“Energy harvesting”: será o fim das baterias? Ciência Nordestina

terça-feira, 17 setembro 2019

A colheita de energia a partir de pequenos equipamentos totalmente desconectados de fios já é uma realidade

O termo já bem difundido do inglês (energy harvesting) representa a colheita de energia a partir de pequenos equipamentos totalmente desconectados de fios e que fazem uso de todas as formas possíveis de energia para se alimentar. Há a energia térmica, solar, dos movimentos, dos ventos, do gradiente de salinidade, entre tantas outras.

E diferentemente do que se possa imaginar, a ideia de colher energia é bem mais antiga do que se imagina. Muitos de nossos avós ostentavam seus maravilhosos relógios automáticos, daqueles que o simples balançar do braço já era suficiente para colocar em funcionamento uma complexa engenhoca de roldanas e artefatos mecânicos. Aquilo já era “energy harvesting”. O relógio de minha avó, por exemplo, nunca precisou de uma só bateria.  Os netos faziam fila para balança-lo e dar “corda”.

E o tempo avançou e vieram os dispositivos sem fio – aqueles que transmitem informação e também podem ser carregados. O sistema indutivo que permite carregar baterias de celular sem uso de fio já é um grande sucesso. Porém outras inovações (ainda mais surpreendentes) vêm sendo desenvolvidas.

Um artigo publicado no início de 2019 na Nature desenvolvido por pesquisadores do MIT mostrou ser possível converter sinais de wi-fi em eletricidade. O dispositivo – bidimensional e flexível, chamado de rectenna converte a radiação eletromagnética em uma tensão contínua e pode ser usado para carregar qualquer dispositivo portátil. O renascimento da ideia de Nikola Tesla – da transmissão de energia sem fios retorna em um momento em que a eletrônica se torna tão flexível que pode ser vestível. E além de vestível, também ingerível. Dispositivos munidos da rectenna podem funcionar de maneira autônoma no interior do corpo, sendo alimentados pela radiação eletromagnética que inunda todo o espaço.

E com isso, a colheita de energia que nossos avós já traziam nos pulsos chega à escala nanométrica, fazendo uso de movimentos e energias que no dia-a-dia “desperdiçamos”. É fato que as potências envolvidas nesta conversão são baixas – isso não resolve (ainda) o problema da dependência do planeta com o petróleo. No entanto, isto aponta para a direção de que cidadão do planeta passa a ser um MEGE (microempresa de geração de energia) – energia esta que é colhida quando andamos, suamos, subimos e descemos escadas. Estamos próximos do dia em que a atividade física nas academias será remunerada – não pela atividade em si, mas pela energia gerada e vendida nos dispositivos conectados ao corpo. Somos uma verdadeira usina de geração de energia.

Referência:

Nature (https://www.nature.com/articles/s41586-019-0892-1)

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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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