Colunista traça um paralelo entre universos distintos para falar de política e gestão
Imagine que seu clube de futebol do coração vai mal das pernas e resolve eleger um cidadão que prometeu mudar tudo. Como o time acabara de ser rebaixado para a série B do brasileirão, o presidente pôs em prática a sua política agressiva de acabar com tudo o que não dava lucro imediato ao time. Como o clube estava quebrado e sem receita, a torcida aceitou.
Sua primeira medida foi a de negociar os jogadores mais jovens com clubes da Europa, contingenciou os recursos que eram direcionados para pagamento de água e luz, demitiu os funcionários. Manteve os caciques da equipe (os jogadores mais bem pagos) que decidiam quem seria o próximo técnico a rodar.
Mas a crise continuou. E ele decidiu fechar o centro de treinamento. Encerrou as atividades das categorias de base (sub 12, 15 ,17).
O gramado secou, o estádio foi interditado por falta de segurança e os craques entraram na justiça contra o clube por falta de pagamento.
Após uma longa série de rebaixamentos, o presidente se viu obrigado a vender o estádio – que deu lugar a um shopping center. Com o dinheiro da venda, contratou um time mediano, mas precisava pagar aluguel dos estádios dos outros para atuar. E seu time perdeu a identidade, a torcida e o mais importante para ele: a renda. Da última vez que se teve notícias do clube, estava jogando a seletiva para a segunda divisão do campeonato estadual.
O presidente, como era de se esperar, foi exonerado do cargo e substituído por outro que levou a equipe para um rumo mais promissor. Todavia, trazer o estádio de volta e sua torcida, já não era mais possível. O estrago já havia sido grande demais.
Os velhos (e cada vez mais escassos) torcedores que restaram ao clube chegaram à conclusão de que com patrimônio não se brinca.
A má gestão do clube o levou a um patamar no qual várias décadas se passarão, se tudo der certo, para que o clube almeje retornar àquilo que era uma posição “vexatória” no futebol nacional.
As feridas de uma gestão que destrói o patrimônio são profundas e muitas vezes irreversíveis, seja na política que rege o futebol, seja na política que conduz o futuro de uma nação.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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