Afirmação é da professora Silvia Batistuzzo, que acaba de estabelecer relação entre hidrocarboneto liberado em queimadas e doenças humanas
Sílvia Batistuzzo, do Laboratório de Biologia e Mutagênese Molecular, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) é líder do grupo de seis pesquisadores que estabeleceu a relação entre o reteno, um hidrocarboneto policíclico aromático, abundantemente presente em queimadas da floresta amazônica, e doenças humanas.
Em função do artigo que o grupo acaba de ter publicado no periódico cientifico Chemosphere, Nossa Ciência conversou com a professora Silvia e com Francisco Carlos da Silva Júnior, doutorando no Programa de Pós-Graduação em Bioquímica da UFRN e um dos autores da pesquisa.
Segundo a professora Silvia, a criação de startups de bionegócios pode ser uma alternativa para os pesquisadores. A outra é “deixar este país para fazer ciência no exterior.” Isso é o que tem ocorrido com muitos pesquisadores brasileiros, num movimento que pode ser caracterizado como fuga de cérebros.
A primeira autora do artigo, Milena Simões Peixoto, que realizou a pesquisa durante o Mestrado, na UFRN, está, atualmente, na fase final do Doutorado no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, na Universidade Federal do Rio de Janeiro e deve seguir para a Espanha. Sair do Brasil foi também a solução para outros dois integrantes do grupo. Depois de concluir um pós-doutorado na França, a pesquisadora Nilmara Alves, também pesquisadora do grupo que realizou o primeiro estudo, não voltou e Marcos Felipe foi para a Suécia, após várias tentativas malsucedidas de conseguir bolsa de pós-doutorado no Brasil.
Além de Francisco Carlos da Silva Júnior, a pesquisa contou com a colaboração de Deborah Roubicek, do Departamento de Análises Ambientais, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – Cetesb (SP). Francisco recebeu prêmio de melhor pôster por este trabalho no Congresso da MutaGen, que ocorreu em junho desse ano, em Bento Gonçalves (RS).
Ciência x Política Ambiental
Nossa Ciência: De certa forma, esses resultados estão na contramão da política ambiental do governo brasileiro…
Sílvia Batistuzzo: Os resultados são o que são. Cabe aos governos se informarem e compreenderem o que isto significa, para auxiliar na tomada de decisões para o bem de todos, embasadas em fatos e não apenas em decisões de interesses pessoais e/ou politiqueiras. Da nossa parte, sabemos que estamos fazendo o correto, questionando, experimentando (aplicando a metodologia científica), analisando os dados e os divulgando. É o que fazemos e é o que queremos continuar a fazer: – ciência. Fazer ciência em período de crise, pode ser difícil mas não impossível. É em período de crise que se cresce e se não crescer…bom, um dia esta crise passará, pois tudo na vida é cíclico e impermanente. O prejuízo será grande mas não maior que a vontade de reconstruir e reconstruir por meio da ciência, pois, apenas por meio dela que um país cresce e adquire sua autonomia e soberania.
Nossa Ciência: Como está seu ânimo quanto ao projeto?
Francisco Carlos: Este trabalho tem uma profunda relevância, e como doutorando atual do projeto, estou empolgado e feliz por fazer parte da continuação dessa pesquisa que vem sendo desenvolvida no laboratório há algum tempo. O artigo publicado demonstra que mesmo que existam poucos hidrocarbonetos prioritários, não podemos esquecer que existem centenas deles no ambiente, e que, dependendo do tipo de fonte emissora, alguns aparecem de forma abundante. RET demonstrou efeitos biológicos em células do pulmão humano que não tinham sido descritos, trazendo a importância de que só porque não é prioritário não mereça a devida importância. Ciência é isso! É olhar para o desconhecido e pensar: Por que não? Teremos vários desafios na caminhada, mas nossa equipe tem sido uma excelente referência em estudos desse ramo, que possibilitarão através dessa pesquisa, importância sobre os cuidados relacionados ao ambiente e a sociedade.
Mônica Costa