Conduzindo um brainstorming Disruptiva

quarta-feira, 17 julho 2019

Muitas boas ideias nascem do livre pensar, de poder expor tolices e até existe um método para que a coisa toda flua

Sendo essa nossa aula condensada de número 51, tive uma boa ideia para este nosso artigo, que é a de responder a uma pergunta que precede qualquer negócio: como conduzir um time à boas ideias? E a resposta, depois de vasculhar aqui meus quase 86 bilhões de colegas que realizam cerca de 100 trilhões de sinapses, foi simples: o Caos! Sim, nosso brain não pode pensar “arrumadinho” quando o que temos é uma assembleia com esse povo todo falando ao mesmo tempo. Pensar “organizado” é ir contra a entropia; é cansativo e chato.

Para termos uma pequena noção do tamanho de nossa massa cinzenta, a nave Terra possui hoje, segundo dados do Banco Mundial, cerca de 7,53 bilhões de navegantes. São 11,42 vezes menos seres individuais do que hão em nossa “micuca” ou, de forma melodramática, temos quase 12 Terras na cabeça! Bizarro, né não? Haja 5G! Não dá para ser linear…

Assim, ao juntarmos os seres gritantes do grande clã brain e o “pai gerador de coisas malucas”, o chaos, chegamos à justaposição brainchaos, quase “brincãos”, ou brincalhões! Tá bom, quero forçar a barra para chegar a brainstorming, ou tempestade de ideias, em tradução livre, pra dizer que a técnica criada em 1941 pelo publicitário estadunidense Alex Osborn é massa! Será que foi inspirada no modelo do cérebro mesmo? Até a própria natureza evolui por tentativa e erro, retendo as boas escolhas e refutando as não tão boas (acho que Darwin pensou assim?).

Neste artigo vamos explorar essa técnica e mostrar que muitas boas ideias nascem do livre pensar, que estes são derivados da liberdade de poder expor tolices e que, pasmem, existe um método para que a coisa toda flua. Como diria Millôr Fernandes: “Livre pensar é só pensar”, desde que os outros deixem (rere: essa parte é minha).

A ordem imaginada

Antes de falar nas regras a serem seguidas na condução do brainstorming, BS para os já íntimos, gosto de criar minhas próprias analogias. Fica mais fácil de fixar as ideias. Então, como eu imagino um BS? Vou explicar utilizando o conceito de ordem imaginada , a qual descrevi em artigo passado em nossa querida coluna semanal.

A ordem imaginada surge da visão única que se consegue imprimir em (é “emmesmo) um grupo de pessoas. Imagine todo mundo pensar a mesma coisa por um determinado tempo? Para facilitar, vislumbre um grupo entre cinco e 10 pessoas, todas com pincéis nas mãos, com acesso a várias tintas, e que a este grupo fossem dados vários slots de tempo de 10 minutos para pintar um único quadro por vez, até que uma gravura consensual fosse admitida. Atingida essa “não obra prima” (deve ter ficado uma desgraça), todos tivessem um tempo para contemplar essa quimera e, depois disso, ela fosse guardada. No outro dia, todas as cabeças envolvidas no projeto teriam em suas mentes uma imagem daquela quimera, a qual seria agora uma ordem imaginada. Todas as pessoas irão se referir a ela de modo unânime. Mesmo que o líder do grupo, sem que os outros saibam, tenha picotado a quimera em 10.472 pedacinhos, queimado todos, derramado ácido muriático em cima e depois jogado ao mar (essa parte foi só para dar uma ordem imaginada aos ambientalistas), a quimera continuará existindo, pois ela era, ou é, a ideia que se quis atingir, a ordem imaginada criada por todos. Ou seja: pode-se trabalhar em cima de uma imagem mental como se ela de fato existisse e pudesse ser aprimorada. Uma viagem maluca, porém fundamental para se criar times, não apenas grupos, cuja missão estaria impregnada em cada uma das cabeças daquela sessão quase espírita. Ninguém de fora poderia compreender aquele momento. A importância disso, embora pareça meio ‘Salvador Dali”, explica porque a principal causa de morte das startups está na formação do time. Se me permite a retórica, o problema é que os times não são formados! 

Já conseguiu ver o que eu vejo? Esse é o maior dilema na formação de um time!

A mesma coisa deve ser feita no mundo dos negócios, se a intenção for a de atingir um produto exitoso: imprimir no time a ordem imaginada adequada, aquela que quando impressa em cada um dos membros, conseguirá ser impressa no nicho pretendido! 

Prontinho: agora que temos onde queremos chegar, nossa ordem imaginada, ou quimera, podemos trabalhar em cima desse eixo condutor e começar nosso BS.

O brainstorming

A ideia é criar um ambiente descontraído que encoraje as pessoas a imaginarem livremente novas coisas e dissolvam os pré-pensamentos. Junte entre cinco e 10 pessoas para discutir um problema específico. No primeiro momento, tente criar uma ordem imaginada que o defina bem, da qual todos se apropriem o máximo possível. Um membro da equipe deverá registrar todos os insights e sugestões. Ninguém deverá julgar qualquer colocação alheia. Depois da sessão, as várias ideias poderão ser visitadas e avaliadas.

