Acorde Neo… Saia da Matrix. Não há mais empregos! Disruptiva

quarta-feira, 29 maio 2019

As futuras gerações terão que criar seus próprios empregos, é o que profetiza o professor Gláucio Brandão. Segundo ele, não há mais espaço para formação em série, profissionais congelados e sem criatividade

Sábado passado, uma bela manhã de 25 de maio, estava eu palestrando no SIMBIOT – I Simpósio de Biotecnologia da UFRN, falando sobre “Como criar startups”. Era para ser uma palestra convencional. Porém, assim que comecei a me envolver com a audiência, imergi pesadamente e a palestra transformou-se em uma performance, de modo que incorporei um personagem. Qualquer semelhança foi “uma forçada” de mera coincidência. Teve que ser assim!

A performance no SIMBIOT: será que Morpheus tem razão?

Depois de falar sobre como criar coisas do zero ou inspiradas no mundo, desenvolver modelos de ideia e de negócios, gerar tração, escalar produtos-processos-serviços e criticar o modelo convencional de universidade, como já descrevi em Inovação: conceito que a Universidade não compreendeu ainda, saquei do paletó e meu velho óculos Persol, que me acompanha há 22 anos – o que mostrou-se um momento hilariante, dado o feedback em altos decibéis que chegou aos meus pavilhões auriculares – para anunciar o óbvio: todos vocês estão virtualmente desempregados.

E concluí: seus pais procuravam empregos. Vocês terão de criá-los!

Os sorrisos, assim como vieram, foram embora! Acho que não gostaram dos óculos!(?)

Performance à parte, não estava brincando. O pós-palestra, aquele momento de silêncio ensurdecedor entre os aplausos (por educação) e o primeiro levantar de mão seguido da primeira pergunta, confirmaram minhas suspeitas: a plateia ainda está na Matrix, vivendo literalmente uma simulação! Querem apostar? Sigam o coelho e mostrarei a vocês…

O Sistema Operacional vigente

Mire uma instituição de formação superior qualquer. Muito bem! Responda-me então: qual o grau de liberdade que você tem para escolher as disciplinas (atualizadas) conectadas ao Mercado, aquelas que trabalharão habilidades em você de modo a te dar competência necessária para solucionar problemas ou sintetizar “coisas” de interesse da Sociedade? Quantas trabalham sua criatividade? Vou responder: zero!

Continuemos. Quantos dos teus, vamos chamar assim, orientadores educacionais possuem experiência de campo ou trocam experiências com essa moçada externa à #TorreDeMarfim, sejam em áreas tecnológicas, sociais etc., e que trazem estas experiências para a sala de aula e, para forçar um pouquinho, fazem o que pregam? Não vou responder para não ter os pneus do carro furados!

As grades curriculares são iguais para todos em um mesmo curso, ou são diferentes? Se são iguais (óbvio, pois são grades!), como formarão pessoas com habilidades diferentes para resolver problemas diferentes do Mundo? Essa eu respondo: habilidades iguais, gerarão competências parecidas que farão com que os viventes lutem por resolverem problemas similares, levando todo mundo a disputar os mesmos espaços, as mesmas vagas, criando um horizonte de oceano vermelho.

No final, todos se sentirão, ou terão de ser, mão-de-obra barata, independentemente da quantidade de “anéis” nos dedos, pois o desemprego entre mestres e doutores é maior do que o dobro do que a população geral. Ou, fazendo uma extrapolação para forçar minha analogia, todos, os que tiverem sorte, seremos “baterias” para alimentar um Mercado de trabalho que vai apresentar apenas vagas lineares, insossas, sem a necessidade de 4.000, 5.000, 6.000 horas da cátedra escolar convencional.

E o agente Smith – não é necessária muita imaginação para saber que refiro-me ao Governo – aquele contra o qual é quase impossível ganhar, não terá piedade de cobrar o imposto devido e garantir, para alguns, a aposentadoria padrão, com a qual teremos, quiçá, a liberdade de decidirmos por remédios de marca ou genérico. E não há muitos “escolhidos” (refiro-me a Neo) por estas bandas!

E, mesmo assim, todos continuam lutando para entrarem e se manterem conectados a este sistema de educação pouco adequado, como se o medo de sair fosse maior do que o de fracassar, torcendo para que algo o faça mudar como que por mágica, e fazendo as mesmas coisas e esperando por resultados diferentes. Parecemos ou não zumbis? Parece ou não a descrição de uma tipo de Matrix?

A “galera” do SIMBIOT despertando da Matrix…

Uma proposta de desligamento da Matrix

Não há mais espaço para formação em série. Em um mundo altamente fluido e conectado, onde todos os saberes navegam em lapsos de segundo de qualquer um para qualquer outro ponto do planeta, não há mais sentido ter profissionais congelados em instituições cujo modelo secular de ensino não prima pela criatividade, pela prática e pelo acerto através de encurtamento do tempo dos erros, como deixei registrado em Precisamos de Estudantes 7.5 .

