Uma transformação digital que está gerando um novo modelo de atuação, um conceito bem simples, mas ainda de difícil operacionalização
Com o aprimoramento exponencial da tecnologia eletrônica, tornaram-se possíveis os meios de comunicação em terra quase que de modo ubíquo. Agora, com a eficiência da Internet, todo nosso conhecimento está sendo sublimado para nuvem, de forma que o mundo praticamente assisti a criação de seu próprio sistema nervoso.
A Internet promoveu uma dinamização do conhecimento tão voraz que, junto com as formas de prototipação disponíveis, é possível, quase que em tempo real, criar-se projetos ou observar se algo parecido deu certo em algum lugar. A Experimentação on the fly fez com que pudéssemos brincar de montar e desmontar Franksteins o tempo todo. Dada a estas facilidades e às trocas de experiências permitidas pela grande rede, surgiram métodos mais eficazes de trabalhar processos. Tudo junto, o campo ficou fértil para o nascimento de empresas ágeis, que se nutrem à base de experimentação pura em qualquer área do conhecimento. Ao meu ver, a Internet fez surgir a nova revolução organizacional, a qual eu chamo de “Mundo Orientado a Startups”!
As startups nasceram por imitação, observando a natureza! Vejamos, por exemplo, como a natureza promove nossa evolução: construindo, testando, medindo, aprendendo, modificando, re-construindo, re-testando, re-medindo, re-aprendendo… Ela pode começar em qualquer ponto deste ciclo, para depois seguir no ritmo “re”!
Aproveitando essa minha inspiração natural, vamos ver para onde as instituições (públicas ou privadas) deverão migrar, baseadas nesse novo ecossistema que está florescendo. Acho que estamos por criar a NatuTech. Bem Black Mirror!
Imitando o laboratório natural
Em tempos hodiernos – versão 4.0 -, como as grandes empresas evoluem? Resposta: construindo, medindo, aprendendo, absorvendo, comprando. Isso quando elas “sacam” de inovação. Em suma, “MVPzando” as coisas. Falei um pouco disto em Em tempos de startup, como definimos um produto? .
Outras pegam um atalho, observando empresas menores (vou chamá-las de startups). Assim que as startups – muito mais ágeis e menos custosas – mostram a viabilidade em suas incursões mercadológicas e diminuem a probabilidade dos riscos, as grandes “encostam” e fazem a pergunta técnica: “Bote preço!”, pois empresários não compram produtos, mas Mercado.
Algumas empresas estão indo no sentido inverso e se transformando em startups, como é o caso do binômio Ford-Troller e da Magazine Luiza e seu Luiza-Labs, as quais não geram uma relação de fagocitose, mas de simbiose! Usei estes termos para continuar no clima da natural. Nessa linha, grandes corporações estão deixando de contratar CPF’s em prol de CNPJatos (Desculpem-me o neologismo, mas não deu para resistir. As startups são sempre comparadas a foguetes!). Mostrei alguns exemplos em Por quem as grandes empresas choram…
Na área educacional, como as grandes empresas estão evoluindo? Answer: construindo metodologias, medindo os impactos, aprendendo, voltado a ensinar e, caso vocês não estejam acostumados com o termo, criando ou absorvendo EduTech’s (vou falar sobre isso outro dia). A Scholae 3.0, startup da área da educação criada na inPACTA tem essa vibe.
E o nosso sistema financeiro, como está evoluindo? Re$po$ta: observando, criando, comprando ou apostando, termo mais “macio” do que especulando, nas FinTech’s, startups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro. Não se enganem, grande corporações águias, que parecem convencionais, estão apostando nesses ágeis falcões. Nessa linha, o BB apoia o Banco Original e o Santander já anunciou o fim dos caixas humanos. Teremos variação no número de desempregados. Admirável Mundo Novo, diria Huxley!
Por fim, tema de nosso colóquio semanal, vamos ao grande e letárgico, mas que está acordando, entidade chamada Estado (refiro-me aqui à toda instância político-territorial-governamental, não especificamente ao meu querido RN). O Estado também é carinhosamente conhecido como leviatã (ficou sinistro, rsrsrs).
Como vocês acham que ele deveria evoluir? Vamos então a algumas ilações, pois aqui no NC, Nossa Ciência, o pessoal me deixa soltar o verbo. Quando eu era menorzinho, só em pensar em soltar o verbo, o cinto piava! Massa, né não? Não sei se é acaso, pois Mercado e Mãe começam com “M”.
O que é uma GovTech?
Pegando a definição no site do BrazilLAB, denominamos GovTech toda “infraestrutura de tecnologia e soluções inovadoras que os departamentos do governo usam para fazer seu trabalho interno ou fornecer serviços aos seus “clientes”, ou seja, os cidadãos”. Conceito bem simples, mas ainda de difícil operacionalização!
Assim, na linha de seguir a maior construtora de modelos viáveis, a natureza, as empresas modernas já absorveram esse modelo de evolução. Faltavam os Governos! Vários estão também se modernizando, e em alguns casos, se viabilizando, como é o caso de São Paulo, que foi mais fundo e criou outra instância nessa linha, as CivicTechs, organizações e tecnologias que visam informar, engajar e conectar cidadãos com seus governos e entre si, de forma a melhorar o envolvimento cívico destes. Assim, as CivicTechs proporcionam a transformação da insatisfação com o Governo em algo construtivo, que beneficia a sociedade civil.
Então parece surgir uma luz no fim do túnel. Se não é um trem voltando carregado de boletos, pode ser que o Estado comece a se mexer no sentido de se tornar mais eficiente e conseguir entrar na onda lean, fazendo o dobro com a mesma arrecadação. Não é necessário ir a fundo e, mesmo que a nova reforma trabalhista permita, e chegar a terceirizar suas atividades-fim. Mas muitas, muitas, muitas atividades-meio merecem uma guaribada. Vejam onde estão atuando muitas GovTech’s.
Pontos em que devem atuar as GovTech
No site GovTech Brasil pode-se encontrar a agenda e o relatório do que aconteceu no encontro sobre o tema em 2018. Extraí o essencial ipsi literis do que foi debatido. Está muito interessante:
Defeitos Colaterais
Criada a joint venture Governo-GovTech, ao se seguir esses 9 pontos, ter-se-ia, por consequência, o que chamo de defeitos colaterais, já que quando se fala em efeito colateral tende-se a se pensar em algo ruim. Seguem os aspectos almejados:
Por fim
Poder-se-ia olhar para o Mercado como uma grande incubadora e o Governo como uma empresa âncora, induzindo a criação de várias demandas e, por consequência, empregos! Já pensou: ao invés de se pensar em concurso público, os jovens de hoje se lançassem a resolver “problemas públicos” e se manterem sustentáveis com isso? Admirável Estado Novo!
A coluna Empreendedorismo Inovador é atualizada às quartas-feiras. Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #EmpreendedorismoInovador.
Leia a edição anterior: Conduzindo um brainstorming
Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Gláucio Brandão
Deixe um comentário