Somos todos CNPq… Artigos

quinta-feira, 29 agosto 2019

Ocorre, porém, que a política nacional de ciência não é a única ameaçada hoje neste país

(Cleanto Fernandes)

O cientista Hernan Chaimovich, Professor Emérito do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, escreveu no Jornal da Ciência de 19/08 importante artigo no qual recorda o avanço da ciência brasileira nas últimas décadas, o que inclui, no âmbito governamental, a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O artigo, cuja leitura e divulgação é muito recomendada, vem em boa hora, no contexto de ameaça iminente de suspensão de mais de 80 mil bolsas do CNPq. Tal ato de irresponsabilidade resultaria na imediata paralisação de grande parte da ciência brasileira, colocando em risco nosso sistema nacional de ciência, afora o impacto na vida dos bolsistas.

Sob a liderança da sempre combativa da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e outras associações, saímos todos em defesa do CNPq. E nessa luta, não podemos nem devemos estar sozinhos. O prof. Chaimovich conclui seu artigo dizendo que: “A bandeira da defesa do CNPq não pode ser empunhada somente por cientistas e estudantes. Esta luta não é, nem pode ser, corporativa. É o futuro do País que está em jogo […]”. Eu não poderia concordar mais. “Somos todos CNPq”. Entretanto, a questão que agora apresento é se as pessoas de fora da academia terão motivação para isso. Pois uma coisa é o dever, outra, o fazer, e entre ambas existe muita coisa.

Ocorre que a política nacional de ciência não é a única ameaçada hoje neste país. Estão em semelhante ou pior situação as políticas públicas nas áreas de educação técnica e superior, meio ambiente, seguridade social e outras. E aqui me pergunto se a comunidade científica brasileira tem sido sensível aos problemas dessas outras áreas? Nós que “somos CNPq” também “somos Instituto Federal”? Também “somos todos SUS”? Cada um de nós, individual ou coletivamente, está se levantando contra o desmatamento e o genocídio indígena?

Toda a sociedade se beneficia sim da ciência, do conhecimento e inovação que dela resulta. Mas outras pautas são igualmente importantes. A relevância da ciência é necessária para mobilizar a sociedade, mas talvez não seja suficiente. Ratificando o prof. Chaimovich, a luta não pode ser corporativista, pela parte de ninguém. A sociedade precisa sentir que os cientistas são, no que mais importa, pessoas comuns, cidadãos, gente da gente. E a melhor forma de demonstrar isso é apoiando as boas e grandes causas.

Os que fazem a comunidade acadêmica brasileira tem então que decidir entre a luta corporativista pela ciência e a luta pelo estado democrático de direito e de bem-estar coletivo.

Eu já fiz a minha escolha. Sou CNPq, sou Amazônia, sou comunidade indígena… A minha caminhada é tão longa quanto for o caminho.

E vocês?

Referência:

Artigo de Hernan Chaimovich – Jornal da Ciência

Cleanto R. Rego Fernandes é Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).

Cleanto R. Rego Fernandes

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