É preciso ter cuidado com aqueles que usam a mecânica quântica como argumentação para tratamentos místicos, enganando inocentes e garantindo lucros
Na década de 80, a moda era o magnetismo comercial. Quem nunca recebeu um vendedor que oferecesse um assento magnético para o banco do carro, ou uma garrafa de água magnetizada, que atire o primeiro fóton. E aqueles imãs desconfortáveis prometiam trazer alívio para dores na coluna, cabeça, febre… Não eram feitos de sebo de carneiro nem tão pouco de óleo de copaíba, mas prometiam verdadeiros milagres.
E o tempo passa, levando consigo avanços tecnológicos e conceituais. Nas telas do cinema já foi mostrada uma visão artística do mundo quântico no qual o homem formiga estava imerso – enchendo sua latinha de “cura quântica”. Com a devida licença poética – a arte cinematográfica tem toda a liberdade para pintar o mundo quântico com as cores que desejar. No entanto, muita gente vem acreditando (e pagando) por métodos deste tipo na vida real.
Neste ponto é importante salientar diversos aspectos: a mecânica quântica é estabelecida em limites muito pouco intuitivos de nossa vida cotidiana. Isso quer dizer que os efeitos quânticos são estranhos ao nosso mundo clássico – macroscópico. Para entendê-los – e ainda mais importante – para explorá-los é necessário conhecer e estudar a fundo a mecânica quântica.
O que percebemos de forma clara é uma grande confusão de conceitos físicos que conduzem as pessoas a acreditar em algo que não tem um significado claro.
Falar em fluxo de energia mental, essência energética, imposição de mãos para deslocamento de frequência natural, componentes eletromagnéticas do pensamento, desbloqueio de ideias (entre outros) é fazer uma salada que mistura conceitos mal definidos com um nível de misticismo que foge completamente das premissas da ciência.
As pessoas buscam a felicidade. E ela, a felicidade, não está ligada à frequência da luz, do som, da energia potencial do corpo… Isso não é quântica e nem tão pouco indício do princípio da incerteza. Ser feliz é ter a capacidade de acreditar que se pode ser feliz. Quando as pessoas se permitem viver felizes, estas entendem que não precisam de nenhuma parafernália quântica.
Tudo pode ser uma simples tarefa de meditação e entendimento sobre o seu papel no universo. Algumas pessoas encontram este entendimento na igreja, na ciência, na natureza, nos outros…
E se para o entendimento deste fator for necessário o aroma da flores, a intensidade e o comprimento de onda de uma luz agradável aos olhos, o toque dos dedos…Que seja! Seja feliz.
Mas daí a usar a mecânica quântica como argumentação para tratamentos místicos… Definitivamente! É importante ter cuidado com os charlatães que usam da inocência alheia para garantir lucros. Eles já venderam imãs que curavam e agora vendem conceitos errados.
Eles ganham a vida vendendo promessas de felicidade barata. Só que a felicidade está dentro de cada um. Ela é real. Basta procurá-la. Sem ferramentas quânticas. Por favor.
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Leia o texto anterior: Happy Noam Chomsky day
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira