O desconhecimento do papel real da ciência e a dificuldade em adequar a linguagem científica ao famoso popular abre espaços para os movimentos anticientíficos
Participando de uma mesa redonda em minha Universidade, tive a oportunidade de ouvir a reclamação de uma estudante da plateia que falava de uma ciência “exagerada” que os laboratórios fazem. E essa palavra persistiu em minha mente: Como podemos chamar a ciência de exagerada se ela não conseguiu respostas fundamentais como a cura do câncer? O conhecimento humano ainda tem muito a evoluir, ao ponto de reinventar a própria intervenção humana sobre o meio ambiente – com uma nova forma de convivência sustentável.
Com isso, vemos que o termo “ciência exagerada” só pode ser atribuída ao desconhecimento do papel real da ciência somado ao afastamento entre academia e o povo. E este processo é agravado pelo formalismo exagerado com que se trata a coisa científica. Muitos médicos se negam a explicar os seus pareceres aos pacientes, por serem gente “sem estudo”. Os cientistas também preferem compartilhar os seus achados em conferências internacionais ao invés de conversar com os seus financiadores: o povo.
E esta dificuldade em adequar a linguagem científica ao famoso popular abre espaços para os movimentos anticientíficos, que não tem nenhum pudor em assumir a linguagem popular. De fato, é bem mais simples reproduzir um livro texto e exigir pré-requisitos para trabalhar a mecânica quântica de Schrödinger. Melhor seria se além de estudar as partículas na caixa, explicássemos (à luz da mecânica quântica) porque a cenoura tem a cor que tem.
E ao não trazermos a ciência para o povo, cedemos espaço também para os coaching quânticos que se aproveitaram da ignorância alheia para vender argumentos errados sobre energia, frequência, vibração e etc.
A nosso favor, já dizia Einstein: “ Se você não consegue explicar algo de modo simples é porque não entendeu bem a coisa”. Nossos financiadores (o povo) precisam acessar prioritariamente o conhecimento produzido pela academia.
Com isso, eles entenderão não existir exagero algum na ciência e poderão defender a continuidade desta magnífica saga da humanidade na busca por todo o potencial que o universo tem a nos oferecer.
O segredo para isso? Simples.
Divulgação científica.
Divulgação científica urgente!
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
Excelente colocação, mestre Helinando!
Tento sempre isso.
Grande abraço.