Considerada uma doença inflamatória crônica, a artrite reumatoide é uma enfermidade que atinge principalmente as articulações, causando inchaço e dores nas juntas. Atividades simples como andar, correr, subir uma escada ou até escovar os dentes acabam se tornando um grande obstáculo para quem tem a artrite. Segundo dados divulgados no 36º Congresso Brasileiro de Reumatologia, cerca de 23,7 milhões de pessoas em todo mundo sofrem com a doença, o que equivale a 1,5% da população mundial.
Por ser uma doença autoimune e que não tem cura, o tratamento da artrite precisa ser seguido à risca para que complicações maiores como deformação óssea ou, em casos mais raros, problemas em órgãos como pulmão, coração e rim, sejam evitados. Hoje é possível encontrar no mercado uma série de medicamentos que auxiliam no tratamento da doença, porém seu uso contínuo faz com que, a longo prazo, surjam alguns efeitos colaterais nos pacientes.
“Os anti-inflamatórios, de maneira geral, produzem irritabilidade gástrica, além de outras inconveniências no tratamento a longo prazo. Pessoas que possuem artrite geralmente fazem o uso de outras medicações contínuas e diárias por serem hipertensas ou diabéticas. Então quando você começa a usar anti-inflamatórios, esses medicamentos podem acabar alterando o comportamento ou os efeitos dessas drogas [usada para o tratamento de outras doenças] e vice-versa”, afirma o professor Lucindo José Quintans Júnior, do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Sergipe (UFS).
Pensando em desenvolver um produto que ajude no combate a artrite e que diminua a incidência dos efeitos colaterais que os medicamentos tradicionais apresentam, a egressa do doutorado em Ciências da Saúde Mônica Santos de Melo, junto ao professor Lucindo Quintans, seu orientador, descobriram que a Kielmeyera rugosa, conhecida como “malva-do-campo”, apresentava substâncias importantes no combate à artrite.
“Através de pesquisas realizadas na literatura, a gente identificou que os efeitos antinociceptivo [redução de estímulos que causam dor em humanos] e anti-inflamatórios dessa planta ainda não tinham sido estudados”. A partir daí, em conjunto com o Departamento de Química, decidimos estudar o potencial efeito dela [Kielmeyra rugosa], conta Mônica, que hoje é professora do Departamento de Educação em Saúde, do campus da UFS em Lagarto.
“Essa planta, que já vinha sendo trabalhada pelo professor Paulo Nogueira, do Departamento de Química há alguns anos, apresentou compostos químicos importantes. São compostos das classes das xantonas e das cumarinas. Apesar de serem relativamente tóxicas, essas duas classes químicas expressam muita ação anti-inflamatória”, conta Lucindo.
A descoberta, cuja patente foi registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), adotou a via tópica (aplicada diretamente na pele), em vez da via oral, como é comum nos medicamentos tradicionais. Essa aplicação possibilita que problemas como a irritação gástrica e outros efeitos colaterais possam ser evitados. “Utilizando a via de administração tópica, a gente retira o efeito que nós chamamos de primeira passagem, que é um efeito que sobrecarrega o fígado, ocasionando o que chamamos de sobrecarga hepática”, afirma Mônica.
Andamento da pesquisa
Os estudos realizados até agora estão na fase pré-clínica (teste realizado em animais) e para que possa ser desenvolvido um medicamento pronto para ser comercializado é necessário cumprir outras etapas.
“Depois de desenvolvida a formulação e realizados os testes pré-clínicos, a gente investiga se esse produto é seguro para o ensaio clínico (teste em humanos). Só após essa etapa é que a gente faz o produto em grande escala para que possa ser testado em pessoas que possuem a patologia”, diz a professora Francilene Amaral, do Departamento de Farmácia e que também participou da invenção.
Mesmo sendo uma planta de conhecimento popular para tratamento de inflamações, o seu uso sem a devida comprovação de segurança, em vez de ajudar, pode gerar problemas para as pessoas que a consomem, por isso não é aconselhável sua utilização antes de todos os testes.
“O que é natural não é atóxico. Então todo o medicamento, toda a preparação farmacêutica, pode produzir toxicidade e pode fazer mal ao paciente. Na fase em que o estudo está, ele sugere uma efetividade e um efeito, mas as garantias de segurança no uso terapêutico é uma fase posterior a essa. Não é recomendado que a população faça o uso direto disso [da planta] até que os outros estudos sejam finalizados”, enfatiza Lucindo.
Investimentos
Por ser um estudo que demanda tempo e recursos financeiros, o professor Lucindo aponta ainda a importância de se investir em ciência e tecnologia para que pesquisas como essas possam ser realizadas. “Os cortes que aconteceram na CAPES e no CNPQ inviabilizam a continuidade de estudos como esse para a escala clínica em humanos porque requer dinheiro, estrutura e a aquisição de insumos, o que acaba impossibilitando os estudos clínicos a curto e médio prazo”, ressalta Lucindo.
Assinam como inventores da patente: Mônica Santos de Melo); Lucindo José Quintans Júnior; Ângelo Roberto Antoniolli; Paulo César de Lima Nogueira; Valeria Regina de Souza Moraes; Emmanoel Vilaça Costa ; Adriano Antunes de Souza Araújo; Francilene Amaral da Silva; Mairim Russo Serafini e Mary Claudine Paixão De Matos.
A patente pode ser consultada neste site, através do número de pedido: BR 102015017642-2.
Deixe um comentário