Aluísio Lessa, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Pernambuco acredita que os estados brasileiros só tem a ganhar com essa pasta específica
José Aluísio Lessa da Silva Filho é formado em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e, a convite do ex-governador Eduardo Campos, desempenhou a função de coordenador da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia. Entre 2007 e 2010, durante o primeiro governo de Campos, exerceu a função de secretário de Articulação Política. Atualmente é o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) de Pernambuco e também acumula a presidência da Fundação de Amparo à Ciência de Pernambuco (Facepe).
Nessa entrevista ao Nossa Ciência, Aluísio Lessa fala desse acumulo de cargos, da política de CT&I de Pernambuco, dos cortes e contingenciamentos do governo federal e da importância de uma secretaria de ciência, tecnologia e inovação para os estados brasileiros.
Nossa Ciência: Pernambuco é conhecido por sua primazia em políticas de C&T. Como o estado atingiu esse ponto?
José Aluísio Lessa: Pernambuco tem uma história vinculada à ciência, tecnologia e inovação. Foi a primeira secretaria estadual criada nesse país foi em Pernambuco lá atrás, na época do ex-governador Miguel Arraes de Alencar. Então, a secretaria tem 31 anos de vida e um ano depois foi criada a Fundação de Amparo à Ciência, nossa Facepe, que completa agora 30 anos. Essa história vem de um certo tempo, inclusive pela base acadêmica que nós temos. Nós temos três universidades federais, antigas, históricas. Temos uma universidade estadual, a UPE e vários institutos federal de educação, uma base sólida e que se junta com política pública já consolidada[NC1] em nosso estado e exatamente Pernambuco emprestou ao Brasil grandes brasileiros para tocar a área nacional de ciência e tecnologia. Muito se fala pelo Brasil a fora.
NC: Nessa trajetória da CT&I pernambucana e brasileira o que o senhor destacaria como mais importante?
AL: A história da ciência e tecnologia no Brasil tem um grande divisor de águas, que foi a chegada de Eduardo Campos no Ministério de C&T. Era um ministério de periferia, pequeno, sem disputa, sem grupos, não só políticos partidários, mas regiões que não olhavam para o Ministério por conta de um orçamento pequeno, minúsculo, sem muitas alternativas. Então, Eduardo Campos reconstruiu esse ministério, fez ele chegar onde não chegava, chegar na regiões mais distantes do centro do poder nacional. E também com a ajuda de muita gente da área acadêmica. Sérgio Rezende, talvez um dos grandes físicos e cientistas desse Brasil, foi um grande presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), depois ocupou o Ministério quando Eduardo saiu.
NC: Como o senhor disse Pernambuco tem tradição em C&T, mas o estado também olha para a área da inovação?
AL: Nós temos hoje um grande ecossistema de inovação instalado em Pernambuco, capitaneado pelo Porto Digital, setor produtivo forte gerando muito emprego, na ilha do Recife hoje nós empregamos quase 10 mil pessoas. E num cenário muito próximo a gente precisa duplicar essa quantidade de profissionais e o grande desafio neste momento é a formação. Grandes profissões vão desaparecer, isso é uma tendência mundial e novas profissões irão surgir, então a gente tem que preparar profissionais para esse novo mercado, essas novas profissões e para isso vamos precisar de muita integração entre os governos.
NC: Essa integração das esferas de governo municipal, estadual e federal é possível?
AL: O momento do governo federal é de muita fragilidade econômica, o Brasil está cortando tudo que é orçamento, contingenciando tudo que estratégico para área de ciência, tecnologia e inovação, para pesquisa, para bolsas de iniciação, para mestrado, para doutorado, pós-doutorado e isso afeta fortemente a área da produção científica. Os países que investem nisso [produção científica] hoje são as grandes potências mundiais como a China, Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, a Coreia do Sul, porque investiram em conhecimento, ciência, tecnologia, inovação e é isso que a gente precisa fazer. Enquanto o governo federal não consegue fazer, os estados estão se virando. Em Pernambuco, o governador Paulo Câmara, que foi reeleito, não fez corte nenhum nessa área, pelo contrário. Para a nossa universidade estadual, o governador anunciou um aumento no seu orçamento de 26% comparado com o orçamento do ano passado e a nossa Fundação de Amparo à Ciência, a Facepe idem, tivemos um incremento de 12% comparado com o que foi investido ano passado. E a gente não está satisfeito com esses aumentos, queremos mais, queremos fortalecer o Ministério da Ciência e Tecnologia. Estive no final de maio na reunião de Conselho Nacional de Secretários de Ciência, Tecnologia e Inovação em Porto Alegre e todos os secretários, os 27 secretários fizeram a Carta de Porto Alegre. Essa carta pretende fortalecer a área de ciência tecnologia inovação, fortalecer a política do Ministério, fortalecer os órgãos federais, como CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a Finep, a Capes e tantos institutos de ciência e tecnologia espalhados pelo Brasil a fora.
NC: Nesse momento o senhor está acumulando os cargos de secretário de C&T e presidente da Facepe. Como está sendo sua rotina?
AL: A secretaria é muito ampla, ela tem um orçamento maduro e a Fundação precisa também de alguém para tocar o dia a dia. Enquanto não chega (o presidente) a gente responde pela Fundação, tem a diretoria, tem mais quatro diretores lá que tocam o dia a dia da Fundação. O governador está consultando algumas pessoas importantes na área, para assumir essa missão. Enquanto o convidado ainda não estiver de fato seguro para aceitar o cargo, a gente vai tocando como temos feito desde o início do governo no mês de janeiro. A Facepe, ela não trabalha no piloto automático, mas ela trabalha com muita gente envolvida, é um setor produtivo da academia, é uma instituição de respeito no país. Depois da de São Paulo, a Facepe foi a segunda criada nesse país e a gente quer de fato ajudar os estados que estão com essa missão ainda se iniciando. Eu represento a direção do Consecti aqui na região nordeste e temos o papel de ajudar, de mostrar os exemplos bons que tem ocorrido no Brasil a fora. E no que Pernambuco puder ajudar apresentando, recebendo os nossos colegas secretários, recebendo os presidentes das FAPs de estados do nordeste, vamos mostrar os caminhos que Pernambuco escolheu lá atrás e que de fato tem consolidado a política estadual reconhecida em todo país.
NC: Sabendo da importância da CT&I para o país, qual sua opinião sobre os estados que não tem a secretaria de ciência de tecnologia?
AL: Eu acho fundamental que os estados tenham uma secretaria de C&T. Primeiro porque a gente olha para o futuro e inovação é o presente olhar para o futuro. Tem inovação em tudo. Mas a gente também tem que trabalhar de maneira integrada. A ciência e tecnologia em Pernambuco trabalha fortemente integrada com a pasta de desenvolvimento econômico, com a pasta do desenvolvimento agrário, a secretaria de agricultura, com a de saúde, tem muita inovação na área de saúde, de educação, principalmente. Pernambuco tem um modelo de educação estadual premiado a nível mundial. Então vamos de fato fortalecer que os estados brasileiros possam ter uma secretaria específica para isso porque a ciência, tecnologia e inovação só tem a ganhar.
Edna Ferreira, Mônica Costa e Livia Cavalcanti