Pesquisa investiga ecologia da dispersão em floresta cortada por estrada Meio Ambiente

terça-feira, 9 agosto 2016

Artigo científico aborda processo ecológico de dispersão do pequi na Floresta Nacional do Araripe/CE

A preservação e a renovação de florestas depende, entre outros fatores, da dispersão das sementes e esse trabalho é feito por diferentes agentes. Pássaros e roedores são alguns dos responsáveis por esse deslocamento de sementes a partir da sua origem, o que pode garantir a nova geração de plantas. Mas e como se comportam as espécies quando a floresta tem uma via por onde trafegam carros e outros veículos, com intensa ação humana?

O professor do Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), Gilney Charll dos Santos, quis entender o processo ecológico de dispersão do pequi (Caryocar coriaceum) em interação com ações humanas, escolhendo a Floresta Nacional do Araripe (Flona), que fica no sul do Ceará para sua pesquisa. “Com a inserção da variável humana, foi explorado um cenário da ecologia da dispersão que não tínhamos conhecimento”, informa. O professor explica que a ecologia da dispersão é o conjunto de fatores e processos que contribuem para a distribuição e abundância das plantas.

Margem e interior

A pesquisa para o Doutorado em Etnobiologia e Conservação da Natureza, pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) rendeu ainda a publicação do artigo “Caryocar coriaceum (Caryocaraceae) diaspore removal and dispersal distance on the margin and in the interior of a Cerrado area in Northeastern Brazil” (Remoção e distância de dispersão de diásporos de Caryocar coriaceum [Caryocaraceae] de Cerrado no Nordeste do Brasil), no Journal of Tropical Biology and Conservation (Revista de Biologia Tropical).

A pesquisa do professor de Biologia no campus de São Raimundo Nonato partiu da hipótese de que a dispersão não ocorre do mesmo jeito na margem e no interior da floresta. “Esperou-se encontrar maior remoção e maior média de distância de dispersão no interior do que na margem da floresta”, esclarece. Por dois anos consecutivos, foi analisada a remoção (componente quantitativo) e a distância de dispersão (componente qualitativo) do pequi no Araripe.

Diversidade biológica ameaçada

“No primeiro ano de estudo, não foram encontradas diferenças na remoção e na distância de dispersão de diásporos entre os ambientes investigados. Já no segundo ano de estudo, enquanto que o número de diásporos removidos foi maior na margem da floresta, diferenças na distância de dispersão entre a margem e o interior não foram encontradas”, revela o pesquisador. Uma explicação possível para os baixos percentuais de remoção e as pequenas distâncias de dispersão encontradas é a perda local de cutias (Dasyprocta prymnolopha). “Esse animal é o principal dispersor da espécie estudada, o que pode comprometer a manutenção da diversidade biológica na floresta”. Outra observação da pesquisa é que algumas frutas e sementes foram enterradas por um besouro pertencente à ordem dos Coleoptera e à família dos Scarabaeidae, popularmente chamado de “rola-bostas”.

Todas as observações descritas no artigo da Revista e Biologia Tropical referem-se à primeira das três partes da pesquisa. Evidências da sobreexploração da cutia e a possibilidade de rola-bostas terem assumido o papel de dispersores secundários passado do pequi serão tratados em novos artigos científicos, já em processo de revisão por pares e ajustes.

Motivação

Gilney, que teve toda a formação realizada em Pernambuco, explica por que sua pesquisa teve o Ceará como local de investigação. Segundo o biólogo, para quem tem interesse em entender a relação entre as pessoas e os recursos naturais, na perspectiva de processos ecológicos e evolutivos, a região da Floresta Nacional do Araripe tem todas as características necessárias. “É o cenário para uma situação-modelo ideal, que são as ações humanas em interação com o processo ecológico de dispersão de uma espécie vegetal nativa bastante explorada pelas comunidades locais, devido à grande importância socioeconômica e cultural, que é o pequi”.

As atividades de professor e de pesquisador são conciliadas entre as orientações aos projetos dos alunos e as pesquisas em parceria com o Laboratório de Ecologia e Evolução de Sistemas Socioecológicos (LEA) da UFRPE. O professor aguarda o lançamento de editais de pesquisa e extensão pelo IFPI para submeter novos projetos.

O artigo (em inglês) está disponível aqui.

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