Em parceria com pesquisadores da França, Espanha, Itália, Portugal e Reino Unido, avaliou-se como as florestas de animais marinhos (MAFs, na sigla em inglês) podem ser afetadas por fatores como aumento de temperatura, acidificação dos oceanos, mudanças nos padrões de chuvas, aumento do nível do mar, poluição marinha, pesca excessiva e introdução de espécies exóticas.
Os pesquisadores apontam, em artigo publicado na ICES Journal of Marine Science, que vivemos hoje um período de segunda transição ambiental, ainda com resultados imprevisíveis, mas que traz um problema já vivenciado: a diminuição da disponibilidade de energia necessária para manutenção biológica dessas MAFs, tanto em ambientes de baixa profundidade (até 30 metros) quanto alta (a partir de 1.000 metros).
Ciclo de complicações ambientais
Um dos fatores causadores desse problema é, por exemplo, o aumento do nível do mar, que resulta em maior erosão das orlas marinhas e turbidez (algo como a falta de transparência da água). Isso diminui a possibilidade de captação de luz, necessária para a fotossíntese das MAFs, e aumenta o estresse biológico delas, induzido pela presença de sedimentos trazidos pela erosão.
A combinação desses elementos gera uma incapacidade dos ecossistemas de crescer e prosperar em nível suficiente para acompanhar a demanda criada pelas mudanças climáticas, acabando por criar um ciclo de complicações ambientais, já que esses ecossistemas são importantes para prevenir enchentes e mais erosão nas costas e em ilhas oceânicas.
“Diferentemente do continente, onde as plantas formam as florestas, no fundo do mar é comum que os ecossistemas sejam dominados e estruturados por animais como corais, esponjas e moluscos”, explica Sergio Rossi, coordenador da pesquisa e docente da Universidade de Lecce (Itália) – que atualmente desenvolve estudos como professor visitante no LABOMAR. Todos esses animais são afetados pelas alterações ambientais em curso, de recifes em zonas tropicais a jardins de esponja em águas frias, como na Antártida.
Degradação
Os recifes de corais, por exemplo, têm sido impactados também por um problema chamado branqueamento, que é a perda de cor causada pela fuga de algas (principal fonte de alimentação dos corais), por conta do aumento de temperatura do mar.
Casos recentes de manifestação desse processo é o da Grande Barreira de Corais, na Austrália, que perdeu 30% da população desses organismos em 2016, e o intenso branqueamento de corais no Brasil em 2019, com impacto ainda em fase de avaliação.
A degradação das florestas de animais marinhos (como os recifes de corais) reduz o potencial de absorção de carbono que possuem, um dos principais papéis que cumprem contribuindo para a manutenção do equilíbrio do clima global. Os pesquisadores mostram que essa degradação acelera as próprias mudanças climáticas, resultando em implicações econômicas, ecológicas e até sociais.
Isso porque haveria uma perda de biodiversidade e recursos importantes para a pesca, aumento de secas, inundações e erosão das praias e perdas de atividades econômicas advindas dos recursos marinhos, a chamada economia azul ou economia do mar.
A prevenção desses problemas passa pela redução da emissão de carbono por todos os países, evitando uma sobrecarga para as MAFs, além de ações locais e regionais que protejam as florestas marinhas, como regulação da pesca, saneamento básico e implementação efetiva de unidades de conservação.
Transições
Os pesquisadores trabalham com a ideia de que o meio ambiente marinho já viveu seu primeiro momento de transição, quando mudanças foram percebidas a partir da Revolução Industrial, há dois séculos. Pesca industrial e excessiva, poluição e falta de gerenciamento dos ambientes de costa são alguns dos fatores apontados como causadores de redução ou mesmo dizimação da complexidade estrutural de diversas MAFs.
Alguns impactos dessa primeira transição podem ser considerados, de acordo com a pesquisa, crônicos e não reversíveis, enquanto outros são reversíveis, mas com efeito duradouro. Entretanto, um problema não presente na primeira transição, mas significativo na segunda, é justamente o déficit de captação de energia pelos ecossistemas.
“Essa mudança intensa na vida marinha começou há cerca de 200 anos, nesse período histórico da humanidade, porém foi acelerada nos últimos 30 anos pelo aumento da emissão de gases de efeito estufa decorrente da atividade humana (desmatamento e emissões industriais e veiculares). Por exemplo, os anos de 2015 a 2018 foram os mais quentes em mais de um século”, alerta o Prof. Marcelo Soares, do LABOMAR, coautor do artigo.
A pesquisa foi feita no contexto do projeto CAPES-PRINT-UFC (Programa Institucional de Internacionalização), e a rede de pesquisa foi financiada pela União Europeia.
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