Pesquisadores e outros intelectuais debateram problemas e apontaram caminhos para o desenvolvimento do país
O Congresso UFBA 70 Anos reuniu milhares de pessoas nos vários campi da Universidade Federal da Bahia, em Salvador durante os dias 14, 15, 16 e 17 de julho. Durante o evento, pesquisadores, artistas, professores debateram problemas e apontaram os caminhos que estão sendo pensados para promover o desenvolvimento do país.
Mais do que dar as condições para a “UFBA pensar a si mesma”, como propusera o material de divulgação da instituição ao expor o objetivo do Congresso, a oportunidade serviu para dar visibilidade à imensa expertise da comunidade científica brasileira em todos os campos do conhecimento.
A abertura esteve de acordo com o tamanho do evento. A palestra da filósofa Marilena Chauí arrebatou a plateia do Teatro Castro Alves. Em sua fala, Chauí criticou a ideia de uma universidade operacional que se compara à empresa privada. “Nossa ação universitária como ação do saber e da política deve ser o combate em todas as frentes contra a universidade operacional e a ideologia conservadora que a sustenta. Esse combate é o que chamo de luta contra a servidão voluntária.” Um coro de #ForaTemer foi entoado com vigor por cerca de cinco minutos.
Pesquisa no Brasil
A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader e o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Hernan Chaimovich traçaram um panorama da ciência no Brasil.
A internacionalização da Ciência brasileira é a principal porta para o alcance de todas as suas potencialidades. Essa foi a opinião defendida pelo presidente do CNPq em sua apresentação. “A Ciência brasileira deve manter a identidade, mas tem que aprender a pensar em termos mundiais e dialogar com o mundo”, propôs. Além de citar os países sul-americanos, Chaimovich reforçou que é fundamental que os cientistas brasileiros trabalhem em colaboração com cientistas de grandes potências.
Outro fator que limita o avanço científico nacional, e cuja raiz é a mesma da questão anterior, está na verticalização da estrutura da universidade no Brasil. Responsável por praticamente toda a pesquisa brasileira, a universidade ainda é estruturada em departamentos segmentados e resistentes à transdisciplinaridade, sugere o presidente. “Precisamos de uma Ciência de fronteira e de uma inovação radical. Para se chegar nisso, é preciso desverticalizar os departamentos e criar a transdisciplinaridade”, defendeu.
Ampliação dos recursos
Para Nader, apesar do baixíssimo investimento brasileiro, a Ciência tem dado boas respostas aos problemas do país. Enquanto o Brasil investe pouco mais de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em Ciência e Tecnologia, na Coreia esse índice é de 4,5% e Israel supera os 4%. “A diferença é que em Israel, a origem dos recursos fica na proporção de 25% do governo e o restante é das empresas”, pontuou lembrando que no Brasil não há tradição de investimento privado no setor.
Sobre o movimento que reivindica a volta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (#voltaMCTI), fundido com o Ministério das Comunicações pelo governo interino, a presidente da SBPC se colocou a favor da luta, mas lembrou que é preciso conversar com o governo, “porque a vida continua e as coisas continuam acontecendo”, explicou. Na sua opinião, a grande questão não é apenas a volta do MCTI, mas isso tem que ocorrer em bases diferentes, com ampliação dos recursos. “Atualmente, os recursos são inferiores ao que foi aplicado em 2013”, garantiu.
Apesar de reconhecer avanços na estrutura da Ciência no país, a professora criticou o que ela chamou e viver de soluço. A inconstância e até redução do financiamento da pesquisa no Brasil gera situações anacrônicas. “Temos o Santos Dumont, o supercomputador do LNCC, que não está funcionando ou funcionando na capacidade mínima porque não se tem dinheiro para pagar a conta de luz”. Nader refere-se ao equipamento instalado no Laboratório Nacional de Computação Científica, ligado ao MCTIC em 2016, o maior da América Latina, com capacidade para realizar 1,1 quatrilhão de operações por segundo. Para funcionar, o supercomputador necessita de três geradores, uma subestação e uma sala de nobreak. O orçamento anual previsto para a manutenção da máquina é de R$ 8,1 milhões, segundo a diretoria do LNCC em entrevista ao G1.
A íntegra do discurso de Marilena Chauí está disponível no site do Congresso: http://www.congresso.ufba.br/?
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