Depois do CNPq, chegou a vez de fechar o financiamento na CAPES e ferir de maneira mortal a ciência e tecnologia no Brasil
O corte de 5613 bolsas de mestrado e doutorado comunicado pela CAPES em 02 de setembro de 2019 é o ponto final para a pós-graduação no Brasil. Ao contrário do que se divulga, ao invés de economia, isto representa o fim do apoio aos novos estudantes no país, uma vez que toda bolsa que for finalizada passa também a ser extinta.
Não bastasse o que já foi feito ao CNPq, chegou agora a vez de fechar o financiamento na CAPES e ferir de maneira mortal a ciência e tecnologia no Brasil. Adicionarei números a esta análise: oriento estudantes de pós-graduação há 15 anos – entre mestrandos e doutorandos. Destes estudantes (que tiveram orientação concluída) 56% eram bolsistas e 44% eram não bolsistas (com vínculo empregatício). Quando analisamos o número de artigos pulicados, percebemos que 82% dos artigos foram publicados junto com os bolsistas enquanto que os 18% restantes foram publicados em conjunto com os não-bolsistas. Note que embora a diferença entre o número de bolsistas e não-bolsistas seja pequena, a diferença entre as produções é muito grande. Isso ocorre porque a bolsa de pós-graduação é o certificado de dedicação exclusiva de nossos estudantes. Quem tem atividade profissional fora da Universidade não tem condição de tempo para desenvolver um trabalho comparado aos que estão todos os dias e todos os horários.
E todos sabemos que em qualquer área da vida, dedicação é essencial: um bom jogador de basquete ou futebol treina exaustivamente… Com o cientista não é diferente: a imersão nas atividades de pesquisa é essencial. E só a bolsa garante isso aos estudantes de pós-graduação. E são eles que giram a grande máquina de fazer ciência no Brasil. E de forma trágica, depois de pouco tempo, vemos esta máquina ser empurrada para dentro da lama, sufocada e destruída.
O argumento que se usa é com o corte das 5613 bolsas pelos próximos 4 anos, se tenha uma “economia” de 37,8 milhões. Somando-se aos demais cortes, a CAPES deixará de ofertar 11 mil bolsas. Uma pena que ninguém lembrou de cortar coisas menos relevantes, como por exemplo o auxílio paletó, que custa ao Brasil 63 milhões de reais por ano.
Ou seja, é questão de prioridade. Um país que prioriza paletós à educação está escolhendo “amputar as suas pernas intelectuais”, como já dito pelo cientista Miguel Nicolelis.
É, de fato, uma pena ter de relatar isso, meus caros leitores. Mas não tenho outra coisa a fazer.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
Triste com essa insensatez, qual o futuro de uma nação que não investe na educação?