Pesquisadores estudam os efeitos do aquecimento global no desenvolvimento de filhotes de pássaro
Olá a todos. Eu dou uma disciplina na UFRN chamada “Ecologia, Evolução e Desenvolvimento”, ou ECO-EVO-DEVO. E nela, os alunos tem que produzir um texto de divulgação científica, como os que escrevo por aqui. Então, de vez em quando vou convidar um aluno para publicar seu texto no Nossa Ciência. Agora é a vez do Joaquim Bruno Cruz Neto, aluno do curso de Ciências Biológicas.
Está quente lá fora! Os efeitos do aquecimento global no desenvolvimento de filhotes de pássaro.
“Leve um casaquinho, está frio lá fora. Não esqueça o guarda-chuva, vai chover hoje! Passou protetor solar? Não vá se queimar. ” Quem nunca escutou um conselho desse tipo vindo da mãe? É um comportamento comum dos pais proteger seus filhos e prepará-los para mudanças nas condições ambientais. Mas, só se pode fazer isso quando seus filhos já estão crescidinhos, certo? Um estudo feito por um grupo de pesquisa australiano mostra que não.
A equipe percebeu que certos pássaros, conhecidos como “mandarins” cantam para seus filhotes enquanto estes ainda estão nos ovos, durante o período de incubação, e somente quando as temperaturas estão altas, acima de 26oC. Foi observado que mesmo quando completamente sozinhos com os ovos os pais entoavam um canto completamente único, que não era utilizado em nenhuma outra situação.
Estes cientistas queriam saber se o canto dos pais poderia ter algum efeito sobre o desenvolvimento dos filhotes. Para testar isso, fizeram um experimento em que dois grupos de ovos foram chocados artificialmente, um deles foi exposto ao canto e o outro não. O primeiro grupo de ovos gerou filhotes que se desenvolviam mais devagar e se tornaram adultos menores. O segundo grupo gerou filhotes de crescimento rápido que vieram a ser adultos grandes.
Após acompanhar o desenvolvimento dos filhotes, os cientistas entenderam o motivo da diferença causada pela “canção do calor”. Outras pesquisas já demonstraram que pássaros menores têm mais facilidade em dissipar a temperatura corporal e “manter a cabeça fria” em ambientes mais quentes. Pássaros maiores e mais pesados tem um organismo que produz mais calor, logo, teriam problemas com lugares que apresentam temperaturas mais elevadas.
Outros estudos também indicam que desenvolver um corpo grande é mais difícil e custoso em ambientes muito quentes. O que tornaria a mudança no crescimento da prole uma estratégia evolutiva dos pais para garantir que as próximas gerações tenham as melhores chances de sobrevivência em um cenário de aquecimento.
Ainda não se sabe como exatamente o canto dos pais afeta o organismo em desenvolvimento dos filhotes. Pode ter algum tipo de influência hormonal ou mesmo estar relacionado com marcadores genéticos. De qualquer forma, esses resultados podem explicar a tendência global das populações de pássaro em diminuir o tamanho dos seus indivíduos. Vários estudos prévios já demonstraram essa tendência e tem tentado ligar essa mudança ao aquecimento global. Linhas de pesquisa como está podem ajudar a entender como as mudanças climáticas afetam as estratégias adaptativas das espécies e como essa e outras espécies respondem a essas mudanças.
Referência:
Mariette, M.M., Buchanan, K.L. (2016) Prenatal acoustic communication programs offspring for high posthatching temperatures in a songbird. Science, 353: 812-814.
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Eduardo Sequerra
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