Projeto da UFCG de produção e plantio de árvores nativas da caatinga, em Cuité, pretende atender a outros municípios do agreste
Criar uma verdadeira rede de restauração dos biomas do Nordeste. Esse é o sonho da equipe dos professores Carlos Alberto Garcia e Ângelo Kidelman Dantas, do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) que coordenam o Projeto de Reflorestamento do Olho d’Água da Bica do Centro de Educação e Saúde (CES). Criado há dois anos, o projeto inclui atividades de pesquisa, produção de mudas e plantio de árvores nativas nas imediações e dependências do campus da UFCG, no município de Cuité. “Queremos transformar este projeto em programa e atender a outros municípios do agreste em cujas jurisdições estão áreas em processo de desertificação. Isto envolve escolas, governos, pessoas em geral”, reforça Garcia.
De acordo com o professor Garcia, este é um projeto multidisciplinar e ele acredita que não há mais espaço para se trabalhar sozinho porque a ciência e o ambiente são universais, reforçando que cada área do conhecimento está ligada a muitas outras. “Quando pensamos neste projeto, não estávamos pensando só no Horto Florestal Olho D’Água da Bica, mas nas escolas, na comunidade do município de Cuité, na Caatinga no estado da Paraíba. Queremos que outras instituições sejam motivadas a criarem em seus respectivos ambientes uma verdadeira rede de restauração de nossos biomas e façam isso movendo pessoas a participarem desse processo global”, propõe.
Em abril, o projeto ganhou um impulso após a instalação da nova casa de vegetação/estufa agrícola que tem capacidade de abrigar cerca de mil mudas. O material produzido será usado para reflorestar uma área de aproximadamente 70 hectares do CES e do Horto Florestal. “Ainda estamos no começo, mas plantamos do segundo trimestre deste ano para cá 80 árvores nativas”, conta o professor Garcia.
Espécies nativas e em extinção
A produção das mudas começa com as sementes que são coletadas, catalogadas, acondicionadas em laboratório, e em seguida, é feito um reconhecimento das áreas do Centro e do Horto Florestal (Olho d’Água da Bica), onde se pretende plantar. O material é coletado nas áreas preservadas dos municípios de Cuité, Nova Floresta, Picuí, Barra de Santa Rosa, Jaçanã e Coronel Ezequiel, sendo estes dois últimos no Rio Grande do Norte.
No campus universitário da UFCG, em Cuité, estão sendo desenvolvidas 17 espécies, entre elas o Jatobá (Hymenaeae courbari); Craibeira (Tabebuia aurea); Umbu (Spondias tuberosa); Mulungu (Erythrina velutina); Jucá (Caesalpinea ferrea); Barriguda (Ceiba glaziovii); Angico (Anadenanthera falcata); Tambor (Enterolobium contortisiliqum); Pereiro (Aspidosperma pyrifolium) e Cumaru (Dipteryx odorata).
Apesar de não ser uma espécie nativa da caatinga, o Pau-Brasil (Caesalpinia enchicata) – espécie que se encontra em situação de extinção desde o período colonial do país – vem merecendo a atenção da equipe do projeto. Foram semeadas 100 sementes em sacos apropriados para a produção de mudas, as quais foram acondicionadas na nova estufa. “O Pau-Brasil é uma planta da Zona da Mata, entretanto, aqui no Nordeste ela se deu muito bem no agreste. E resolvemos fazer esse plantio por conta da ameaça de extinção”, justifica Kidelman Dantas.
Produção de adubo orgânico
O projeto do Plantio de Mudas é um subprojeto de um projeto maior intitulado Restauração do Horto Florestal Olho D’Água da Bica, aprovado e subsidiado pelo Ministério da Educação (MEC) para o edital PROEXT 2015. O professor Kildeman Dantas conta que os recursos vieram do governo federal para a compra do viveiro e com isso dar início ao trabalho, além de uma estufa de secagem para o Herbário do campus de Cuité, já que era imprescindível conhecer a flora local. “Como gostaríamos muito de auxiliar ao menos alguns alunos que dedicaram seu tempo integral ao projeto e os recursos do PROEXT não foram suficientes, inscrevemos o subprojeto das mudas no programa do PROBEX-UFCG e conseguimos uma bolsa”, informa. Atualmente o projeto conta com oito estudantes, sendo dois bolsistas e seis voluntários, porém, segundo os coordenadores, pouco a pouco vão se incorporando novos estudantes.
Paralelo e complementar ao projeto de produção de mudas, o professor Kidelman Dantas idealizou e propôs uma iniciativa que rendeu outra bolsa de auxílio para um estudante: um subprojeto de aproveitamento dos restos alimentares do Restaurante Universitário para a compostagem, para ser usado no preparo do substrato das mudas. “O trabalho consiste no aproveitamento de restos de vegetais como cascas de verduras e frutas para o preparo de compostos e substratos orgânicos, ricos em nutrientes, para serem utilizados nas atividades de produção de mudas para reflorestamento e adubação das demais plantas distribuídas ao longo do campus”, detalha.
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