Mensagem de esperança mostra que a ciência é a grande aliada do desenvolvimento de um país
Prezada Pátria Amada,
Aqui quem escreve é o Papai Noel. Parece inusitada esta carta, mas não é. Afinal, todos recorrem a mim neste final de ano. Então, tenho o direito de recorrer a alguém também, inclusive a você. Peço-lhe que tenha por mim a estima que outrora você teve pelos filhos deste solo. Sei que não é um pedido tão simples, pois você já não é mais tão gentil. Seria porque os seus filhos são injustos com você?
Este ano, as queimadas apagaram o status do seu céu, ele não é mais formoso, risonho e límpido. Com tanta fumaça foi impossível ver a imagem do cruzeiro. Na verdade, o que sempre resplandecerá na minha mente será a lembrança das labaredas, da sua floresta em chamas e do tal dia do fogo. Pensei por um instante que não poderia mais chamar você de “gigante pela própria natureza”.
Seus campos, antes exuberantes, agora andam tão cheios de pasto. Seus rios outrora tão risonhos entristeceram-se por causa do mar de lama que os invadiu. Uma lama tóxica. Pesada de tantos metais. A lama chegou até o Velho Chico − símbolo do impávido colosso. Antes da lama, ele espelhava a sua grandeza. Era tido como forte, mas não sei se ainda é belo.
O som do seu mar já não é mais o mesmo. Deve ser tudo culpa do óleo. Você chegou a se incomodar? Sinceramente, eu creio Prezada Pátria que o óleo tenha transformado o seu sonho tão intenso – de ser o Florão da América – em pesadelo profundo.
Sei do seu esforço. Todos sabem. Todos viram. Você deu tudo e nada em troca recebeu. Mas a sua frustração não pode e nem deve levá-la a culpar os outros, como a Universidade Pública. Ou será que é o som da balbúrdia que vem dela que a incomoda? Ou ainda o verde dos bosques de Cannabis plantadas nos Campi dela? Já sei. Os peixes geneticamente modificados que ao invés de comerem o óleo, fugiram dele?
Ou terá sido o fato do renomado Ricardo Galvão ter encontrado amparo na comunidade científica internacional, até na Nature, aquela revista desprestigiada, e você ficou enciumada? Ou foi a pirralha, que insiste em defender a ideia de aquecimento global, corroborada por mais de 2000 cientistas espalhados pelo globo? Já sei. Você era idolatrada e hoje não é mais. Eles preferem idolatrar a pirralha do ano.
Sem mais arrodeio, o meu pedido é para que, no ano que vem, os filhos deste solo sejam acolhidos no seu seio com mais amor e esperança. Em troca, prometo convencer seus filhos a retribuir-lhe com mais bom senso e pensamento crítico. Ah, ia quase esquecendo: a ciência é uma grande aliada sua. Todas as Pátrias precisam dela. Ela ajuda a engrandecê-las. Por isso, trate-a bem também. Inclusive, para que volte a ser chamada de Pátria Amada pelos seus filhos.
Abraços, Papai Noel.
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Leia o texto anterior: Os 150 anos da revista Nature: o que esperar do futuro
Thiago Jucá é biólogo, doutor em Bioquímica de Plantas e empregado da Petrobrás.
Thiago Jucá
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