É fundamental a integração entre o saber tradicional e o saber formal. E a sinergia está em somar todos os esforços, sem preconceitos
A academia (conhecimento referenciado) tem recorrido cada vez mais à etnociência, como uma forma de redescobrir os conhecimentos tradicionais que em sua grande maioria foram sufocados pela colonização europeia.
Um exemplo recorrente e extremamente valoroso se deve ao conhecimento tradicional vinculado à biodiversidade. A Amazônia e a Caatinga, por exemplo, detêm o potencial de cura de inúmeras doenças, cuja abordagem depende da integração entre o saber tradicional e o saber formal.
Como vemos, em algumas áreas a aproximação entre os saberes é extremamente natural. Por outro lado, em ciências mais duras, como a física, esta aproximação não se mostra tão simples. As ferramentas e seus formalismo nos fazem acreditar que o próprio criador no momento do Big Bang tenha disparado as equações de Maxwell sob forma de pó sobre o primeiro fóton que cortou a escuridão (com o Big Bang personalizado como modelo verdadeiro até aqui).
E uma simples visita ao sítio arqueológico de Machu Pichu no Peru já ajuda a desconstruir muito desta colonização formalista que nos preenche. O Templo do Sol, erguido sob forma semicircular (curvatura de 10,5 m) e levantado na configuração de pedra sobre pedra (sem argamassa) dispõe de duas janelas que permitem ver o nascer do sol no solstício de verão (dezembro) e de inverno (junho). E não apenas no templo, mas também nas magníficas construções protegidas contra terremotos e sistemas de drenagem de água e agricultura.
Tudo isso corrobora para uma conclusão simples: a física e a astronomia dos incas não dependeram de nenhum conceito que fora desenvolvido na Europa. Esta física que foi apagada pelos colonizadores existiu e partiu da observação do céu e das estrelas. A engenharia inca surgiu desta física que foi passada de geração em geração – sem cadernos nem equações.
É fundamental respeitar todo e qualquer conhecimento tradicional, pois a busca pelo saber pode ocorrer sob o sol da Caatinga no alto dos Andes ou até mesmo dentro de uma Universidade. Em todos os casos, é louvável a inquietação humana na busca pelas respostas que o Universo esconde de nós. E a sinergia está em somar todos estes esforços, sem preconceitos.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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