Pesquisa realizada pela UFAL e universidades da Inglaterra e da França é publicada em revista internacional
Um projeto inédito que envolve o estudo da flora intestinal de crianças criticamente doentes, e tem como objetivo a obtenção de um painel com o perfil metabólico dos biofluidos (fezes, urina e sangue) desses pacientes, utilizando a ressonância como ferramenta. E com os dados obtidos, os pesquisadores esperam poder direcionar os pacientes a um tratamento mais adequado, incluindo o uso de probióticos e alimentação personalizada.
Com o título Análise multicompartimental de metabolismo bacteriano e humano identificam disbiose intestinal na criança criticamente doente, o estudo é uma parceria entre a Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Universidade de Cambridge, Imperial College London, Universidade de Reading, Wellcome Sanger Institute, University College London (todos da Inglaterra) e Hospices Civils de Lyon (da França).
A pesquisa é coordenada pela professora Nazima Pathan, da Universidade de Cambridge, e pela professora Anisha Wijeyesekera, da Universidade de Reading. Em Alagoas, a pesquisa está sob a responsabilidade do servidor da UFAL e doutor em Química, Adilson Sabino. O trabalho, explica o pesquisador, “objetiva a obtenção de um painel com o perfil metabólico em multicompartimento, por meio das fezes, urina e sangue desses pacientes, utilizando técnicas de ressonância magnética nuclear e espectrometria de massas como ferramenta, pois as mesmas permitem a detecção simultânea de ambos metabólitos humanos e microbianos, além de integrar esses dados com o perfil bacteriano, microbioma intestinal, dos mesmos pacientes”.
Publicação internacional
Parte dos resultados da pesquisa sobre microbioma intestinal de crianças criticamente doentes, realizada no Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) da UFAL), foi publicada na revista Critical Care Medicine, periódico enquadrado na categoria A1, o estrato mais elevado na classificação pela Capes.
Ao falar sobre a importância da publicação, o pesquisador alagoano afirma que “é um artigo de alto fator de impacto sobre um estudo realizado pela UFAL, a única instituição brasileira no artigo, e várias instituições internacionais renomadas, a exemplo da Universidade de Cambridge e Imperial College London que estão entre as dez melhores universidade do mundo”, ressalta.
Ainda segundo Sabino, a publicação se torna também importante pelo fato de que “há pesquisas voltadas para o estudo do microbioma intestinal em pacientes em estado crítico apenas em adultos, mas em crianças essa é a primeira vez. E, nesse trabalho, nós relacionamos metabólitos humanos e microbianos, o perfil metabólico, com o perfil microbiano na criança criticamente doente”, argumenta. “Nós observamos a redução de ácido hipúrico, 4-cresol sulfato e ácido fórmico na urina, de ácidos graxos de cadeia curta nas fezes, e a redução de ácidos biliares secundários na criança criticamente doente, associados com a perda de bactérias comensais, tais como, Bacteroides, Faecalibacterium, Roseburia e Prevotella. Podendo, através da metodologia, monitorar a jornada do paciente criticamente doente”, relata.
Metodologia
O grupo faz análises por Ressonância Magnética Nuclear (RMN) e Cromatografia Líquida acoplada a Espectrometria de Massas (CL-EM) das amostras biológicas em série e dados clínicos abrangentes de um grupo de crianças criticamente doentes, dos hospitais de Cambridge e Imperial College; e saudáveis, pareados com a idade. É feita, também, uma análise para identificar a diversidade microbiana intestinal desses pacientes.
Sabino explica que “o dano ao revestimento da mucosa intestinal em doenças graves, leva à translocação de bactérias ou seus fragmentos para a circulação sanguínea, e pode contribuir para inflamação sistêmica, sepse, falência multiorgânica e até morte”. Por isso, a identificação precoce e a intervenção para o tratamento podem melhorar os resultados de doenças críticas.
Em Londres, Adilson realizou o preparo e extração dos metabólitos das amostras biológicas para análise. Ele afirma que o fato de ser operador do equipamento de RMN na UFAL fez com que os idealizadores o propusessem a participação no projeto. Por isso, aqui no Núcleo de Análise e Pesquisa em Ressonância Magnética Nuclear (NAPRMN), ele recebeu os dados de ressonância magnética e fez as análises estatísticas multivariadas para a identificação dos biomarcadores.
Impacto
Ao explicar o impacto social e acadêmico do estudo, o pesquisador esclarece que “o microbioma intestinal é um conjunto de microorganismos que habitam nosso intestino e exerce uma série de funções na nossa saúde, tais como absorção de vitaminas e nutrientes, ativação do sistema imunológico e produção de neurotransmissores”. Em outras palavras, ainda de acordo com Sabino, “nosso microbioma intestinal funciona como uma fábrica de metabólitos e eles influenciam a nossa saúde como o todo. Portanto, monitorar metabólitos microbianos será o futuro da medicina nutricional personalizada e este artigo propõe o uso da Ressonância Magnética Nuclear e Espectrometria de Massas para monitorar esses metabólitos”, justifica.
Segundo o pesquisador da UFAL, “a universidade que dispor de tais equipamentos poderá realizar estudos para o desenvolvimento de métodos para monitorar a saúde das pessoas em geral, como, por exemplo, os ácidos graxos de cadeia curta, produzidos no intestino, ativam nosso sistema imunológico e uma baixa concentração desses metabólitos indica um mal funcionamento do mesmo”, cita. “Outro exemplo de metabólito microbiano é o óxido de trimetilamina que é associado a aterosclerose, doença cardiovascular”, acrescenta o pesquisador.
O doutor em Química ainda acrescenta que, “além de monitorar metabólitos microbianos, pode-se estudar diferentes dietas com uso de probióticos e prebióticos, por meio da formulação de suplementos para modular o microbioma intestinal, visando a manutenção da saúde e prevenção de doenças”.
Para conferir a publicação, acesse aqui.
Fonte: Ascom da UFAL
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