A automedicação de antibióticos expõe a humanidade às superbactérias e a um extermínio sem precedentes
O PLS 545/2018 (Projeto de Lei do Senado em análise na Comissão de Assuntos Sociais (CAS)) pretende viabilizar a compra de antibióticos sem receita médica. O argumento de quem defende a proposta é de que a automedicação é aceitável em locais sem assistência médica – para eles, ir à esquina e comprar um antibiótico para tratar uma dorzinha na garganta é algo simples. Na verdade, este procedimento é menos inteligente do que amputar o dedo como solução de tratamento a uma unha encravada.
E segue menos inteligente porque o dedo amputado pertence a quem amputou, enquanto que a resistência bacteriana não é propriedade exclusiva do doente, definitivamente. As bactérias migram e estão presentes em todos e qualquer lugar, elas não precisam de passaporte.
Quando o tratamento com antibiótico é mal conduzido há a possibilidade de que receptores das bactérias sob ataque sejam modificados. Com estas alterações genéticas, estes organismos simplesmente deixam de ser afetados pelo antibiótico, que perde a sua ação. A bactéria então passa a ser resistente àquele medicamento. E como na seleção natural, as bactérias mais frágeis serão eliminadas, enquanto as mais fortes sobreviverão – e reproduzirão. Com isso, mais uma família de superbactérias passará a existir. Esta é uma das consequências do tratamento artesanal à base de antibióticos – se o paciente não tem a medida certa do tempo de tratamento nem da concentração de antibiótico poderá estar selecionando colônias de organismos resistentes.
A questão de resistência a antibióticos é um risco global que tem preocupado autoridades de saúde pública por todo o planeta. Este é também um tema bastante discutido em nossa coluna, como pode ser visto nos textos Detergente para superbactérias, Como saber se tem antibiótico na minha comida e A física das bactérias.
O controle na venda de antibióticos é FUNDAMENTAL para seja freado o avanço das bactérias resistentes. A automedicação de antibióticos expõe a humanidade a um extermínio sem precedentes. Corresponde a ajudar as bactérias a vencerem uma batalha totalmente favorável a elas.
Se o país não consegue oferecer um sistema de saúde à população, que sejam contratados mais médicos. Que mais médicos possam atender a nossa gente em todos os cantos – é disso que precisamos. Se faltam brasileiros, que venham estrangeiros. O Estado não pode desprezar a saúde e a educação de nossa população pobre. Não há autoeducação nem automedicação. Neste último caso, mais antibióticos significa mais superbactérias. E mais superbactérias significa mais mortes.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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