Telas infinitas e leds transparentes Ciência Nordestina

terça-feira, 18 junho 2019

A mágica de fazer desaparecer câmeras e sensores da tela do celular é o mais puro exercício de ciência dos materiais

E a luta por espaço nas telas permanece muito forte entre os fabricantes de telefones celulares. Para aproveitar todos os espaços, os fabricantes têm inovado com as bordas infinitas e o design de notches (entalhes na parte superior do telefone que acomodam leds, câmeras e sensores de iluminação).

Para acabar com o notche, uma solução extremamente elegante tem sido esconder a câmera e o fone por trás da tela do telefone. E o curioso de tudo isto é que para viabilizar este esconde-esconde da câmera se faz necessário produzir um dispositivo emissor de luz (led) totalmente transparente. Com isso, ao ser apagado, ele permite com que a luz o atravesse completamente e, portanto, a tela (apagada) funcione como uma lente que permita a captura da imagem via câmera disposta por trás da tela.

A inovação deste processo se dá pelo desenvolvimento de uma nova estrutura de catodos: um led orgânico é formado pela deposição de camadas ativas de polímeros sanduichados entre eletrodos (anodo e catodo). O anodo é normalmente transparente enquanto que o catodo é opaco. Desta forma, seria impossível esconder e fazer aparecer algo por trás da tela. Desenvolver ambos os eletrodos como materiais transparentes permite com que o simples desligar do LED possibilite com que a luz (e, portanto, a imagem) seja capturada pela câmera.

Estratégias para desenvolvimento de eletrodos transparentes são de grande interesse para a ciência, ao permitir com que células solares possam ser flexíveis, transparentes e facilmente incorporadas aos ambientes. A produção de eletrodos à base de nanofios de prata e folhas de grafenos tem mostrado vantagens com relação ao relativamente caro óxido de índio-estanho, que possibilita bom nível de transparência e condutividade elétrica para filmes finos e flexíveis.

E quem diria, a mágica de fazer desaparecer o notche da tela do celular é o mais puro exercício de ciência dos materiais. E o preço de todas as atividades de laboratório que permitiram com que esta realidade se materialize em um dispositivo virá embutido no custo do aparelho celular: alguns milímetros a mais de tela serão algumas centenas de reais a mais. E todos ficarão felizes com seus novos aparelhos celulares, financiando as pesquisas dos países que acreditam que a ciência pode fazer toda a diferença. Sorte deles.

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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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