Colunista analisa matéria da Nature sobre situação crítica da ciência no Brasil
O site da Nature publicou no último dia 02 de agosto um artigo cujo título em português, “Trump Tropical”, gera crise sem precedentes para a ciência brasileira. Nele são apresentados os últimos capítulos da saga da ciência brasileira rumo ao fundo do poço – partindo do publico que assistia às palestras da reunião recente da SBPC, até os insistentes cortes que foram agravados a partir de 2014 (com mais de 7 bilhões de (des) investimento). Tudo isso, somado ao congelamento recente da pasta de C,T&I de mais de 42%, o que coloca em risco até mesmo o pagamento das bolsas de pesquisa por parte das agências brasileiras. A matéria ainda trata do desmatamento da Amazônia, que vem atingindo níveis alarmantes nos últimos meses. Embora sejam dados embasados cientificamente, são, antes de mais nada, verdades inconvenientes para aqueles que queiram manter a tendência de desmatamento.
O fato é que há um ponto inexorável de desertificação, que estamos prestes a cruzar. Uma vez ultrapassado, a irremediável desertificação será uma realidade. E aí nossa bela floresta Amazônica não servirá nem para criar gado. E para o gado que habite no sul e sudeste do Brasil restará uma mudança drástica no clima, com muito mais secas e enchentes. As pessoas precisam lembrar que o planeta é o mesmo para todos. Sem norte, nordeste, sul nem sudeste. Toda ação tem reação.
A ciência prova e reporta – as pessoas podem aceitar ou empinar o nariz e sentir as consequências no futuro. O Brasil resolveu abrir mão de sua capacidade de produzir conhecimento. E também de acreditar na razoabilidade que os dados científicos oferecem. As consequências de tudo isso serão muito pesadas. Para o ambiente, para as pessoas, para o país.
Na exploração irracional, ao final da “limpa”, as pessoas costumam queimar o que sobrou. Isso mata toda a vida que possa restar. Parece ser isto que estamos fazendo com a Amazônia, com os pobres, com a ciência, com os índios e com a nossa dignidade – um grande deserto infértil para as florestas, as Universidades e a esperança do povo.
O artigo está disponível em inglês.
A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras. Leia, opine, compartilhe e curta. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag CiênciaNordestina.
Leia o texto anterior: Pseudociência e anticiência
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
Depois de escrever um texto sobre pseudociência, o senhor traz essa mensagem de “fim do mundo”?
Populismo alarmante e barato não combina com ciência. O fato real é que o mercado ganha dinheiro ao precificar tudo que apareçe na mídia internacional. Divulgar mentiras sobre o meio ambiente é que traz grande consequência para o Brasil, é um comportamento irresponsável.
Exploração irracional é dizer que estamos perdendo a esperança. O senhor não fala por mim nem por muitos brasileiros que recuperaram a esperança nesse novo momento político.
Lembre-se que estamos no mesmo avião, torçer para tudo dar errado vai levar o senhor, os pobres, os índios e a Universidade para o mesmo desastre.