O professor Helinando Oliveira alerta que precisamos ser menos dependentes do petróleo em respeito à continuidade da vida humana no planeta
A humanidade escolheu ser refém dos modismos – em diversas áreas. A mais recente vem da educação ambiental: o mercado (sempre ele) resolveu escolher os canudinhos como os vilões por todo o desmantelo ambiental. Certamente aprenderemos a tomar milk-shake de outra forma, jogaremos menos lixo no mar, menos tartarugas marinhas morrerão por engolir estas coisinhas. Mas os canudos são literalmente uma agulha no palheiro. Deveríamos (junto aos canudos) parar de produzir tampinhas de caneta, sacos plásticos, copos plásticos, caixas plásticas e todo o palheiro tóxico.
O assustado e conservador mercado financeiro já deve saber que é o consumidor quem paga pela inovação. Já pagamos nos supermercados pelas sacolas plásticas. Pagaremos ainda mais se forem biodegradáveis. O fato é que esta dependência com o derradeiro petróleo tem transformado o planeta em um enorme lixão.
O lixão que entope os bueiros e causa alagamentos é o mesmo lixão que cria ilhas artificiais em pleno oceano e que injeta grupos químicos reativos em nosso corpo quando tomamos o bom cafezinho de cada dia no copo descartável.
E neste jogo de vilões (em que o canudinho passa a figurar como peça central) não podemos deixar passar os resíduos tóxicos da mineração – eles que são carinhosamente chamados de lama são, na medida exata de sua existência, a morte em forma líquida. E as barragens continuam a estourar e a matar e destruir toda a forma de vida que ainda está por vir.
A conta para tamanho descaso para o meio ambiente chega apenas para alguns. Primeiro, como sempre, para os anônimos – geralmente os mais pobres. São eles que perdem suas vidas, adoecem, enterram seus sonhos. Já as instituições seguem firmes e fortes, destruindo o resto do que há.
E nossa geração vai aprendendo a conviver com desastres de grandes proporções. A comoção, que antes durava meses, agora é tão curta quanto a hashtag #ForçaOpressor seguida de uma carinha triste. E assim seguimos banalizando a vida, atuando como células do filme Matrix e transformando dor e sofrimento em “curtidas” das redes sociais.
Por vezes achamos que a culpa é de toda espécie humana e que somos de fato a praga que contaminou o planeta terra. Todavia, surge a lembrança de nossos antepassados – os índios brasileiros. Eles não precisavam de canudo para beber a água de coco e nem tão pouco guardavam mercúrio em lagos artificiais. O problema está no modus operandi de nosso mundo globalizado, que prioriza as instituições em detrimento às pessoas.
E contra isso, infelizmente, não adianta apenas proibir canudinhos ou copos. O modo de produção dependente do petróleo precisa ser abandonado em respeito à continuidade da vida humana no planeta. Precisamos voltar às raízes e praticar a verdadeira economia circular.
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Leia o texto anterior: Eletrocêuticos e eletrobactericidas
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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