Utilizamos ainda um modelo guiado por planos de aula fixos de 5 anos. “Ao final da aula, o aluno será capaz de…” fazer qualquer coisa, menos dizer o que fazer com o que foi exposto! Não sabemos nem colher o feedback. Ainda utilizamos provas convencionais, cujo conteúdo, guardado na memória RAM dos alunos, desaparece depois de uma passada no Bar do Thomas! As empresas não buscam mais por profissionais, mas por soluções, como cantei a pedra em Por quem as grandes empresas choram… .

Sendo assim, as autoridades envolvidas com a educação superior têm de olhar para o que acontece lá fora, para onde milhares de pessoas e empresas estão investindo: a formação em campo, os chamados Bootcamps. Já conversamos sobre isso em Bootcamp: aprendizagem intensiva, acelerada e verdadeira em campo. A coisa é tão séria que, pelo menos nas áreas tecnológicas, os “canudos” deixaram de ter importância no Vale do Silício, triunfando as competências, conforme relata este artigo enviado a mim ontem, 27/05/2019, pelo parceiro Lucas Castelo (Evolux-RN), datado de 09/05/2019: Bootcamps de codificação: um vislumbre do futuro da educação? Nossas crianças aprenderão on-line?

Tão vendo? Falei nisso semana passada sem ter conhecimento deste artigo! “Não é acaso. É providência!”, diria Morpheus.

Até quando você vai ficar se enganando?

Assim, enquanto os bootcamps não viram regra, a única forma de diminuir a força do sistema operacional vigente, a Matrix, é tornando-se um app senciente (aplicativo), ou, de forma mais prática, uma startup, pois só elas são capazes de quebrar a Matrix!

Para quem não viu Matrix ainda, deixo aqui as performances impagáveis dos astros Keanu Reeves e Laurence Fishburne. São apenas 5 minutinhos (https://www.youtube.com/watch?v=vcF4wpee_TM).

Referências:

SIMBIOT (http://www.simbiot.com.br/)

Matrix (https://pt.wikipedia.org/wiki/Matrix)

Artigo: Bootcamps de codificação: um vislumbre do futuro da educação? Nossas crianças aprenderão on-line? (https://medium.com/@jstanier/coding-bootcamps-a-glimpse-at-the-future-of-education-9592f2335758).

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Leia a edição anterior: Bootcamp: aprendizagem intensiva, acelerada e verdadeira em campo

Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Gláucio Brandão

8 respostas para “Acorde Neo… Saia da Matrix. Não há mais empregos!”

  1. Leydjane Delmondes Bezerra Brandão disse:

    Há 22 anos quando entrei na UEPB para cursar enfermagem não imaginaria que o futuro seria assim, pelo menos na minha profissão, essa é exatamente a realidade: Não há empregos! Somos muitos, e a cada dia mais recém formados que só ouvem, precisa ter experiência. Temos que nos reinventar.

  2. Thiago Jucá disse:

    O autor Yuval Noah Harari, autor celebrado mundialmente, defende grande parte das ideias do professor Brandão. Também acho que é um caminho inevitável, embora seja muito difícil nos desvinciliarmos dos velhos paradigmas. Excelente texto!

  3. Marcos Amorim disse:

    Parabéns Prof, é a pura realidade!!!

  4. Getúlio Silva disse:

    A realidade brasileira é tão complexa que até as instituições que deveriam agir como promotoras dessa quebra de paradigma também contribuem para impedir que isso aconteça.
    O tal do “modelo CERNE” para as incubadoras nada mais é do que uma Matrix criada por pessoas iluminadas da ANPROTEC. Elas sonham que essa grade (CERNE) DEVE ser o destino das incubadoras no Brasil…kkkk
    O brasileiro é viciado em insistir no erro…

  5. Gláucio Brandão disse:

    Minha querida Leydjane!
    Você validou um experimento em um longo tempo. Acho que não precisamos mais de validações. Não sei o que nossas nobres autoridades precisam mais para começarem a atuar no óbvio.
    Obrigado,
    Gláucio.

  6. Gláucio Brandão disse:

    Salve Getúlio!
    Concordo com você em 101%. As academias, não sei por quais cargas d’agua, continuam criando grades? O CERNE, o qual eu ajudei a implantar em uma incubadora aqui na UFRN, me ensinou tudo o que não deve ser feito. Por isto partimos para outra abordagem.
    Grande abraço.

  7. Gláucio Brandão disse:

    Obrigado Marcos!
    Temos que definir os problemas corretamente para que possamos abordá-los.
    Vamos mudar.
    Grande abraço

  8. Gláucio Brandão disse:

    Pois é, mestre Jucá!
    O historiador Yuval Harari está em “minha cabeceira”. Nenhuma leitura do mundo é tão simples e fidedigna como a desse rapaz. Fico feliz em estar alinhado com ele.
    Grande abraço,
    Gláucio

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