Os dois princípios básicos que devem nortear o BS são:

  1. Quantidade ao invés de qualidade. Um navio não poderá navegar em alto mar com uma simples âncora. Não tente resolver um grande desafio com uma simples ideia. Quanto mais ideias forem lançadas, maiores serão as probabilidades de se encontrar boas ideias nesse montante.
  2. Adie os julgamentos. A figura com as retas em vermelho e verde resume o que quero dizer. O julgamento apressado pode sugerir que a reta verde é maior do que a vermelha. Messam e vejam.

Qual é o erro produzido por meu juízo de valor apressado?

Com estes dois conceitos em mente, faça o seguinte:

  • Tenha um tema definido. A ordem imaginada!
  • Abrace as tolices. Portanto, ria mas incentive.
  • Delimite os tempos para cada rodada. O time tem de saber que o tempo é escasso.
  • Conte com um facilitador. Um gerente com um relógio na mão é o suficiente.
  • Trabalhe com um grupo heterogêneo. Quanto mais cabeças, maiores as viagens!
  • Esteja à vontade, mas permaneça vestido.
  • Registre tudo rapidamente. Aqui o importante não é ter letra bonita. Se for mais fácil, use um PC. 
  • Reduza tudo aos princípios fundamentais. Esses são indiscutíveis e formarão a base de suas soluções. Deem uma olhada em Criando inovação através do pensamento por princípios, e vejam o poder desse método.

Finalizando

Para ajudar a “arregaçar” e criar um produto ou serviço fantástico, incluam essas questões matadoras:

  • O que prende a atenção das pessoas?
  • O que as surpreenderiam?
  • O que as chocaria?
  • O que elas adorariam aproveitar?
  • Ao que elas responderiam?
  • A quem elas responderiam?
  • Quem as pessoas admiram?
  • Com quem elas gostariam de falar?
  • Quem elas gostariam de ser?
  • Quem elas gostariam de matar? (Metafóra, galera)

Pronto: o mundo é de vocês. Bom brainchaos!

A coluna Empreendedorismo Inovador é atualizada às quartas-feiras. Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #EmpreendedorismoInovador.

Leia a edição anterior: Market inside Market

Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Gláucio Brandão

2 respostas para “Conduzindo um brainstorming”

  1. Ana Beatriz Melo disse:

    Adorei suas questões, eu reuni alguns gestores públicos de instituições de ensino e apliquei essa técnica. Vamos ver as respostas:

    * O que prende a atenção dos gestores públicos?

    Como garantir maioria na próxima eleição para reitor, diretor, etc. Muitos também disseram que passam boa parte do tempo articulando sobre como destruir novos opositores. Ah, eles também gostam muito de dinheiro, apesar do dinheiro não ser um grande problema no Brasil em termos de ciência e tecnologia:

    https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/falta-de-dinheiro-nao-e-causa-para-o-baixo-impacto-da-ciencia-brasileira-dooda0h7gcggupxheu5j12qnh/

    * O que os surpreenderiam?

    Ver outro gestor público reconhecer que cometeu erros e que vai seguir um novo caminho daqui para frente.

    * O que os chocaria?

    Nada. Todos são devidamente treinados para ignorar tudo que possa contrariar suas manobras nefastas. Nesse treinamento especial, eles comem sapos com maionese – dizem que é muito bom.

    * O que eles adorariam aproveitar?

    Tudo. Eles estão 24h por dia tentando se aproveitar de algo que foi feito por outra pessoa que está trabalhando arduamente na ponta. Na entrevista ao jornal, eles dizem que isso tudo já estava planejado há muito tempo e somente agora que foi possível fazer – graças a eles, claro.

    * Ao que eles responderiam?

    Qualquer determinação do superior hierárquico. Seu cérebro não é mais autônomo.

    * A quem eles responderiam?

    Não importa a pessoa, apenas o conteúdo da portaria que tem o nome dela ou algum favor que ela possa lhe fazer depois.

    * Quem eles admiram?

    Quem aparece na capa de qualquer jornal ou publicação. Entretanto, tem que ser do Brasil pois eles são muito patrióticos. Por exemplo, 80% das pesquisas em educação são desconsideradas pela comunidade acadêmica internacional:

    https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/no-brasil-80-das-pesquisas-em-educacao-sao-desconsideradas-pela-comunidade-academica/

    * Com quem eles gostariam de falar?

    Apenas com quem os idolatra e admira – idependente se merecem ou não.

    * Quem eles gostariam de ser?

    Não sabem porque estão confinados em seu mundo particular. Por exemplo, acreditam que são instituições magníficas mesmo estando abaixo de indicadores da Universidade na última posição no ranking europeu:

    https://graphics.reuters.com/EUROPE-UNIVERSITY-INNOVATION/010091N02HR/index.html

    * Quem eles gostariam de matar?

    Qualquer um que os critique, obviamente.

  2. Gláucio disse:

    Saudações Ana!
    Que bacana. Estou impressionado com seus resultados.
    Isso daria, e dá, um excelente estudo.
    Pensa em investir nessa linha?
    Muito obrigado pelo apoio.
    Grande abraço.

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