou, claramente, que ainda se faz necessária a condução de estudos científicos que venham a comprovar ou a refutar os achados iniciais, que ainda envolvem poucos doentes, e cujos resultados, embora considerados promissores por algumas pessoas, não devem ainda encorajar seu uso na rotina dos protocolos de atendimento aos pacientes com Covid-19.
A falsa esperança está levando a uma corrida em massa da população às farmácias para aquisição e estoque do produto anunciado como eficaz. Na situação crítica que estamos vivenciando, o melhor que temos a fazer é evitar a contaminação em massa, ao invés de nos distrairmos com condutas anunciadas como milagrosas. Precisamos de distanciamento físico e de muita coesão social.
Maria Glória Teixeira é Pesquisadora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia).
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