Ciência, tecnologia e inovação: ordem errada! Empreendedorismo Inovador

quarta-feira, 18 setembro 2019

Colunista propõe uma inversão na ordem, onde a inovação vem primeiro, depois da ciência e da tecnologia

De quando em vez, em meus grupos de convívio – digitais ou analógicos – tenho que levantar a bandeira de uma forma de pensar que parece ser exclusivamente minha, mas tenho certeza de que não é: “faz sentido uma Ciência sem um sentido?”. Foi mal a retórica, é que achei bonita!

Analisemos então os três eixos nos quais descansam (na falta de um termo mais ativo) nossa austera academia: Ensino, Pesquisa e Extensão!

Formamos gente “a toque de caixa” para competir pelos mesmos espaços, o que incrementa o desemprego, como falo em Acorde Neo… Saia da Matrix. Não há mais empregos! . Pesquisamos “a rodo” sem aplicações claras, gastando recursos sem projetos rigidamente definidos, como apontado em Incubadoras universitárias: indo na contramão . Por último, produzimos uma extensão sem indicadores consistentes, como mostrado em Inovação: conceito que a Universidade não compreendeu ainda. Não é uma crítica, pois não sou leviano. É sim uma autocrítica, uma vez que respeito minha universidade, gostaria de me aposentar por ela, e desejo que ela acorde antes que seja tarde.

Portanto, em um momento no qual a Universidade (“U” grande para representar todas do nosso Brasil varonil) deveria se mostrar autônoma, hígida, soberana, ela mostra-se perdida e frágil, sem uma estratégia de validação de suas ações, perante uma sociedade que deduz o conteúdo de qualquer texto com base apenas em seu cabeçalho, seja ele true news ou fake news! Precisamos re-elaborar nosso modelo!

Que venha a Ciência

No início dos tempos, tínhamos pouca tecnologia própria. Sem precisar aprofundar muito a questão, foi o momento em que as bases de nossa Ciência precisavam ser estabelecidas, pois, sem ela, continuaríamos dependentes de tecnologias externas – uma vez que somos bons em commodities -, e continuaríamos recebendo manufaturas por 100 vezes o valor da matéria prima exportada. Autodepredação, seria o termo!

Fundou-se em 15 de janeiro de 1951 o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o famoso CNPq. E a luz se fez!

Com o CNPq lançado, começamos a desenvolver critérios científicos próprios. Aumentamos o volume de nossa produção e, dada à quantidade, pode-se extrair também qualidade. Do que se produzia, por não termos nada ainda, criamos a tecnologia made in Brazil e a utilizamos aqui mesmo, sem problemas, pois o “feito era melhor do que o perfeito”. Fomos pioneiros, na década de 1970, na utilização do álcool como matriz energética. Pena que cochilamos!

Andando um pouco mais para frente, idos de 1990, depois de reservas da informática e do petróleo, caiu um raio em nosso Pindorama chamado “Globalização”! E o caos se fez!

Com a inércia que vínhamos, não conseguimos reduzir o volume das publicações, mas, em compensação, conseguimos fazer isso com a qualidade. Chegamos ao 13º lugar em número de publicações em 2017 e, no ranking de 2019 mostrado pelo Valor Econômico em 29 de março do ano corrente, a termos apenas 12 pesquisadores citados no hall da fama dos que fazem pesquisa de impacto no mundo (em termos percentuais, isto equivale a 0,19% do todo). Ou seja, pelo investimento aportado, 2,5% do PIB, o que nos deixa entre os maiores investidores em um grupo de 30 países, a de se convir que é muito investimento para pouco retorno.

E ainda, segundo a Época Negócios, a falta de política pública pode ser a culpada, quando se compara o investimento brasileiro em relação ao mundo. O Brasil é o 10º país em Despesa Interna Bruta em Pesquisa e Desenvolvimento (DIBPD), que inclui investimento privado.

Analisemos a ordem convencional

Por que será que isto acontece? Posso dar o um parecer então: o pensamento que ronda a academia é o de que devemos continuar criando muita ciência, peneirar esse “bolo” para extrair alguma tecnologia utilizável e, depois disto, ver o que daí serve para inovação!

