Descoberta foi feita na Chapada do Araripe e contou com equipe de pesquisadores do nordeste e de Mato Grosso do Sul
A mais nova espécie de sapo reconhecida pela ciência habita o Crato, no Ceará − mais precisamente a Chapada do Araripe −, se reproduz e vive nos riachos de água corrente e emite uma voz muito original quando em atividade de sedução. Seu nome é Proceratophrys ararype e sua ‘Certidão de Nascimento’, publicada neste mês (setembro de 2018), no jornal Herpetologica, consiste no artigo liderado pela professora Sarah Mângia, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), em uma colaboração com as Universidades Federais de Pernambuco (UFPE), do Cariri (UFCA) e do Rio Grande do Norte (UFRN).
O anfíbio, de três a cinco centímetros de comprimento, apresenta, a partir de análise do DNA e da morfologia externa, características familiares aos sapos amazônicos; parentesco esse “que evidencia um passado em que a Floresta Amazônica se estendia até região do Araripe”, segundo o professor do curso de Ciências Biológicas e líder do Laboratório de Herpetologia da UFPE, Pedro Nunes. Foi durante duas expedições de campo com alunos das suas disciplinas de graduação (Chordata 2 e Biologia Animal 3) que Nunes e equipe encontraram parte dos espécimes usados para identificação e descoberta da nova espécie.
Catalogado com a sigla CHUFPE 156, o Proceratophrys ararype é o primeiro holótipo, ou seja, espécime único utilizado como modelo para a descrição da espécie, que foi descoberto e depositado na Coleção Herpetológica da UFPE, se tornando, assim, um parâmetro e o portador do novo nome. “Embora não seja tão incomum a descoberta de novas espécies de sapos, esta é relevante do ponto de vista da conservação, pois ressalta que aquela área, conhecida pelo alto endemismo (com espécies que ocorrem em um único local), tem um contexto extremamente importante”, alerta Pedro Nunes.
Ameaça
Nem bem foi descoberto e o novo sapinho cearense já pode estar correndo riscos. Segundo o professor e pesquisador da UFPE, por apresentar hábitos ligados aos riachos de água corrente e esse ser um ambiente que sofre ações antropogênicas, seja para suprir necessidades básicas ou recreação, é muito provável que, em pouco tempo, se torne mais difícil registrar sua ocorrência.
“Ao possibilitar que se identifiquem seus hábitos, a descoberta e a catalogação de uma espécie nova viabilizam estudos de várias áreas do conhecimento, e permitem, por exemplo, que se verifique a importância de uma região e se decida por defini-la como área de proteção”, afirma Nunes, que reforça: “Todo e qualquer animal é insubstituível no ciclo ambiental, seja para suas presas, seja para seus predadores.”
Destino: coleção conta com mais de mil exemplares
A Coleção Herpetológica da UFPE (CH-UFPE) foi criada no final de 2013 e vem crescendo rapidamente em número de espécimes e de espécies nos últimos anos. Atualmente com 1 mil exemplares já incorporados e aproximadamente outros 1 mil aguardando incorporação, a coleção tem em seu acervo anfíbios, lagartos, serpentes, tartarugas e crocodilianos, principalmente da Mata Atlântica e Caatinga do Estado de Pernambuco, mas também de estados vizinhos como Paraíba, Ceará e Alagoas, além de espécimes amazônicos frutos de expedições ao Amapá.
O acervo da CH-UFPE é acessado por pesquisadores da própria UFPE e de outras instituições de ensino e pesquisa do país, através de visitas técnicas e empréstimos interinstitucionais, além de servir como instituição depositária do material fruto de trabalhos de análise de impacto ambiental e monitoramento da fauna silvestre, associados a empreendimentos da construção civil.
A coleta dos animais na Chapada do Araripe, que culminou com a introdução de um novo exemplar na Coleção, se deu em expedições didáticas nos meses de dezembro de 2014 e outubro de 2015. Após o exame para identificação realizado pela professora e orientadora na Pós em Biologia Animal na UFMS, Sarah Mângia, seis exemplares dos animais estão conservados em álcool na Coleção Herpetológica da UFPE, entre machos, fêmeas e jovens. “Essa diversidade permite compreender as variações dentro de uma mesma espécie”, explica o professor Pedro Nunes.
Fonte: Ascom da UFPE
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