250 anos depois, Humboldt permanece atual Coluna do Jucá

quinta-feira, 19 setembro 2019

O naturalista Alexander von Humboldt foi um homem muito à frente do seu tempo e que fez avançar a fronteira do conhecimento humano

Semana passada, a prestigiada revista britânica Nature anunciou uma descoberta surpreendente:  a detecção de água na atmosfera do K2-18b, um planeta com oito vezes a massa da Terra e localizado na zona habitável da estrela anã M7. Os avanços dessa descoberta colocam a ciência diante de uma nova fronteira do conhecimento humano. Alguns podem até questionar se essa descoberta é para tanto. Ora, a lógica molecular da vida preconiza que compostos formados por moléculas intrinsicamente inanimadas podem se combinar de uma maneira tal que temos aquilo que chamamos de vida. Mas, para isso, algo é imprescindível: água. Pelo menos até que evidências científicas apontem em outras direções.

Ao pensar sobre descobertas surpreendentes, novas fronteiras do conhecimento humano e a própria vida, é inevitável não se lembrar do memorável Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von Humboldt – o grande naturalista alemão que essa semana completou 250 anos de nascimento. O seu falecimento ocorreu no mesmo ano (1859) da publicação da Origem das Espécies, de Charles Darwin. A humanidade perdia um dos seus grandes mentores, mas por outro lado via chegar a publicação de uma obra que mudaria profundamente nossas concepções sobre a vida, sobre nós mesmos e sobre o Cosmo. Humboldt foi uma das maiores referências intelectuais de Charles Darwin, outro grande naturalista, só que inglês.

O quão grande foi Alexander Von Humboldt? Tomando como referência apenas alguns daqueles que ele inspirou, Darwin, Henry David Thoreau, John Stuart Mill, Simon Bolívar, Napoleão Bonaparte, Marquês de Lafayette e Thomas Jefferson, pode-se dizer que Humboldt foi um daqueles gigantes da humanidade. Os anais da história da ciência não deixam dúvida para ninguém.

O naturalista Alexander von Humboldt Fonte: DW Brasil

Assim como a descoberta citada acima na Nature é pioneira, assim também foi toda a vida de Humboldt. Segundo o portal de notícias da Deutsche Welle Brasil, a emissora internacional da Alemanha, em edição comemorativa dedicada ao aniversário do alemão, o “segundo Colombo”, o “redescobridor da América”, o “maior cientista expedicionário de todos os tempos”, mudou a visão europeia sobre o “novo” continente de forma duradoura após expedição pela América Latina. Mais que isso, Humboldt dedicou-se com afinco para reunir tudo que sabia sobre o universo em uma única obra, o livro “Cosmos”. Eis aí outra grande lição deixada pelo naturalista: enquanto grandes gênios compilam o conhecimento em livros, deixando um verdadeiro legado para a humanidade, outros simplesmente se esforçam em destruí-los. Ao girar a roda da história, a lição de Humboldt fica muito clara.

Para mim é admirável poder tomar conhecimento dos estudos conduzidos por Humboldt sobre os mais diversos ecossistemas do Planeta, sobre a biodiversidade da Amazônia, sobre as relações contraditórias entre “desenvolvimento” e preservação da natureza, sobre um possível colapso ambiental, mesmo imaginado há quase três séculos. Contudo, surpreende-me mais ainda como o pensamento científico concebido por esse naturalista pôde ser tão diverso, inclusivo, crítico, social, tolerante e, sobretudo, humanizado, isto é, antiescravagista, anti-imperialista e anticolonialista. Humboldt não chegou a ler a grande obra de Darwin, mas nem por isso a sua genialidade o impediu de perceber a ligação que há entre todos os seres vivos, principalmente entre seres humanos.

As gerações anteriores ao grande naturalista não puderam tomar conhecimento do quanto a fronteira do conhecimento humano pôde avançar durante quase noventa anos da existência desse indivíduo. As novas gerações podem se dar a esse prazer e até conceber a ideia de que, em algum lugar da zona habitável da estrela anã M7, outras gerações estejam fazendo o mesmo. Afinal, todos estamos no mesmo barco, chamado Universo.

Referências

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Thiago Jucá é biólogo, doutor em Bioquímica de Plantas e empregado da Petrobrás.

Thiago Jucá

Uma resposta para “250 anos depois, Humboldt permanece atual”

  1. Sergio Lima disse:

    Excelente lembrança e texto sobre esse gigante que tantos subiram aos ombros. O livro “A invenção da natureza” evidencia as inúmeras contribuições de Humboldt em diversas áreas do conhecimento. Recomendo.

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