O fim da privacidade de nossos dados deve servir para algo maior que manter ricos cada vez mais ricos
Vamos fazer um teste: você lembra a última vez em que instalou um aplicativo em seu celular? E o mais importante: quantas permissões você teve de dar para finalizar a instalação? Acesso ao microfone, à câmera, às fotos. E na farmácia, quantas vezes pediram o seu CPF “para constar no comprovante fiscal”? Não vamos nem citar a infinidade de fotos compartilhadas nas redes sociais. Basta ressaltar os comerciais de produtos que coincidentemente aparecem em sua tela logo após uma busca que você fez ao computador.
Mais do que buscas e compras, somos alimentadores dos maiores bancos de dados do planeta, que classificam os cidadãos de acordo com suas preferências comerciais – caixinhas de consumir.
A quantidade de informação nestes bancos de dados só tende a crescer, e a cada dia estamos mais próximos de espiões ainda mais eficientes – como o smart watch, que torna público dados como horas de sono, pressão arterial, localização, distância caminhada, entre outros.
E sendo este processo irreversível, precisamos lidar com o fim da privacidade como algo que possa ao menos beneficiar o coletivo. Antes de consumidores, somos todos cidadãos, contribuintes.
Esta massa enorme de dados que atua em favor das grandes corporações deve também melhorar a mobilidade urbana, a abrangência do SUS, a qualidade do ensino público, o controle no investimento de agentes públicos…
O fim da privacidade de nossos dados deve servir para algo maior que manter ricos cada vez mais ricos. Precisamos ter a expectativa de que a manipulação destes dados por inteligências artificiais cada vez mais poderosas possa nos guiar não apenas à compra de um novo par de tênis, mas também por um novo modo de produção sustentável e que traga remediação à ação destrutiva do homem ao meio ambiente.
E o grande segredo para esta girada de chave deve ser a rentabilidade deste novo modo de produção. Resta-nos torcer que salvar o planeta seja uma solução rentável aos donos do capital financeiro. Só assim a humanidade poderá fazer uso de seus próprios dados e rumar em direção contrária à destruição do meio ambiente.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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