Vê-se facilmente que este caminho não tem mais como dar certo. Quando não tínhamos qualquer coisa, isso funcionava. Agora a dinâmica mudou e a ficha parece ainda não ter caído! Precisamos criar um processo mais eficiente. Portanto, um reset é necessário; ou uma nova estratégia.

Uma ordem a ser tentada

“Erre rápido para ter sucesso mais cedo”, diz o lema do Design Thinking e da Lean Startup, aprendizado que pode ser visto em Lições tiradas do café empreendedor nº 73 .

E, nessa linha, como bons cientistas que somos, porque não pensar na ordem inversa: inovação, tecnologia e ciência? Coisa de doido, diriam nossos doutos da academia convencional!

Analisemos friamente pelo aspecto colocado no artigo Novos tempos, novo mindset. Lá falamos que um ciência sem aplicação não tem utilidade, e que devería-se começar qualquer empreitada pelo cliente: a sociedade.

Se partíssemos deste ponto, a coisa ganharia um sentido monstruoso:

Primeirão. Procuraríamos o que resolver. A ONU cita 17 broncas grandes. A isso daríamos o nome de INOVAR!

Segundão. Vasculharíamos as tecnologias que já temos disponíveis. Temos um bocado de patentes e registros sem uso. Seria um bom lugar e começo para procurar. Vamos chamar esta etapa de TECNOLOGIAR (hoje eu tô criativo!).

E, finalmente… Se o balde de patentes não cobrisse nossas expectativas, criaríamos a ciência para aprimorar a tecnologia “capenga” sem uso ou iniciaríamos novas ciências. Essa etapa a gente já sabe o nome: Universidade!

Finalizando

É isso! Todos os dias, nas disciplinas de TRIZ, Startup I, Metodologia etc., da graduação e mestrado da ECT, digo ao povo de lá que o propósito científico-tecnológico maior ou, de forma reduzida, a inovação, é validada apenas quando começa a respirar por conta própria, lá fora, na rua, no mundo, quando é percebida pelo contribuinte. Do contrário, são só grandes potenciais. Pergunte a alguma cidadã ou cidadão o que acham de investir seu suado imposto em potencial… Saia de perto correndo!

Referências:

Valor Econômico

Época Negócios

Agenda 2030 da ONU

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Leia a edição anterior: E para o Varejo, nada?

Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Gláucio Brandão

4 respostas para “Ciência, tecnologia e inovação: ordem errada!”

  1. Sônia disse:

    Os locais onde criticar significa ser leviano são ditaduras – Venezuela e Cuba. Vivemos em uma democracia, esse teu receio não é aplicável. Nenhum brasileiro deve ter medo de pensar diferente.

    Absurdo é como as revistas acadêmicas são avaliadas no Brasil. O QUALIS gera confusão porque classifica algumas revistas brasileiras como A1 apesar do baixissimo impacto internacional verificado no Scimago (https://www.scimagojr.com/). Resultado? A pouca produção que temos é conduzida para “baixo” e não para “cima”. O importante é o professor publicar, publicar e publicar para garantir sua progressão na carreira.

    As Universidades brasileiras são elefantes brancos, disfuncionais. Querem pregar a inovação e são incapazes de mudar a si mesmas. Isso tudo com o dinheiro da população mais pobre. Um País é que deve ter soberania e não uma organização que emprega mal uma fortuna obtida por meio de impostos.

    O “mindset” continua a ser o principal problema. Como mudar se um reitor ou chefe de departamento se comporta como Senhor Feudal? Como mudar se ter uma opinião diferente significa ser queimado vivo na fogueira da inquisição das redes sociais e das capas de jornais e matérias tendenciosas?

  2. Excelente Amigo.
    Grande jornalista tecnológico.
    “gestão de tecnologia e tecnologia de gestão”
    Abs

  3. Gláucio Bezerra Brandão disse:

    Saudações, mestre e amigo Amando!
    São relatos vividos. Fica fácil de escrever, meu caro!
    Obrigado pelo apoio e por sua postura empreendedora frente à TMED.
    Grande abraço.

  4. Gláucio Bezerra Brandão disse:

    Minha cara Sônia, saudações!
    Obrigado pela sintonia de pensamentos.
    Pois é: a coisa tá tão estranha que até o ato de não concordar nos dá um sentimento leviano…
    Sigamos sarando…
    Grande abraço.

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