Raimundo Nogueira, diretor do Centro de Ciências da UFC conta como foi trabalhar com John Kosterlitz e sobre a visita dele ao Brasil
Antes de se tornar mundialmente conhecido como um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física, anunciado nesta terça (4), o físico escocês John Michael Kosterlitz esteve no Brasil e visitou o Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará (UFC), em 2006. Quem conta essa história é o professor Raimundo Nogueira da Costa Filho, diretor do Centro de Ciências da UFC, que trabalhou com Kosterlitz na Brown University (EUA) em 2001, em problemas de física estatística. “Depois de trabalharmos juntos, criamos laços de amizade, além de laços científicos”, detalha o diretor, explicando o motivo da visita.
Nogueira lembra que apesar de estranhar o calor de Fortaleza, Kosterlitz teve uma boa impressão do departamento que visitou na UFC. Os dois pesquisadores assinam, juntamente com o professor Enzo Granato, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o trabalho “Pattern selection in a phase field model for directional solidification”.
“Nesse trabalho usamos um modelo de campo de fase para estudar um problema de solidificação direcional. Estudamos o aparecimento de padrões nas mudanças de fases, especificamente os padrões na interfase sólido para líquido. É um estudo de cunho acadêmico no qual buscamos entender esses padrões”, esclarece Nogueira.
Estados exóticos da matéria
Para Nogueira, os trabalhos de Kosterlitz realizados em 1972 e 1973, quando usou métodos matemáticos avançados para estudar fases não usuais, ou estados não usuais da matéria, tais como supercondutores, superfluidos ou filmes finos magnéticos foram os mais importantes. “Graças a seu trabalho pioneiro, existe toda uma busca por novos estados exóticos da matéria com possíveis aplicações em ciência dos materiais e eletrônica”. Os trabalhos em transições de fase topológicas e fases topológicas da matéria foi o que rendeu a Kosterlitz o prêmio Nobel. Também foram agraciados com a premiação os físicos David J. Thouless, F. Duncan e M. Haldane.
De acordo com Nogueira, o nível do conhecimento gerado nessa área no Brasil é promissor. “Estamos no estado da arte. Esse trabalho exige matemática bastante envolvente e temos o conhecimento da matemática, das ferramentas, a diferença foi a sacada de Kosterlitz. Ele conseguiu mostrar a transição da matéria de forma bidimensional, provou matematicamente algo exótico que não se esperava existir”, afirma.
“Pattern selection in a phase field model for directional solidification” (https://goo.gl/GNKWuo)
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