A saga para inovar no Brasil Ciência Nordestina

terça-feira, 4 junho 2019

Detergente para controle de superbactéria descoberto por pesquisadores da Univasf não encontra empresa interessada em colocá-lo no mercado

A acinectobacter, já bastante discutida nesta coluna, é uma superbactéria que demonstra resistência a diferentes antibióticos. Sua presença em UTI de hospitais tem significado contaminação e morte de pacientes com imunidade baixa.

Como é resistente a diversos tipos de antibióticos, a prevenção toma espaço relativamente ao tratamento. Agentes de limpeza e eliminação da acinectobacter em ambientes críticos (como salas de cirurgia) passam a ser potenciais soluções para enfrentamento desta grave situação.

Foi desenvolvido em meados de 2018 pelos grupos de impedância e microbiologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) um produto que inibe o desenvolvimento da acinectobacter. A ideia foi devidamente protegida por pedido de depósito de patente junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e agora corre contra o tempo para encontrar um mercado interessado em transformá-la em produto comercializável.

Detergente para superbactérias

Já falamos aqui de toda a dificuldade envolvida em patentear um produto… Após esta etapa, no entanto, surge outra barreira ainda mais complexa: a Universidade não tem infraestrutura nem recursos para produzir o material em larga escala – não há como produzir, por exemplo, dez mil litros do material nos laboratórios e iniciar produção comercial. A proximidade entre universidade e empresa neste momento é crítico!

E como inventor, tenho percebido o quão complicado é tocar este processo de aproximação. As empresas não estão, em sua maioria, interessadas em inovar – as novas propostas são recebidas com desconfiança – a cultura de inovação não é regra geral. O inventor que está dentro da universidade depende excessivamente de seu NIT (Núcleo de Inovação Tecnológica) para fazer transferência tecnológica – e o de fora então… Algumas associações prestam serviços aos inventores, mas de forma geral esta aproximação entre mercado e laboratório precisaria ser mais direta, clara.

O fato é que temos um produto que pode salvar vidas e que está à espera de uma empresa que tope seguir uma métrica diferente da equação “quero lucro imediato”.

Este é apenas mais um exemplo do Brasil que faz inovação mas que trava no momento de sair da escala de bancada para a produção em larga escala. E não se fala aqui de um abridor de tampas ou lavador de feijão, estamos tratando de um produto que faz o que os antibióticos não mais conseguem.

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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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