Alimentação nos primeiros mil dias de vida pode determinar saúde no futuro, aponta pesquisa da UFBA
A alimentação de uma pessoa ao longo dos mil primeiros dias de sua vida – período que abrange desde o início da gestação até os 3 anos de vida da criança – pode ter consequências em sua saúde pelo resto de seus dias. Foi essa a conclusão a que chegou a pesquisadora Gabriela Perez, da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em um estudo apresentado no I Encontro Regional de Nutrição Experimental e Clínica, realizado nos dias 28 e 29 de novembro.
A influência da alimentação dos pais no corpo dos filhos durante a gestação e a amamentação é um tema que vem sendo bastante estudado pelo Laboratório de Nutrição Experimental (Labnex) da Escola de Nutrição da UFBA. Durante os primeiros 1000 dias de vida, correspondentes à gestação, aleitamento e até os 3 anos de idade, Perez explica que o ser humano passa pelo chamado “período crítico”, momento de seu desenvolvimento em que qualquer fator pode afetar, a longo prazo, órgãos, tecidos e até mesmo o modo como o metabolismo funciona (chamado de “programação metabólica”). Intitulado “Maternal and post-weaning exposure to a high fat diet promotes visceral obesity and hepatic steatosis in adult rats“, o estudo está publicado na revista Nutrición Hospitalária.
É nas alterações causadas na programação metabólica que está a origem das tendências à obesidade e doenças crônicas. Em sua pesquisa, Gabriela Perez observou os efeitos de uma dieta equilibrada (“dieta controle”) e de uma com excesso de lipídios e gorduras ruins (“hiperlipídica de cafeteria”) em quatro grupos de ratos: um grupo cujas mães tinham uma dieta equilibrada, e os filhos também (grupo CC); um grupo cujas mães tinham uma dieta equilibrada, mas os filhos não (grupo CH); um grupo cujas mães não tinham uma dieta equilibrada, mas os filhos tinham (grupo HC); e um grupo em que nem mães e nem filhos tinham uma dieta equilibrada (grupo HH).
A pesquisadora observou que o grupo HC (mães com dieta hiperlipídica e filhos com dieta equilibrada) era o segundo com maior concentração de tecido visceral, que, em excesso, pode gerar complicações, como problemas cardíacos. O resultado indicou que, mesmo que a pessoa tenha uma alimentação saudável na vida adulta, as características adquiridas no período crítico continuam tendo forte influência na vida futura das pessoas – e, segundo Perez, é possível que uma dieta possa gerar consequências observáveis em até três gerações de descendentes. Também foi observado que os fígados dos grupos HH e HC eram os mais comprometidos e com maiores chances de desenvolver cirrose.
Segundo Gabriela Perez, o Brasil registrou um aumento no consumo de frutas e legumes, resultado positivo, mas os alimentos com gorduras saturadas ainda são os mais consumidos e com acesso mais fácil, o que favorece o crescimento de doenças como diabetes, hipertensão e outras relacionadas à má alimentação.
O I Encontro Regional de Nutrição Experimental e Clínica teve como foco as contribuições dos estudos em nutrição clínica e experimental para uma melhor compreensão acerca da importância do diagnóstico do estado nutricional de indivíduos e populações, visando à prevenção de doenças, à promoção à saúde e à segurança alimentar em seus diversos aspectos, e contou com a participação de professores da UFBA e das universidades federais do Oeste da Bahia (Ufob) e do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Para a coordenadora do evento e professora de nutrição clínica da Escola de Nutrição da UFBA, Tereza Deiró, as pesquisas de nutrição experimental, como a de Perez, são importantes para se pensar soluções para os problemas gerais de alimentação das sociedades e para a promoção da saúde. Na abertura do evento, a professora da Escola de Nutrição Sandra Chaves abordou o tema “Ameaças à autonomia e às pesquisas nas Instituições de Ensino Superior via Future-se”.
Estudo publicado na revista Nutrición Hospitalária
Fonte: Informe Edgar Digital/UFBA
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