Magnetita – a pedra mágica Ciência Nordestina

terça-feira, 16 outubro 2018

Da orientação magnética dos pombos à otimização de processos e produtos pela ciência

Na Grécia, mais especificamente na Tessália, há uma região chamada Magnésia – que no grego antigo significa “Lugar das pedras mágicas”. Estas pedras, com o poder de se atraírem mutuamente sempre chamaram a atenção da humanidade. Primeiro, pela possibilidade de construir bússolas… Depois, pela constatação intrigante de que se continuarmos a quebrá-la, sempre haverá um novo polo norte e um novo polo sul para cada nova pedra.

Diferentemente das cargas elétricas, em que a carga positiva pode ser separada da carga negativa, no imã ainda não foi possível provar experimentalmente que o norte pode ser separado do sul – como diz a física – o monopolo magnético ainda não foi descoberto. Se fosse, e pudéssemos trabalhar com cargas magnéticas teríamos uma infinidade de novas aplicações…

Até as equações de Maxwell poderiam ser simplificadas a apenas uma equação. Poderia ter sido esta a única frase dita por Deus no momento do estalar de dedos. Não confundam com Thanus, por favor. Falo de Deus, o observador fundamental – aquele que pode ter estalado os dedos, piscado os olhos, dito Fiat Lux ou qualquer outra frase, antes de iniciar o Big Bang. Algo ele fez… E isto afetou todo o resto. Inclusive essa nossa mania de querer encontrar a Equação Fundamental.

Voltando para a magnetita… Quando falo em quebrar a magnetita, crio inevitavelmente o vínculo com a nanotecnologia. No laboratório não pegamos uma marreta e saímos quebrando tudo. Não. Fazemos uma reação química entre ferro II e ferro III e pronto!! Está feito o óxido de ferro cúbico (Fe3O4) fortemente magnético com aplicações múltiplas. A depender das condições de preparação, estas partículas podem ter diâmetro na escala de micrometros ou mesmo nanométricas (na escala do bilionésimo do metro).

O uso de nanopartículas magnéticas (estas nanocoisas mágicas) tem aberto horizontes extraordinários na ciência. Sua aplicação em remediação ambiental, por exemplo, tem permitido que contaminantes sejam removidos de águas residuais por meio de campo magnético externo. Na mesma direção, o uso de sistemas de liberação de fármacos com ação induzida por campo magnético é outra importante aplicação das nanopartículas, sem falar ainda dos ensaios para detecção rápida de doenças como a malária, dengue hemorrágica, entre outras.

E assim, da mesma forma que a natureza adaptou seus sistemas para usar as “pedras mágicas” com a orientação magnética dos pombos, a ciência vem se apoiando nestas estruturas para permitir com que processos e produtos sejam otimizados.

É esta mimetização fascinante que permite com que possamos sempre nos reinventar, usando a inspiração que veio do espaço, dos meteoros, fazendo-os penetrar no ínfimo de uma célula para transformar a vida das pessoas.

Viva a magia da ciência.

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Leia o texto anterior: Dia das crianças é dia de fazer ciência

Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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